De olho no mercado de espumantes, empresas do RS investem em tecnologia e na ampliação de unidades industriais.Enquanto as vendas de espumantes nacionais cresceram 20% neste ano, o consumo da bebida importada diminuiu
O espumante brasileiro está borbulhando: conquistou o consumidor no país e ganhou projeção internacional. De olho no crescimento desse mercado, as vinícolas do Rio Grande do Sul, Estado responsável pela produção de 90% dos vinhos brasileiros, investem em tecnologia, na modernização dos equipamentos e na ampliação de unidades industriais.
De acordo com levantamento feito pela Folha, mais de R$ 40 milhões estão sendo investidos pelas vinícolas neste ano. Após empenho na fabricação de vinhos tintos e brancos, agora o foco está nos espumantes e também no suco de uva.
O espumante brasileiro é considerado de excelente qualidade e tem recebido premiações no mundo todo. Um dos dados que mostram essa melhora da qualidade da bebida é o ritmo das vendas. A comercialização no mercado interno cresceu 20% neste ano até agosto sobre igual período de 2008, enquanto o consumo de espumantes importados, mesmo com a queda do dólar, acumula retração de 22% até junho -último dado disponível.
Na opinião de Mauro Zanus, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e diretor de degustação da ABE (Associação Brasileira de Enologia), os espumantes brasileiros já despontam com boa imagem no mercado e têm boa competitividade ante os importados, diferentemente dos vinhos tintos. Devido a essa vantagem dos espumantes, "a indústria percebe esse movimento e direciona os investimentos", diz Zanus.
De olho nesse consumo crescente e em busca de novos mercados, o Grupo Famiglia Valduga criou a Domno, empresa voltada principalmente para a fabricação de espumantes, pelo método "charmat" (em que a bebida envelhece em tanques de aço inoxidável e o custo é mais baixo que no método "champenoise", o mais tradicional, em que o envelhecimento é feito na garrafa). A nova linha de espumantes foi batizada de Ponto Nero.
Segundo Jones Valduga, o administrador da Domno, os investimentos da empresa para montar a fábrica e operar, que incluíram a compra das antigas instalações da Domecq, foram de R$ 10 milhões.
Butique
Já a Cooperativa Vinícola Aurora realiza um projeto audacioso. Ela está transformando o seu centro tecnológico de viticultura, com vinhedos experimentais, no distrito de Pinto Bandeira, em Bento Gonçalves, em uma vinícola-butique para a elaboração exclusiva de espumantes pelo método "champenoise". Serão 15 hectares de parreirais exclusivos de uvas chardonnay e pinot noir.
O diretor-geral da Aurora, Alem Guerra, diz que estão sendo investidos R$ 6 milhões nas adequações do vinhedo e na instalação de equipamentos.
O vinho ainda é o grande volume de produção da cooperativa. Mas Guerra vê uma tendência cada vez maior de o brasileiro passar a consumir mais espumante. "O principal promotor do vinho brasileiro tanto no mercado interno como no externo será o espumante."
Apesar de estarem crescendo, os embarques brasileiros ainda são pequenos se comparados aos de outros exportadores. Atualmente, os produtos brasileiros podem ser encontrados em mais de 20 países. A Vinícola Miolo, que acaba de comprar a Almadén, também investe no mercado de espumantes. Ela aplicou R$ 5,5 milhões em equipamentos para a fabricação da bebida pelo método "champenoise". Todo o processo será automatizado.
Dois processos que são feitos manualmente serão acelerados: o "remuage" (girar a garrafa para levar a levedura para a boca do recipiente), que será substituído por máquinas chamadas giropaletas; e o "dégorgement" (processo que expulsa a borra congelada), que também será automatizado.
Para ter uma ideia do efeito dessa automação, enquanto no processo manual se levam de 30 a 40 dias para a bebida ficar pronta, no novo serão apenas três dias, no cálculo da vinícola.
Segundo Adriano Miolo, enólogo e diretor técnico da vinícola, a empresa é a primeira a ter esse tipo de equipamento no Brasil. Com esse investimento em tecnologia, dentro dos próximos cinco anos, a vinícola irá quase triplicar a produção de espumante pelo método "champenoise", para 1,5 milhão de garrafas, diz o enólogo.
A aposta da vinícola não é só na demanda crescente, mas também na busca do consumidor por uma bebida de qualidade superior. "O brasileiro vai passar a notar a diferença entre um espumante feito pelo método "charmat" e outro pelo "champenoise'", diz Adriano Miolo. Os tradicionais champanhes franceses são feitos pelo método "champenoise".
O custo de produção de um espumante feito pelo método "champenoise" é de 30% a 50% maior que o pelo "charmat".
Inovação
Seguindo a linha de inovação tecnológica, a Vinícola Garibaldi investiu R$ 4 milhões principalmente na produção de espumantes, com a compra de equipamentos para envase, armazenamento e filtração. Um dos equipamentos mais modernos adquiridos neste ano pela vinícola é o filtro tangencial, que tem um sistema de filtragem que melhora a qualidade dos espumantes.
Segundo o diretor-presidente da Vinícola Garibaldi, Oscar Ló, a demanda crescente pelo produto nacional vem da conscientização do consumidor. "O brasileiro está começando a conhecer melhor o vinho nacional. Ele está percebendo que nem todo importado é bom."
Já a Vinícola Salton está investindo no aumento das instalações, incluindo obras civis, equipamentos e tancagem. Até o fim deste ano, serão empregados R$ 15 milhões para a expansão da produção de espumante, suco e vinho fino, segundo Antônio Salton, superintendente da vinícola.
Com o foco no suco de uva natural, a Vinícola Perini está ampliando a produção. "Não estávamos preparados para atender a demanda tão grande de suco e espumante. Agora estamos adequando a nossa capacidade", diz Franco Onzi Perini, gerente comercial.
Segundo ele, a empresa irá investir neste semestre R$ 1,5 milhão em instalações, como tanques, e tecnologias para a fabricação de suco de uva. Paralelamente, a vinícola espera dobrar a capacidade de produção de espumante no próximo ano.
No campo
Fora das unidades industriais, as vinícolas demonstram estar cada vez mais preocupadas com a qualidade das uvas. A Casa Valduga é uma das que estão investindo nos parreirais.
A vinícola está importando da França mudas certificadas da variedade merlot -um investimento de R$ 400 mil neste ano, segundo João Valduga. A empresa também aplicou R$ 1 milhão na infraestrutura do restaurante e da pousada.
Veículo: Folha de S.Paulo