Raça girolando foi criada no Brasil com o objetivo de garantir rusticidade à holandesa, se consolidou e já representa 80% da produção leiteira nacional
Uma raça altamente produtiva, mas bastante vulnerável ao clima e a outras características tropicais. Pouco ambientado o gado holandês não apresentava no Brasil a mesma resposta na produção em comparação com os animais criados nos países europeus. Por isso, no início dos anos 1940 criadores da raça deram início ao cruzamento da espécie com outras, mais adaptadas às condições tropicais. Depois de algumas tentativas, o gir foi definido como o melhor par e criou-se o girolando, principal raça leiteira do Brasil, responsável por aproximadamente 80% da produção nacional. Para discutir o desenvolvimento da raça no país, criadores e especialistas se reúnem, de quinta-feira até sábado, em Araxá, no Alto Paranaíba, no 1º Congresso Brasileiro da Raça Girolando. Essa é a maior prova de que o mestiço deu certo e ganhou status.
A raça que surgiu do cruzamento entre uma raça europeia com uma zebuína (de origem indiana) mostrou-se resistente inclusive às altas temperaturas de regiões quentes do país, como o Norte de Minas, e atualmente,produtores atestam que sua vida produtiva pode ser duas ou três vezes maior que a da holandesa, considerada raça de maior produção leiteira do mundo. Outro ponto positivo do girolando é o custo. Segundo o diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Adolfo José Leite Nunes, é característica do holandês movimentar-se pouco, sendo assim necessário alimentá-lo no cocho, com ração. O confinamento obriga também o uso de ventilador e de tecnologia para aumentar a umidade, melhorando as condições climáticas para o gado. Enquanto isso, apoiado na maior “rusticidade” do gir, o girolando alimenta-se no pasto. “Ele produz menos leite (que o holandês), mas o custo-benefício é muito melhor”, afirma o diretor da associação, em referência ao menor gasto para produzir o animal cruzado com o gir.
A maior resistência e adaptabilidade da raça brasileira enche os olhos de criadores em outros cantos do mundo e também no Brasil. Atualmente, 90% das cabeças do girolando estão na Região Sudeste, mas é crescente o interesse pela raça. Segundo Adolfo Nunes, estados do Centro-Oeste e do Nordeste têm procurado comprar sêmen de touros girolando. “Quem quer tirar leite no Brasil tende a escolher o girolando”, afirma. No exterior também já se tem registro de criadores na Venezuela, África do Sul, Angola e Canadá.
Na Fazenda do Curtume, em Inhaúma, na Região Central de Minas, o pecuarista Luciano Teixeira de Melo cria cerca de 250 cabeças de girolando, que diariamente produzem 1,8 mil litros de leite. A composição preferida dele são os chamados meio-sangue (50% de gir e 50% de holandês) e os 3/4 (75% de holandês e 25% de gir). “São mais comerciais e produtivos”, afirma o fazendeiro. A opção para o cruzamento entre os dois, segundo Melo, é para driblar a curta longevidade do holandês. “A vida útil do girolando pode ser maior, chegando a 10 anos ou mais, enquanto o holandês sangue puro produz só até os cinco anos”, diz, explicando que, quanto mais alta for a concentração de sangue da raça holandês maior será a produtividade.
GENOMA O 1º Congresso Brasileiro da Raça Girolando deve abordar principalmente temas voltados à discussão técnica e científica do gado. Um dos assuntos de principal interesse dos criadores é a finalização do estudo do genoma do girolando. Prestes a ser concluído, o trabalho deve ser usado como uma ferramenta para direcionar os caminhos da raça no país, evitando-se assim erros de avaliação por parte dos criadores. Segundo Adolfo Nunes, atualmente, o único estudo neste formato pronto no Brasil é o da raça nelore, que entre outros atributos permitiu apontar como obter um padrão de carne mais macia.
Veículo: O Estado de Minas