Repasse para os preços finais dos produtos será apenas parcial para manter a competitividade do setor.
A alta no preço do algodão verificada nos últimos meses será repassada para a ponta do consumo em proporção menor pela indústria têxtil, do vestuário e de confecção do Estado. A afirmação unânime é de representantes do setor, que admitiram a inviabilidade de repassar o aumento do custo integralmente para o preço final dos produtos. Mesmo com margens já apertadas de lucro, o setor é obrigado a absorver aumento nos custos para manter a competitividade frente à concorrência com mercadorias estrangeiras, principalmente as asiáticas.
De acordo com levatamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), o preço do algodão em pluma por libra-peso saltou de R$ 115 em abril de 2009 para R$ 161 no idêntico período deste ano, o que representa uma elevação de 40%. Somente no acumulado do ano até abril, o preço do produto já aumentou 11%.
Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem no Estado de Minas Gerais (Sifit-MG), Adelmo Pércope Gonçalves, "não existe outra forma de compensar o aumento do preço de algodão a não ser repassar em parte o acréscimo para o preço final dos produtos". Dependendo da empresa e do tipo de mercadoria fabricada, segundo ele, o repasse pode chegar a 5%.
Gonçalves lembrou que o setor está em uma "encruzilhada" em virtude do câmbio atual, que é desfavorável às exportações e favorável às importações. "Este fator somado à alta carga tributária e aos elevados encargos com a folha de pagamento no país também prejudicam a concorrência com os produtos estrangeiros, principalmente os chineses, ao mesmo tempo que impedem as empresas de trabalharem com margens de lucro maiores", explicou.
O presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas do Estado de Minas Gerais (Sindimalhas-MG), Flávio Roscoe Nogueira, também acredita que o impacto na ponta do consumo será bem menor do que o aumento do preço do algodão verificado desde janeiro de 2009 até abril deste ano. "Como o mercado está aquecido e a concorrência acirrada, o repasse para o preço final do produto deve ficar em torno de 5% a 7%", disse.
"O aumento no preço do algodão vai chegar ao consumidor final, entretanto, em uma proporção menor, em torno de 4%", afirmou o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuários no Estado de Minas Gerais (Sindivest-MG), Michel Aburachid. Ele explicou que, no caso da indústria do vestuário, o repasse não será integral porque cada tecido tem uma percentagem diferente de produto na composição.
Mão de obra - Aburachid destacou que as empresas do segmento têm encontrado dificuldade em contratar mão de obra qualificada. "Frente aos efeitos da crise econômica em 2009, o setor sofreu uma desestruturação e muitos trabalhadores foram demitidos ao longo daquele ano. Com o reaquecimento da economia muitas destas pessoas migraram para outros setores, o que ocasionou a falta de pessoal especializado", justificou.
Segundo o presidente do Sindivest-MG, que representa 70% do território mineiro, já que algumas regiões têm sindicatos próprios, o setor responde por aproximadamente 5,5 mil empresas, responsáveis por 160 mil postos de trabalho. O faturamento do segmento no primeiro quadrimestre deste ano foi 40% superior ao do igual intervalo de 2009.
Em termos de produção, Aburachid revelou que a indústria do vestuário mineira opera, atualmente, a plena carga. O volume de mercadorias produzidas pelas empresas do setor de janeiro a abril deste ano ultrapassa em 30% o do mesmo período do exercício passado.
Veículo: Diário do Comércio - MG