A produção da indústria têxtil e de confecção deve voltar a crescer no ano que vem, mas dificilmente vai superar os níveis observados em 2008. A previsão é do presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Aguinaldo Diniz Filho. Lima disse que está otimista com a retomada do crescimento da renda e dos empregos no País, mas afirma que o setor está perdendo competitividade no mercado externo.
Nos dez primeiros meses do ano, a produção física do setor acumulou queda de 9,1% na comparação com igual período do ano passado. "O setor teve um 2008 muito bom, mas o impacto da crise sobre o consumo e os estoques elevados fizeram com que a indústria freasse a produção no primeiro trimestre de 2009", disse o executivo. "A partir do segundo trimestre, com o aumento da renda e dos empregos, o consumo voltou a aumentar. O setor têxtil é muito vinculado à renda."
Por outro lado, a balança comercial do setor continua a se deteriorar e deve fechar o ano com um déficit de US$ 2,3 bilhões, 15% maior do que o de 2008. Para o presidente da Abit, o câmbio e os pesados incentivos governamentais continuam a favorecer os exportadores e a indústria da China. "Em 2005, último ano em que tivemos superávit, a China exportava apenas 4% e o Brasil, 45% do que a Argentina importava. Hoje, a China tem 24% e o Brasil, 26%", exemplificou.
Diniz Filho disse que, ao perder um mercado importador, o setor precisa de até quatro anos para reconquistá-lo. "É lamentável, porque a indústria brasileira é muito competitiva, tem matéria-prima, tecnologia, design, mas precisa ser eficiente também fora da fábrica. Se não tivesse uma moeda tão desvalorizada, um custo de mão de obra tão baixo e tantos incentivos, a China não conseguiria competir com o Brasil", assegurou.
Segundo ele, o mercado interno até poderia absorver o excedente não exportado, mas o câmbio também facilita a entrada do produto chinês no Brasil. "O real já se valorizou 30% em relação ao yuan e 35% em relação ao dólar este ano. Não sei qual é a taxa de câmbio de equilíbrio. O Goldman Sachs disse recentemente que é R$ 2,60, mas não sei se é factível. De todo modo, afirmo categoricamente que não é R$ 1,70", sentenciou o executivo.
O presidente da Abit comentou ainda a elevação dos preços do algodão no mercado internacional. Nesta semana, a commodity atingiu a maior cotação em 14 meses na Bolsa de Nova York. Para Diniz Filho, trata-se de um movimento sazonal. "Acredito que em breve os preços retornarão para o patamar médio histórico", previu. "De todo modo, essa alta vai ser positiva no sentido de estimular o produtor a plantar mais este ano."
Sua expectativa é de que os produtores plantem pelo menos 40 mil hectares a mais do que o previsto atualmente - em seu último relatório, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previu um cultivo de até 805 mil hectares, 4% menor do que o registrado no ano passado.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ