Após comemorarem a redução da alíquota do IPI, produtores dizem que , com a obrigação de usar 50% do néctar, os consumidores terão de pagar mais caro.
Os fabricantes de sucos levaram um novo susto dias atrás. Após o governo determinar que o néctar de laranja comercializado no país (em caixinhas e em garrafas) tenha 50% de suco da fruta em sua composição, o setor viu a medida se estender para o néctar de uva.
Para o setor, a decisão é vista como “um tiro no pé”. É que após o governo federal zerar, em junho deste ano, a alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que incide sobre os néctares — o que ajudou a alavancar as vendas — a nova medida vai reduzir drasticamente o retorno das empresas.
João Caetano, presidente da Ebba, dona das marcas Maguary e Da Fruta, acredita que o cenário encontrado pelo setor será “catastrófico”. “Nossa visão é a pior possível. A medida exclui uma segmentação [opção de bebidas com maior ou menor concentração de suco de fruta] e coloca barreiras para a questão da saúde, podendo prejudicar inclusive a venda dos produtos light. É umtiro no pé”, destacou. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os fabricantes terão seis meses para adaptar os produtos, que hoje contam com pelo menos 30% de suco ou polpa da fruta. Segundo Bernardo Medina, coordenador substituto da área de Vinhos e Bebidas do ministério, a determinação surgiu porque o Decreto nº 99.066/1990 exige que os derivados da uva e do vinho tenham necessariamente 50% ou mais da fruta e não cita especificamente o caso do néctar. “Além disso, o padrão internacional para esse tipo de produto é com a porcentagem de 50%”, acrescenta.
Surpreso com a medida, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir), Herculano Anghinetti, ressaltou a estranheza da nova decisão já que o setor não foi consultado pelo ministério sobre a mudança. “Estamos surpresos e o consumidor será penalizado”, alertou.
Caetano, da Ebba, vai além. O executivo considera que as mudanças podem causar uma “rejeição” aos néctares. “No Brasil, a bebida à base de fruta é sensível ao preço. As vendas podem despencar e a indústria não deve conseguir repassar o aumento no produto, o que será bastante prejudicial para as empresas”. Enfrentando omesmo problema, William De Angelis Sallum, diretor geral da Wow, dona da marca SuFresh, confirma a previsão do presidente da Ebba, e afirma que será difícil repassar para os consumidores o novo custo. “Os sabores de laranja e uva representam quase 50% das vendas de suco no país. Vamos entrar no período de verão e não vemos a possibilidade de aumentar o preço apenas desses dois produtos. A medida de ampliar a concentração de suco no néctar para 50% vai impactar em muito o custo”, destacou.
Sallum acredita que a decisão do governo vai além do padrão internacional e frisa que a mudança vai ajudar a reduzir os problemas de grande estoque da laranja, mas que, no caso da uva a situação pode se tornar problemática. “O setor pode encontrar problemas na hora de comprar suco, já que não sabemos se o país possui produção suficiente.” De acordo com dados do Mapa, a produção de uva no país ocupa 81 mil hectares,comdestaque para o Rio Grande do Sul por contribuir, em média, com 777 milhões de quilos de uva por ano, e os pólos de frutas de Petrolina (PE) e de Juazeiro (BA), no Vale do São Francisco, responsáveis por95% das exportações nacionais de uvas finas de mesa.
Panorama
De acordo com dados da consultoria Euromonitor, o mercado de sucos brasileiros movimentou no ano passado cerca de US$ 3,58 bilhões, dos quais só o segmento de néctares foi responsável por US$ 1,96 bilhão. A Coca Cola Brasil, dona da marca Del Valle, informou que a mudança do percentual mínimo de suco “vai implicar na necessidade de reformulação de alguns produtos da linha de néctares, visando o enquadramento ao novo Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) definido pelo Ministério da Agricultura.”
De acordo com a empresa, a matéria-prima ‘suco’ representa o maior custo envolvido na formulação de bebidas à base de frutas, como os néctares e os refrescos. “Esta alteração do PIQ traz um forte impacto aos custos do setor industrial como um todo; entretanto, ainda estamos avaliamos internamente os possíveis desdobramentos para a nossa linha de néctares.” Já a Danone Brasil, fabricante do Activia, ressaltou que “cumpre cumpre a regulamentação vigente e reitera o respeito às determinações das autoridades competentes.
Veículo: Brasil Econômico