Governo vai elevar carga tributária do setor de 17% para 20,8%, a partir de outubro
Quarta maior cervejaria do País e terceira do mundo, a holandesa Heineken está adiando seus investimentos. A decisão, que é seguida por outras empresas do setor de bebidas frias, está relacionada à determinação do governo federal de aumentar a carga tributária da indústria.
O novo aumento nos impostos prevê um porcentual mais alto do que o aplicado em 2011 (cerca de 20,8%, contra 17% do ano passado), com vigência a partir de outubro. As empresas, porém, esperam reverter a resolução, embora o decreto já tenha sido publicado no Diário Oficial.
"O setor de bebidas é muito sensível a preço. No ano passado, quando houve o reajuste nos impostos, tivemos que repassar os custos aos valores finais, o que culminou em uma queda de 2% no volume vendido de cervejas no ano passado (dados do instituto Nielsen)", diz o vice-presidente de Relações Corporativas da Heineken Brasil, Paulo Macedo, à Agência Estado.
Ele explica que, além do novo aumento, o volume vendido pode ser prejudicado também pela desaceleração da economia e pelo aumento do custo de produção por causa do dólar (60% do custo das cervejarias são na moeda, por causa da importação de matérias-primas).
"Neste ano, os preços dos itens já estão em elevação, porque precisamos repassar nosso custo em dólar. Mas estamos dentro do limite. Se houver novo aumento na tributação vai haver novo repasse. Nos produtos da Heineken, com certeza. E isso prejudica venda em volumes", afirma, lembrando que, até maio, o volume vendido de cerveja no País já caiu 1,6% ante o mesmo período do ano passado. "Isso acende um sinal vermelho para todas as empresas do setor."
Macedo, que também é presidente da Associação Nacional da Indústria da Cerveja (CervBrasil), não cita o montante que a companhia havia separado para aportar durante este ano, mas os investimentos fazem parte dos R$ 7,9 bilhões de todo o setor de bebidas frias.
Um exemplo é a ampliação de uma linha de produção em Araraquara (SP) - que começará suas atividades em agosto. A obra teve início em setembro de 2011 e recebeu aporte, na época, R$ 30 milhões. "Hoje estamos todos inseguros com o futuro. Posso dizer que temos, atualmente, capacidade suficiente para a demanda. Então, não existe aumento de capacidade produtiva para 2012", declara o executivo. A CervBrasil reúne as quatro maiores cervejarias do País (Ambev, Petrópolis, Schincariol e Heineken).
Entretanto, Macedo tem cartas na manga para quando o mercado der sinais de melhora. "No momento em que acharmos que o Brasil está pronto queremos trazer, por exemplo, a nossa sidra. Não é a sidra que encontramos no Brasil, que segue a linha de espumante. Ela é uma bebida próxima da cerveja (near beer), produzida com maçã e malte", diz. Segundo ele, a bebida representa hoje 10% do volume de vendas na Heineken em países como Inglaterra e França, tem graduação alcoólica igual a da cerveja e proporciona margens maiores, por ser de um valor mais alto. "A sidra pode tirar alguns consumidores de ice, por exemplo", destaca o vice-presidente.
Expansão. A Heineken chegou ao Brasil em maio de 2010, por meio da compra da divisão de cervejas da Femsa e herdou da companhia mexicana as marcas Kaiser e Bavaria. Hoje, é a quarta maior cervejaria do País, com participação de 8,64% (dados da Nielsen de maio). Em entrevista recente ao Estado, o presidente da empresa, Chris Barrow, disse que "não gosta de ainda estar no quarto lugar".
Para expandir mais rapidamente sua atuação no País, a Heineken chegou a entrar na disputa pela Schincariol em 2011, que acabou sendo vendida para a japonesa Kirin.
Questionado sobre o interesse da empresa no Grupo Petrópolis, o único com 100% capital nacional, Macedo afirma que "a Heineken está aberta para aquisições." "Tudo depende de alguns fatores: se a matriz vai determinar o Brasil como foco de aquisições; o preço do 'alvo', que hoje achamos que os valores disponíveis no mercado estão superinflacionados por conta do potencial do crescimento da cerveja no País e o cenário macro, que hoje não está muito favorável."
Apesar de um ambiente adverso, a empresa segue confiante após dois anos de atuação no País. "Esse período foi de segmentação da atuação da Heineken no mercado nacional", diz Macedo. A Kaiser ganhou uma nova identidade visual, nova fórmula, e centrou sua atuação em algumas de regiões do Sul, Norte, Nordeste, Centro Oeste e Manaus (AM) e para os consumidores das classes C e D. "Antes a marca não tinha foco e a tiramos das capitais. Não 'matamos' a marca, porque aqui ela vende 7 milhões de hectolitros/ano, mais do que o mercado inteiro de Portugal, por exemplo (6 milhões de hectolitros/ano)", explica o vice-presidente, informando que, há dois anos, a participação da Kaiser era de 4,7% em 2011 e agora está em 5%.
Já a Bavaria, que tem 2,5% de participação, segue com foco no público do mundo sertanejo e nas principais cidades do interior de São Paulo, Paraná, Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo. A Heineken pega "carona" no crescimento do segmento premium, que ainda é de 5% do volume total de cervejas vendidos no Brasil, contra 15% na Argentina, 16% na Venezuela e 35% na Inglaterra. "Entre 1999 e 2010 vendíamos 6 milhões de litros de Heineken por ano. No primeiro ano de Heineken Brasil, o volume cresceu 117%. Em 2011, a expansão foi de 87% e neste ano já estamos apresentando crescimento acima de 70%", destaca Macedo.
Veículo: O Estado de S.Paulo