Basta uma volta no centro de Boituva (SP), cidade de 48 mil habitantes a 116 quilômetros da capital paulista, para perceber a onipresença da Petrópolis. Qualquer bar, restaurante ou lanchonete é patrocinado por Itaipava, Crystal ou Lokal, marcas da cervejaria, que tem sede na cidade. Até os freezers dos estabelecimentos dão destaque para um refrigerante desconhecido da maioria do público, o it!, produzido pela Petrópolis. A fabricante de bebidas, porém, está disposta a fazer com que o raio de influência das suas principais marcas vá muito além de Boituva.
A empresa está empenhada em conquistar presença nacional com a construção de fábricas em diferentes Estados e regiões do país; pretende fortalecer sua marca no ponto de venda a partir da distribuição própria dos seus produtos, eliminando a figura do distribuidor; quer aumentar o portfólio de não alcoólicos, que hoje representa menos de 3% do faturamento, que deve ser de R$ 4,7 bilhões este ano, valor 24% superior ao de 2011. Está em curso ainda um projeto de internacionalização das suas marcas, começando pelo energético TNT. Segundo a Petrópolis, essas mudanças devem fazer com que as vendas em volume cresçam 11% este ano, contra uma expectativa de 3% para o mercado de cervejas.
O Sul do país é o novo foco de atenção da Petrópolis, que nos últimos dois meses anunciou seu desembarque no Nordeste com a construção de fábricas em Itapissuma (PE) e Alagoinhas (BA). "A nossa próxima fábrica estará sediada em um dos Estados do Sul", afirmou ao Valor Douglas Costa, diretor de marketing e relações com o mercado da Petrópolis. A empresa acaba de iniciar a venda na região por intermédio de um distribuidor, sediado no Paraná.
Até 2016, segundo Costa, mais uma unidade fabril será anunciada, em um Estado ainda a ser definido. "Com isso, teremos oito fábricas e 80% de presença nacional", diz o executivo. Hoje, a empresa é dona de quatro fábricas em três Estados, com capacidade de produzir 2,5 bilhões de litros ao ano.
Com Itapissuma e Alagoinhas, a produção da Petrópolis vai crescer 48%. O desembarque no Nordeste está consumindo R$ 1,6 bilhão em investimentos que, segundo Costa, são "um misto" de recursos próprios, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e bancos privados. Desse valor, R$ 400 milhões são destinados à formação de um sistema próprio de distribuição, que começa a operar antes das fábricas (que entram em atividade entre 2013 e 2014). "Com isso, conseguimos ter controle efetivo do que chega até o varejista e trabalhar melhor a exposição das nossas marcas nos pontos de venda", diz Costa.
Nas demais regiões, a empresa também decidiu assumir a distribuição direta, inclusive para grandes redes como Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour, antes atendidas por distribuidores. Hoje, a venda se concentra no Sudeste e Centro-Oeste do país, por meio de 130 distribuidores exclusivos, cada um responsável por uma área. "Estamos estudando essas áreas para decidir em quais vamos assumir a distribuição", diz Costa. A empresa analisa a compra de todo o processo, desde caminhões e equipamentos até a contratação de pessoal. Este ano, a distribuição em Mato Grosso já se tornou própria.
A tendência, diz o executivo, é que a Petrópolis elimine a figura do distribuidor na maioria das localidades e tenha o controle sobre todo o processo. Hoje, a empresa cobre 90% dos 400 mil pontos de venda das suas áreas de atuação. "Mas esse índice de eficiência poderia ser melhor com a distribuição própria", afirma Costa, ressaltando que a entrega no ponto de venda é fundamental para a conquista de "market share" no mercado de bebidas.
A Petrópolis trava hoje uma disputa intensa com a Schincariol pela vice-liderança da venda nacional de cervejas. De acordo com a última leitura Nielsen, do mês de julho, ambas estão empatadas com 10,7% de participação em volume, muito atrás da Ambev, que concentra cerca de 68% do volume total. De acordo com o Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), que mede o envase diretamente na fábrica, no entanto, a Schincariol tem cerca de 15% de participação e, a Petrópolis, 12%. "Com oito fábricas, poderemos consolidar a vice-liderança do mercado", acredita Costa.
Mas para isso é preciso também mexer no portfólio de não alcoólicos, uma vez que os principais concorrentes trabalham com um mix bem mais amplo. A Schincariol, por exemplo, tem água e refrigerante Schin e sucos Fruthos, enquanto a Ambev tem o guaraná Antarctica e distribui o portfólio da Pepsi. A Heineken, por sua vez, é oferecida com o mix da Coca-Cola. "É difícil chegar ao ponto de venda só com água e refrigerante", diz Costa, que promete lançar uma nova categoria de não alcoólico até o fim do ano. Nesse sentido, vale até aquisição, diz o executivo.
Fora das cervejas, o grande trunfo da Petrópolis é o energético TNT, que já conquistou o terceiro lugar no segmento, atrás de Red Bull e Burn. A marca iniciou este ano o patrocínio à escuderia Ferrari. "O vínculo com a Fórmula 1 foi criado pensando na internacionalização do energético TNT", diz Costa. Este ano, a bebida começa a ser vendida na China e na Rússia. "Vamos levar algumas das nossas marcas também para a América Latina", diz Costa, sem dar mais detalhes.
Este ano, a empresa aumentou em 45% a verba de marketing, para R$ 162 milhões. Parte dos recursos é empregada para reposicionar a cerveja Lokal, antes restrita ao Rio de Janeiro e que começa a ganhar outros mercados, como São Paulo. "Nas regiões onde as três marcas forem oferecidas - Itaipava, Crystal e Lokal -, a Lokal será a de preço mais competitivo, 15% a 20% abaixo de Itaipava", diz Costa.
Controlada pelo empresário Walter Faria, a Petrópolis já foi por duas vezes alvo de investigação por sonegação de impostos. A mais recente foi em maio, na Operação Czar. Havia suspeita de sonegar R$ 600 milhões. Segundo a empresa, a juíza Heloisa Helena Franchi Nogueira Lucas, da 2ª Vara Criminal de Boituva, arquivou o processo 402/2012 por ausência de provas. Costa faz questão de destacar que, só este ano, a Petrópolis vai pagar R$ 800 milhões em impostos. "Isso é quase sete vezes o que a empresa paga de salário para os seus 3.282 empregados diretos", afirma. Segundo ele, a folha salarial anual é de R$ 115 milhões.
Veículo: Valor Econômico