Com seus papéis pressionados negativamente na bolsa e alavancada, a Marfrig Alimentos anunciou no domingo uma medida que pareceria improvável há pouco mais de um ano para a empresa que cresceu graças a aquisições: decidiu vender o negócio de serviços de logística especializada para redes de fast food de sua subsidiária Keystone Foods, que atende EUA, Europa, Oriente Médio, Oceania e Ásia.
O negócio, que envolve especificamente serviços e ativos voltados ao McDonald's e não inclui a logística de produtos fabricados pela Keystone, será vendido por US$ 400 milhões para a americana The Martin-Brower Company, L.L.C., focada em logística. O valor será pago na conclusão da operação, prevista para o último trimestre do ano, segundo a Marfrig.
O presidente da Marfrig, Marcos Molina, disse que a decisão de vender o negócio já havia sido tomada no primeiro trimestre deste ano e não está relacionada às recentes perdas que a empresa teve na bolsa, onde o valor de suas ações caiu 34,42% desde 5 de agosto passado, conforme cálculos do Valor Data. Isso ocorreu depois que a gestora de recursos GWI, que no fim de junho chegou a ter 9,6% do capital da Marfrig, desmontou suas posições alavancadas na companhia.
No comunicado enviado ao mercado, a empresa diz que a "a venda desses ativos de logística permitirá à Marfrig e à Keystone Foods focarem estrategicamente em seu negócio principal de proteínas e alavancarem sua grande competência global em carnes bovina, suína, de aves, de peixes e em produtos elaborados".
"Estudamos o negócio e avaliamos até a possibilidade de criar uma subdivisão, abrindo o capital na bolsa, mas decidimos vender porque não é o 'core' da companhia", afirmou Molina. Ele reconheceu que os US$ 400 milhões vão reforçar o caixa da Marfrig, que no fim de junho deste ano estava em R$ 3,97 bilhões. Os recursos poderão ser usados como capital de giro ou para pagamento de dívidas, de acordo com Molina.
Questionado se a empresa poderia vender alguma outra operação, Molina disse que isso só seria possível no caso de um ativo que não seja "core" da empresa. Ele também repetiu que não há nenhuma operação de apoio do BNDES sendo negociada. O braço de fomento do banco tem 13,89% do capital da Marfrig.
A Marfrig comprou a Keystone Foods em junho do ano passado, por US$ 1,26 bilhão. A aquisição foi financiada com a emissão de R$ 2,5 bilhões em debêntures conversíveis em ações, subscritas pelo BNDES. No início da semana passada, a empresa anunciou a criação da Keystone Foods América Latina, resultado da união dos negócios de food service das divisões Seara e Bovinos Brasil da Marfrig.
A Keystone, que tem operações nos EUA, Nova Zelândia, Austrália, países da Europa, Ásia e Oriente Médio, foi uma das mais importantes aquisições da Marfrig ao lado da Seara. Desde 2006, a Marfrig comprou 18 empresas no Brasil e no exterior por R$ 7 bilhões. Além dessas aquisições, no primeiro semestre também anunciou joint venture de sua subsidiária Keystone com duas empresas da China, a Cofco e a Chinwiz. No primeiro caso, a parceria é na distribuição no país asiático - mantida mesmo com a venda anunciada ontem. A joint venture com a Chinwiz é no processamento de aves.
A Marfrig encerrou o segundo trimestre com receita líquida de R$ 5,32 bilhões, 49,6% mais do que os R$ 3,56 bilhões do mesmo período de 2010 e prejuízo de R$ 91 milhões. No segundo trimestre do ano passado, tivera um lucro líquido de R$ 103,8 milhões. O lucro antes de juros impostos e depreciação (Ebtida) foi de R$ 277,8 milhões. A dívida líquida da companhia no fim do segundo trimestre era de R$ 6,385 bilhões, acima dos R$ 6,145 bilhões do período anterior. Com isso, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) ficou em 3,90 vezes ante 3,59 vezes no primeiro trimestre deste ano.
Veículo: Valor Econômico