Bebidas: Companhias vão combinar processos de compras para cortar custos, em estratégia que pode ameaçar Coca
Um acordo incomum entre PepsiCo e Anheuser-Busch, a subsidiária nos Estados Unidos da maior cervejaria do mundo, colocou em evidência uma aliança mundial em desenvolvimento que poderia acabar ameaçando a posição da Coca-Cola como maior companhia mundial em vendas no setor de bebidas.
PepsiCo e Anheuser-Busch anunciaram na terça-feira à noite um acordo para cortar custos de forma conjunta, combinando seus processos de compra de produtos como computadores e material de escritório (entre outros não diretamente relacionados à produção de bebidas).
As companhias não detalharam a previsão de cortes de custos. Analistas do setor, contudo, disseram que o acordo reflete a crescente relação estratégica entre os refrigerantes e salgadinhos da PepsiCo e os produtos da AB-InBev, cervejaria de abrangência mundial criada pela InBev após a aquisição da Anheuser-Busch por US$ 52 bilhões.
Matthew Webb, da corretora Cazenove Securities, afirmou que qualquer economia decorrente do acordo provavelmente seria mais "proveitosa" do que "substancial". O acordo "poderia levar a mais ilações de que as duas companhias poderiam acabar se fundindo ou, pelo menos, desenvolver laços mais próximos", destacou.
Antes da aquisição promovida pela InBev em 2008, a PepsiCo já possuía relações separadamente tanto com a InBev, cuja subsidiária AmBev distribui seus refrigerantes na América Latina, como com a Anheuser-Busch.
Vários distribuidores independentes locais nos EUA trabalham com os refrigerantes e sucos da PepsiCo e com as marcas Budweiser e Michelob, da Anheuser-Busch. Além disso, a divisão de engarrafamento da PepsiCo é uma cliente importante da Metal Container, subsidiária da cervejaria que produz e recicla latas de alumínio.
Os laços da PepsiCo cada vez mais próximos com a maior cervejaria do mundo contrastam com a estratégia da Coca-Cola, de focar-se apenas nos refrigerantes.
O analista Carlos Laboy, do Credit Suisse, prevê uma maior tendência de parcerias nos setores de refrigerantes e cervejas e afirma que o acordo para aliar os departamentos de compras da PepsiCo e da AB-InBev "deverá dar à Coca-Cola mais um motivo para parar e pensar sobre a prudência de distanciar ainda mais" seu sistema do segmento das cervejas. "O legado da Coca-Cola de objeção à integração entre cerveja e refrigerantes é obsoleto", afirmou. "Desafia a realidade do mercado, a lógica e o fato de que a PepsiCo e ABI [AB-InBev] estão cada vez mais próximas."
Analistas do Credit Suisse ressaltaram que haverá um desafio estratégico à Coca-Cola no México, onde seu principal sócio de distribuição na América Latina, a Femsa, negocia a venda de suas operações de cervejas tanto com a SABMiller como com a Heineken. A situação cria uma oportunidade em potencial para a Coca-Cola estabelecer uma aliança com a SABMiller, segunda maior cervejaria do mundo.
A SABMiller possui, desde 2006, um empreendimento conjunto na Austrália com a Coca-Cola Amatil, uma das maiores engarrafadoras do mundo da fabricante de refrigerantes. O principal executivo da Coca-Cola, Muhtar Kent, tem familiaridade com o setor cervejeiro, já que trabalhou seis anos como presidente do grupo turco de bebidas Efes Beverages.
Parceria no Brasil
Há 12 anos a PepsiCo e a AmBev, subsidiária brasileira da AB-InBev, mantém um acordo no Brasil. Desde 1997, a AmBev (na época ainda Companhia Cervejaria Brahma) e suas 29 fábricas no país produzem toda a linha de bebidas frias da PepsiCo, o que inclui os refrigerantes Pepsi, o H2OH!, as bebidas mistas Frutzzz e os chás prontos Lipton. A companhia brasileira também é responsável pela distribuição e comercialização das bebidas da PepsiCo. A linha Gatorade, apesar de fabricada pela PepsiCo, também é distribuída pela AmBev.
Veículo: Valor Econômico