Aproxima-se a data do julgamento da liminar que impediu a japonesa Kirin de tomar o controle da Schincariol, comandada por dois grupos diferentes de primos que não se entendem sobre a venda de parte da empresa. O julgamento deve ocorrer em 27 de setembro ou no dia 11 de outubro, na Câmara Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo. Mas, segundo apurou o Valor, seja qual for o resultado, a Kirin vai colocar na mesa uma proposta de compra das ações dos minoritários. Se desembolsar proporcionalmente o mesmo valor que pagou pela Aleadri, dona de 50,45% da Schincariol, a Jadangil, que detém os demais 49,55%, pode receber R$ 3,88 bilhões.
No início de agosto, a Kirin pagou R$ 3,95 bilhões para levar a Aleadri, e logo na sequência foi impedida judicialmente de assumir a Schincariol, segunda maior fabricante de cervejas do país, que deve faturar pouco mais de R$ 6 bilhões este ano. Com a liminar obtida pela Jadangil - dos irmãos José Augusto, Daniela e Gilberto Schincariol Júnior -, a Kirin teve que manter Adriano Schincariol (ex-sócio da Aleadri, ao lado do irmão Alexandre) na presidência da companhia.
Para levar à frente o negócio e permitir que os japoneses tomassem o controle da fabricante, Adriano chegou a oferecer a presidência para o primo Gilberto, que não aceitou. Agora, a Kirin quer discutir o assunto a seu modo e garantir de vez um lugar de destaque no terceiro maior mercado mundial de cervejas.
Em meio às divergências, os únicos dois primos que têm cargos executivos na empresa, Adriano e Gilberto, têm procurado se concentrar em um problema comum: a perda da fatia de mercado da Schincariol (que está entre 10% e 15% do volume total, dependendo da pesquisa). O fato ocorre especialmente no Nordeste, região onde a presença da marca Schin é mais forte e onde a principal concorrente, a Ambev, dona de mais de dois terços do consumo de cerveja no país, tem reduzindo os preços da Skol para ganhar espaço.
Com um problema sobre o outro, não é difícil imaginar o quanto os nervos estão à flor da pele na sede da Schincariol em Itu, a 102 quilômetros de São Paulo. A tensão, porém, não é de agora. Segundo apurou o Valor, começou em dezembro do ano passado, quando Adriano informou Gilberto que estava disposto a vender a empresa.
O então controlador sabia que não tinha cacife suficiente para competir com a AB Inbev, dona da Ambev e líder absoluta no mercado mundial de cervejas. Há pelo menos três anos, a Schincariol vinha investindo menos do que deveria para acompanhar o crescimento do mercado e corria o risco de ver a sua participação ser engolida pela concorrência. Gilberto perguntou qual era o preço.
Adriano contratou o banco BTG para avaliar a fabricante e prospectar interessados. Em abril, Adriano informou o valor ao primo: entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões. Gilberto reclamou do preço, mas disse que iria procurar recursos para comprar a parte de Adriano e Alexandre. Enquanto isso, a Aleadri foi oferecida ao mercado e algumas das maiores cervejarias mundiais realizaram due dilligence na fabricante: SABMiller, Heineken, Diageo e Kirin. A proposta dos japoneses, ligeiramente inferior ao que Adriano almejava, acabou sendo a melhor.
Do lado da Jadangil, nenhuma proposta foi feita. Quando tomaram conhecimento do negócio da Aleadri, os primos minoritários entraram com um pedido de liminar na 1ª Vara Cível da Comarca de Itu, para suspender os efeitos da venda à Kirin.
Gilberto Júnior é o mais incomodado com o negócio. Com apenas 28 anos, o executivo é o mais jovem do clã dos Schincariol. Alexandre é o mais velho, com 37, e Adriano tem 35 anos. As decisões na Schincariol nos últimos seis anos, desde a contratação da consultoria McKinsey para desenhar a governança da companhia, foram tomadas por Adriano e Alexandre. Mesmo que o assunto fosse submetido à assembleia, com a participação dos primos da Jadangil, a palavra dos controladores da Aleadri imperava. Agora, os minoritários resolveram ir à forra. Resta saber até que ponto.
Veículo: Valor Econômico