As exportações chinesas invadem o mundo praticamente inteiro, esta é a percepção dos analistas de comércio exterior consultados pelo DCI. Somente nos seis primeiros meses deste ano a entrada de produtos chineses somou US$ 14.740 bilhões, um incremento de 37,38% frente ao mesmo período de 2010, quando registrou US$ 10.761 bilhões.
Heitor Klein, diretor executivo da Associação Brasileira de Calçados (Abicalçados) alertou para o domínio dos chineses no principal parceiro comercial do setor, a Argentina, enquanto os brasileiros sofrem restrições. Hoje, as empresas chinesas estão crescendo sua participação no mercado vizinho. "De janeiro a junho deste ano os calçados vendidos no país já representam 50,2% de fabricantes asiáticos, enquanto para os parceiros do Mercosul (Brasil, Uruguai e Paraguai) somam 49,8%." E completa, "quando nós fizemos o entendimento de limitação de pares, a Argentina nos assegurou a preferência para os produtos brasileiros e não está acontecendo, seria 70% para o Mercosul e 30% para terceiros países, como a China."
Na visão do analista Francisco Cassano, "o governo brasileiro relata que os chineses estão dominando o mercado argentino, por exemplo, no lugar dos produtos brasileiros, contudo, os chineses também estão invadindo nosso mercado. Ninguém fala disso, todos ficam atentos ao mercado que o brasileiro perde, mas e o mercado que nossos parceiros estão perdendo no Brasil por conta das vendas chinesas, que são mais competitivas do que quase a totalidade do globo?"
Frente a este alerta dos setores produtivos brasileiros, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, anunciou: "vamos proteger o mercado interno, nem que para isso precisemos utilizar ao máximo as medidas autorizadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), como antidumping, sobretaxas e outros."
Para o presidente da Associação das Empresas de Comércio Internacional (Aeci), Paulo Camurugi, muito diálogo entre os parceiros comerciais seria a solução para frear a entrada de importados chineses, principalmente em parceiros estratégicos para economias, como é o caso da Argentina e do Brasil.
"Os ministros da Argentina e Brasil ficaram de promover reuniões mensais para tentar resolver este conflito. Vamos aguardar a reunião", diz Camurugi. Além disso, ele afirmou que com o anúncio do Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDP) o País deve alavancar as vendas ao mercado mundial por meio do aumento da competitividade.
"Pelo que foi colocado no programa e divulgado nas mídias, o PDP deve alavancar as exportações e aumentar a competitividade de fato dos produtos brasileiros", disse Camurugi.
Mario Quinto Di Cameli, diretor da OEM Comércio Exterior, a questão da invasão chinesa é proveniente da falta de competitividade decorrente da conjuntura cambial. "Hoje temos que diversificar a nossa pauta de exportações em diversos setores como de serviços, alimentos, autopeças e material de construção para não perdermos mercados e não fecharmos as nossas portas", diz.
Segundo Quinto Di Cameli, mesmo com esta realidade atual (enxurrada de produtos chineses no mundo) a China gerou uma migração de classes internamente, numa proporção muito maior do que as mudanças do Brasil, assim, "as exportações de produtos básicos para o crescimento e produção deles devem crescer ainda mais, e o Brasil tem a vantagem de cumprir os acordos sem dilatação nos prazos, ou seja, mais rapidamente, assim abre-se uma oportunidade para o Brasil se inserir agora."
No primeiro semestre de 2011 o saldo comercial entre o Brasil e a China está superávitário para nós, com US$ 5.303 bilhões, valor é superior ao acumulado de todo o ano passado, US$ 5.191 bilhões.
O mesmo ritmo de crescimento é visto nas exportações e nas importações, desta forma, a corrente de comércio cresceu 43,57% na análise do primeiro sementre deste ano (US$ 34.783 bilhões) frente ao mesmo período de 2010 (US$ 24.228 bilhões).
Veículo: DCI