Bordeaux é a maior Appellation d''Origine Controlee (AOC) da França, com 120 mil hectares de vinhedos. Esta área está subdividida em 57 AOCs e representa cerca de 15% da área de vinhedos da França e 1,5% da área mundial. A produção é de 89% tintos e 11% brancos, e ronda os 600 milhões de litros. Este volume representa cerca de 20 vezes o total da produção brasileira de vinho fino. Há em Bordeaux perto de 9,5 mil viticultores e 43 cooperativas. Hoje, somente cerca de 50% do volume de vinhos produzidos em Bordeaux são engarrafados pelos próprios produtores. O restante é vendido a granel a negociantes.
O grande volume e valor deste comércio e a existência de grupos distintos de produtores e negociantes gera muitos nomes e regras, que complicam os rótulos de Bordeaux. Faremos um passo-a-passo do caminho de um vinho: Caso 1 - O Château X possui vinhedos todos legalmente existentes dentro de uma determinada AOC. O Château X produz seu próprio vinho, o engarrafa e comercializa. O rótulo trará o nome do Château X e os dizeres "mis en bouteille au château" ou "mis en bouteille a la propriété".
Caso 2 - Château X produz e engarrafa seu vinho, mas não o comercializa, mas vende-o a um ou vários negociantes. Neste caso, nada muda no rótulo. Este é o caso da maioria dos Grand Crus Classés. Caso 3 - O Château X decide vender seu vinho a granel a negociantes. O negociante A compra o vinho e, se não o misturar a outros e simplesmente amadurecê-lo engarrafá-lo e comercializá-lo, o rótulo dirá "Château X", "mis en bouteille par Negociante A".
Caso 4 - O Château X decide vender seu vinho a granel para o negociante A. O negociante A compra mais vinho do Château Z, também com vinhedos na mesma AOC do Château X. O negociante A mistura estes vinhos. Neste caso, o rótulo trará um nome de marca (que não poderá ser o nome do château) e "mis en bouteille par Negociante A".
Estas nomenclaturas não tem relação com o fato de um vinho ser ou não exclusivo de um importador no Brasil. Isso é uma opção comercial, que pode tornar o vinho em questão mais atraente, já que existe um natural interesse dos importadores em comercializar seus rótulos exclusivos, que compram em maior quantidade, geralmente negociando melhores preços e girando mais em seus estoques.
Em destaque, rótulos exclusivos. Château Pindefleurs 2003 (Terroir, R$ 180, 88/100). St-milion Grand Cru. Nariz muito elegante, boa fruta, fresca, limpa e bem definida, amoras, ameixas, baunilha, caramelo, tostados, alcaçuz, carvalho bem discreto, fundo mineral de terra. Médio a bom corpo, taninos muito finos e macios, textura aveludada, boa acidez, ótimo equilíbrio, longo. Château La tour de By 2005 (Decanter, R$ 135,70, 88/100). Médoc, Cru Bourgeois. Fruta madura, doce e bem definida, cerejas, amoras, frescor herbáceo, baunilha, alcaçuz, chocolate, fundo mineral. Médio corpo, taninos finos, boa acidez, chama atenção pela elegância e equilíbrio. Esprit de Clocher 2004 (Wine Premium,R$ 150, 88/100). Pomerol. Frutas negras maduras, cassis, amoras, ameixas, especiarias, baunilha, pimenta e toque vegetal. Médio corpo, taninos doces, macios, finos, acidez equilibrada, longo e pronto. Moderno, frutado, sem perder a tipicidade e elegância dos Pomerol. Clos Floridene 2004 (Casa Flora, R$ 90, 87/100). Graves, especiarias, cravo, pimenta, couro, frutas negras, fundo vegetal e mineral. Médio corpo, taninos finos secos, boa acidez que dá elegância, equilíbrio e longevidade. Estilo tradicional, muito bem elaborado e equilibrado.
Veículo: Gazeta Mercantil