Crédito no país deve ter menor alta em 10 anos

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Financiamento em bancos privados ficou praticamente estagnado no início do ano

SÃO PAULO — Apesar do esforço do governo e dos bancos públicos para estimular a atividade econômica com o aumento da oferta de crédito para o consumo e investimentos, os financiamentos bancários patinam e devem fechar 2013 com a menor taxa de expansão em dez anos. De janeiro a abril, o volume de empréstimos desembolsados pelos bancos públicos cresceu 6,3%, enquanto que entre os bancos privados o avanço foi de módico 1,02%, menos da metade do registrado nos quatro primeiros meses de 2012, quando a alta fora de 2,2%. Se descontada a inflação do período, de 2,5%, a concessão de crédito encolheu nas instituições privadas. Os dados são do Banco Central, que amanhã divulga o relatório de crédito relativo a maio, que, segundo os especialistas, deve confirmar a perda de fôlego dos financiamentos.

Em sua Pesquisa de Projeções Macroeconômicas e Expectativas de Mercado, divulgada no último dia 12, a própria Febraban, entidade que representa o setor bancário, reviu para 15,5% a projeção de crescimento do crédito em 2013. Baseada em dados coletados com 29 bancos, essa mesma pesquisa, em dezembro de 2012, apontava para uma alta de 16,2% para o crédito ao longo de 2013. O levantamento da Febraban, porém, foi feito entre os dias 7 e 11, antes portanto da piora do cenário econômico da última semana, agravado pela disparada do dólar depois da indicação do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) de uma provável reversão na política monetária ainda este ano, e onda de manifestações pelo país na última semana.

Movimentos que, na avaliação dos analistas, tendem a puxar ainda mais para baixo essa expansão dos financiamentos. Álvaro Bandeira, economista e sócio da Órama Investimentos, estima que o crédito este ano crescerá entre 14% e 15%, na melhor das hipóteses. Ou seja, no melhor cenário ainda estaria abaixo dos 15,2% de alta de 2009, ano em que a "marolinha" da crise internacional fez o PIB brasileiro encolher 0,3%. E será também o menor patamar desde 2003, ano em que o dólar disparou, os juros foram às alturas e o mercado de crédito brasileiro cresceu apenas 8,8%:

— E essa alta, entre 14% e 15%, no máximo, deve ser puxada principalmente pelo crédito direcionado (imobiliário, agrícola e infraestrutura) concedido pelos bancos públicos, pois os bancos privados ainda ajustam suas carteiras à alta da inadimplência nos últimos dois anos.

No BB, crescimento menor


Mesmo entre os bancos públicos, a postura já é mais cuidadosa quanto às expectativas de avanço de suas carteiras de empréstimos. Aldemir Bendini, presidente do Banco do Brasil, que no início do ano divulgou ao mercado projeção de expansão entre 16% e 20% para a sua carteira de empréstimos no ano, afirmou há duas semanas que a tendência é atingir o centro dessa meta, ou seja, 18%. É uma taxa respeitável, mas em clara desaceleração: no balanço do primeiro trimestre, o saldo da carteira do BB era 24,6% maior que o do fim de março de 2012.

E a aposta dos executivos do BB para sustentar essa alta passa ao largo do crédito ao consumo: eles trabalham com crescimento mais forte dos financiamentos para infraestrutura e agronegócio.

— Com o fraco desempenho do crédito no primeiro semestre e as condições ainda mais adversas das últimas semanas, está cada vez mais difícil sustentar um crescimento acima de 15% no crédito este ano — diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

Inadimplência está acima de 5% nos privados

Entre os bancos privados, a apreensão é maior. A prioridade é o ajuste das carteiras à inadimplência, que na média segue acima dos 5% (entre os públicos o calote atinge 2% dos financiamentos). Para isso, as instituições seguem seletivas na hora de liberar empréstimos, tanto para pessoas físicas quanto para empresas.

— Existe um ajuste para baixo na curva de oferta e demanda de crédito, seja pela excessiva cautela dos bancos privados, seja pelos consumidores, que estão mais retraídos. Quem tenta manter a alta do mercado são os bancos públicos, via crédito direcionado, com juros baixos para setores específicos — diz Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin Rating.

Diferentes do BB e da Caixa Econômica Federal, cujo saldo de empréstimos em março era 43% maior que um ano antes, bancos privados como o Itaú Unibanco e o Bradesco já operam num ritmo bem mais moderado. No primeiro trimestre, a carteira do Itaú era apenas 6,9% maior que um ano antes, enquanto a do Bradesco crescera 10,4%. No Santander, terceiro maior banco privado do país, o avanço era ainda menor: 6,2%.

A mudança de postura do Banco Central, que tem enfatizado que os juros subirão tanto quanto for necessário para trazer a inflação, hoje acima dos 6,50%, de volta ao centro da meta de 4,5%, é um obstáculo a mais na visão dos analistas para os bancos alcançarem as taxas de expansão dos empréstimos projetadas ao mercado.

Como a disparada do dólar deve pôr ainda mais pressão sobre os preços, está cada vez mais difícil também para os bancos projetar a evolução de suas carteiras de financiamentos. Nas últimas semanas, segundo Santacreu, da Austin, um grande banco decidiu não mais fornecer aos analistas projeções para o crédito:

— Os executivos não querem se comprometer com algo sobre o qual não têm qualquer certeza. De um mês para cá o cenário mudou muito, o BC voltou a falar em subir os juros para controlar a inflação e o câmbio disparou.

Como a economia não dá sinais de recuperação, entre as empresas, a disposição para tomar crédito também anda tímida. A prioridade, agora, é buscar proteção contra a alta do dólar.

Para complicar o cenário, as manifestações que tomaram as ruas de centenas de cidades do país adicionam mais incerteza aos planos das empresas.

— A agenda para as empresas encolheu. Hoje é de curto prazo. E pelo que sentimos, os grandes bancos estão mais preocupados em preservar a qualidade das carteiras — diz Santacreu.



Veículo: O Globo – RJ


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