Um jordaniano desafia a DHL

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A estória da Aramex - da pequena empresa do Oriente Médio que cresce para competir contra as maiores empresas do mercado global de transporte e logística - foi saudada pelo Thomas L. Friedman no seu livro "O Mundo é Plano" como modelo para empresas que se beneficiam do nivelamento do mundo por meio da globalização - o nivelamento do campo econômico e a destruição das barreiras de ingresso, que deixam a porta aberta para indivíduos e empresas de qualquer parte do mundo colaborarem ou competirem globalmente.

 

Fadi Ghandour estabeleceu a Aramex em 1982, atuando como empresa de transporte atacadista para empresas americanas, como a FedEx e a Airborne Express, conseqüentemente se tornando a primeira verdadeira concorrente da DHL no Oriente Médio. Hoje, com uma rede de 40 empresas independentes de entregas rápidas que formam a aliança Global Distribution liderada pela Aramex - cada empresa especializada na sua própria região - a Aramex oferece aos clientes do mundo inteiro serviços que variam de entregas rápidas dentro e fora do país, despachos de cargas, logística e armazenamento a distribuição de publicações e serviços especializados de compras internacionais.

 

A Aramex também se tornou bem conhecida no Oriente Médio pelo seu foco na sustentabilidade. Em 2006, a Aramex divulgou seu primeiro relatório anual de sustentabilidade, se tornando a primeira empresa na região a fazer isso. Também expressou compromisso de ser a primeira empresa de entregas rápidas e logística a ser neutra na emissão de carbono. No ano passado, a empresa se tornou membro da United Nations Global Compact, maior iniciativa de cidadania corporativa global do mundo, que oferece uma estrutura para as empresas que desejam assegurar que suas operações e estratégias são sustentáveis, particularmente com respeito aos direitos humanos, trabalho, meio ambiente, e iniciativas de combate à corrupção.

 

Quais têm sido os principais ingredientes para seu sucesso?
Fadi Ghandour : Reconhecemos desde cedo um nicho interessante para nós. Os postos de Correio no mundo árabe eram ineficientes e as empresas que atuavam no setor, além da DHL, não estavam presentes. Assim fomos capazes de desenvolver nossa vantagem competitiva regional com base numa idéia simples: criar a mais completa empresa de entregas rápidas para a região.

 

A inovação não é um fator pelo qual a região é famosa. Então, em que a Aramex se baseou para alcançar o sucesso.
Ghandour: A inovação é um produto da cultura corporativa da Aramex e temos dezenas de inovações a cada ano. Uma das nossas inovações de categoria internacional e extremamente bem-sucedidas é o serviço "Compre e Envie", que estamos agora cogitando lançar globalmente. "Compre e Envie" era originalmente um produto da guerra civil libanesa - quando as situações de segurança fecharam rotas de viagens.


Para a Aramex isso foi uma grande oportunidade.
A fórmula é simples. Os consumidores podem entrar on-line para obter endereços baseados nos Estados Unidos ou no Reino Unido, designados pela Aramex, para fazer compras e ter seus pacotes entregues no endereço doméstico nos EUA ou no Reino Unido. A Aramex pega o produto comprado e o transporta para a região. Então, novamente, encontramos um nicho. ...Hoje esse serviço cresce de 50% a 60% ano a ano. Houve pouca publicidade ou marketing e, sobretudo pelo boca a boca, ganhou popularidade.

 

Entre as empresas regionais, a Aramex é também conhecida por ter uma cultura corporativa única. Como você formou essa cultura?
Ghandour:Intencionalmente. A cultura corporativa é um reflexo de nossos valores e desde o princípio acreditamos firmemente em promover e construir uma cultura corporativa baseada em certos valores e assegurando que todos vivam por esses valores diariamente. Instilar esses valores foi um processo de educação, treinamento e reforço contínuos a cada oportunidade. Os valores de delegação de poderes, respeito e inovação exigiram muito esforço e tempo para instalar e internalizar. Por anos, eu pessoalmente coordenei oficinas em todas as áreas da organização para centenas de pessoas para assegurar que esses valores são propagados e adotados na organização. A cultura corporativa se torna especialmente importante para atrair e reter talento, assim como administrar a reserva de talento. A maioria de nossos líderes na Aramex está na empresa há 10 a 15 anos e todos detêm ações da empresa. Eles sentem que essa é a empresa deles.
No nível pessoal, você é conhecido como uma pessoa que está sintonizada na região e na comunidade. Isso também se reflete no histórico social e ambiental da Aramex.
Ghandour: A responsabilidade corporativa tem sido a marca registrada da cultura corporativa da Aramex e remonta aos anos de formação, no início dos anos 90, quando montamos o time de beisebol jordaniano. Então, historicamente, sempre tivemos interesse em influenciar a comunidade na qual operamos e, no princípio, embora não pudéssemos exercer um grande impacto em virtude do nosso tamanho, fomos, mesmo assim, capazes de fazer diferença e mudar os esportes na Jordânia.

 

Então essa foi a origem.
Desde então nos expandimos em outras áreas como educação, juventude e emancipação, e hoje estamos comprometidos em conduzir nossas iniciativas em crescimento de Responsabilidade Social Corporativa [CSR, na sigla em inglês], segundo padrões globais. Em acréscimo, somos a primeira empresa no mundo árabe a lançar um relatório de sustentabilidade segundo padrões internacionais, um reflexo do compromisso e da transparência com que conduzimos nossos projetos.
Essas iniciativas são motivadas pela crença de que a empresa está comprometida com produzir, além dos retornos financeiros para seus acionistas, retornos sociais ao mesmo tempo. Nosso foco nas comunidades marginalizadas em educação e emancipação dos jovens não se limita a fazer doações, mas envolve nosso pessoal, usando nossas habilidades empresariais e convidando outras empresas a tomar parte dessas iniciativas.
No nível pessoal, o serviço comunitário tem sido parte de minha vida. Eu cresci numa família que era socialmente engajada. Sempre tive ciência dos problemas sociais e percebi cedo a necessidade de mudar e tocar as vidas das pessoas. À medida que a empresa crescia, percebi que tínhamos capacidade de tocar cada vez mais as vidas das pessoas, e embora não possamos resolver esses problemas por nós mesmos, a formação de parcerias público-privadas pode fazer diferença e criar valor, tanto financeiramente quanto social para nossos acionistas.

 


Veículo: Gazeta Mercantil


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