São Paulo tem potencial para aumentar em 900% a produção de trigo e abastecer metade do consumo do estado. Para Christian Saigh, diretor superintendente do Moinho Santa Clara e vice-presidente do Sindicato da Indústria do Trigo, o estado pode produzir 1,5 milhão de toneladas do grão. Estatística da Safras & Mercado mostra que o consumo do cereal no estado é de 2,7 milhões de toneladas. São Paulo responde por 30% do consumo de trigo do Brasil.
De acordo com Edegar Mascari Petisco, engenheiro agrônomo do departamento de sementes da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), no curto prazo, São Paulo pode quintuplicar a área plantada de trigo. "Sem esforço, pode atingir 300 mil hectares, o que já renderia 900 mil toneladas do grão", calcula Petisco, mas observa que apesar dos possíveis avanços, o mercado é quem define o ritmo de crescimento.
Segundo o agrônomo, com a quebra na qualidade da safra em 2009, devido ao excesso de chuva, e com os preços abaixo dos patamares mínimos praticados no mercado, ao longo do ano, os produtores reduziram o cultivo do cereal nesta temporada.
Projeção da Safras & Mercado aponta uma produção paulista de 150 mil toneladas, em 50 mil hectares, para 2010, uma retração de 16,7% se comparada à safra de 2009, quando o estado colheu 180 mil toneladas. Em 2009, São Paulo importou 1,4 milhão de toneladas de trigo. A oferta total no estado foi de 1,8 milhão de toneladas. "São Paulo é o estado com maior déficit entre oferta e demanda, além de ser o maior importador do cereal", afirma Élcio Bento, analista da Safras & Mercado.
De acordo com dados do Instituto de Economia Agrícola (Iea), a cultura de trigo em São Paulo está concentrada em Itapeva, com 48% da área cultivada no estado, seguida por Avaré, com 20%, Itapetininga e Assis 11% cada, Ourinhos 4% e Sorocaba 2%.
Para o analista, o aumento na produção em São Paulo é estrategicamente mais interessante, já que o estado concentra a maior parte do polo industrial de trigo. Teoricamente, ainda segundo o analista, o trigo paulista chegaria à indústria com um custo menor, em função de frete mais barato. "O preço do produto importado que chega aos moinhos é que determina os valores no mercado."
A quebra de safra no ano passado também refletiu no comportamento dos triticultores do Paraná e do Rio Grande do Sul, regiões que respondem por 90% da produção nacional. Último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), feito em junho, prevê um cultivo nacional em 2010, em cerca de 2,1 milhões de hectares, 12,5% menor que a área na safra 2009.
Sidney Fujivara, triticultor de médio porte, em Capão Bonito, na região sudoeste do Estado de São Paulo, que reduziu em 50% a área de plantio de trigo para a safra 2010, também vê como principais dificuldades do setor a fixação de preço e a comercialização.
Qualidade garantida
A Secretaria de Agricultura, em parceria com moinhos do Estado de São Paulo, por meio do Sindustrigo, criaram o programa Trigo Paulista com Qualidade. A integração garante que 50% da safra, desde que tenha qualidade, seja absorvida pela indústria. "Entrei no programa com a Anaconda [Industrial e Agrícola de Cereais] para garantir colocação do produto", afirma Fujivara, que, apesar de ter reduzido sua área de plantio, também aposta no potencial de crescimento do estado. "Não se planta mais por insegurança." Segundo Petisco, a indústria, por meio da Secretaria, fornece as sementes para o produtor que paga com a própria safra. "Para cada quilo de semente entregue, o triticultor paga com até dois quilos e meio de trigo. O volume varia conforme a cotação."
Veículo: DCI