Pelo novo contrato, grupo de Abilio Diniz fará uma capitalização adicional de até R$ 700 milhões na Nova Casas Bahia,[br]empresa resultante da fusão entre Ponto Frio, Extra Eletro e Casas Bahia; acordo original, assinado em dezembro, teve de ser revisto
O Grupo Pão de Açúcar deve anunciar hoje o novo acordo de fusão com a Casas Bahia, depois de mais de quatro meses de negociações. Ontem à noite, dos mais de 60 contratos negociados, ainda havia um ponto em aberto. Segundo fontes que participam das negociações, a previsão era assinar os papéis antes do jogo entre Brasil e Holanda.
O principal ponto de conflito do negócios, anunciado originalmente em dezembro, era financeiro. Agora, os ativos foram reavaliados e a rede de Abilio Diniz concordou em fazer uma capitalização adicional entre R$ 600 milhões e R$ 700 milhões na Nova Casas Bahia ? empresa resultante da fusão entre Casas Bahia, Extra Eletro e Ponto Frio. O objetivo é ajustar a equivalência patrimonial. O dinheiro vai sair do caixa do Pão de Açúcar para a nova empresa.
Quando o contrato começou a ser rediscutido, em março deste ano, a família Klein, controladora da Casas Bahia, alegava que seus ativos foram subavaliados em pelo menos R$ 2 bilhões e queria acertar essa diferença.
Poder compartilhado. Um novo acordo de acionistas também foi criado. Ele prevê que o poder será mais compartilhado entre os sócios e que os Klein terão direito a veto nas decisões estratégicas que envolvam a diluição de sua participação, segundo fontes. Desde o começo, a família se mostrava insatisfeita com a estrutura de poder criada na nova companhia. Os Klein ganharam a presidência da nova companhia, mas tinham de submeter suas decisões a Abilio Diniz.
A revisão ainda pode render à família Klein cerca de R$ 200 milhões em dinheiro. No fechamento do balanço de 31 de julho, a empresa fará um "rebalanceamento", que vai levar em conta o valor dos ativos e passivos, a começar pelos recebíveis (compromisso de pagamento futuro), segundo fontes.
Quando se associou ao Pão de Açúcar, os controladores da Casas Bahia ficariam com os aluguéis das lojas da rede de móveis e eletrodomésticos. Na ocasião, os Klein queriam um acordo semelhante ao assinado entre Abilio Diniz e o grupo francês Casino, acionista do Pão de Açúcar.
Pelo novo contrato de aluguel, o valor será fixo nos três primeiros anos, rendendo algo entre R$ 130 milhões e R$ 150 milhões por ano à família Klein. Mas as regras mudarão a partir do quarto ano. Os valores serão um porcentual da receita das lojas. O contrato continua tendo vigência de dez anos, renovável por mais dez. O reajuste será feito de acordo com o desempenho das lojas ou com a inflação ? o que for maior.
O novo acordo prevê ainda uma possibilidade mais fácil de saída dos Klein da Nova Casas Bahia pela Bolsa de Valores, segundo as fontes. O contrato original, assinado em dezembro, tinha apenas 29 páginas e deixava pontos em aberto, e esse era um dos que criou polêmica. Agora, os Klein podem vender 100% das suas ações na Nova Casas Bahia 24 meses após a oferta pública de ações (OPA) ? antes, essa venda teria de ser escalonada.
Sem brinde. Outros detalhes serão conhecidos com a publicação do fato relevante ao mercado financeiro. Até ontem à noite, o documento estava praticamente pronto. Não estava prevista uma comemoração e nem uma reunião geral para a assinatura dos papéis, como ocorreu na criação da fusão. Desta vez, os contratos é que vão até os acionistas. Ontem à noite, um deles, que tinha uma viagem marcada, já havia assinado os contratos.
As discussões se intensificaram ao longo da semana e tomaram algumas madrugadas dos assessores, consultores e advogados envolvidos. As reuniões estavam sendo feitas nas butiques financeiras Estáter e Signatura Lazard e no escritório de advocacia Pinheiro Neto.
Veículo: O Estado de S.Paulo