Começa hoje mais uma rodada de negociação entre produtores e indústrias processadoras de laranja para discutir a metodologia de remuneração dos citricultores. A proposta de uma fórmula para se chegar ao preço da laranja será feita no âmbito do Consecitrus - mecanismo que está sendo montado para nortear a formação dos preços da fruta fornecida para a fabricação do suco, a exemplo do que acontece na cana (Consecana) .
Representantes da Secretaria de Agricultura de São Paulo, Sociedade Rural Brasileira (SRB), Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus) participarão do encontro junto com a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).
As indústrias devem apresentar uma proposta que prevê a remuneração da laranja a partir da quantidade de sólidos solúveis das frutas - matéria-prima para produção de suco de laranja. Além disso, as empresas devem "decompor" seus custos de produção até chegar ao valor efetivo da laranja. A ideia é que esses custos sejam verificados por empresas de auditoria para tentar dar mais "transparência" ao processo.
Apesar de algumas entidades de produtores se mostrarem dispostas a avançar com as negociações, a Associtrus ainda mantém uma posição defensiva. O presidente do conselho deliberativo da Associtrus, Renato Toledo de Queiroz, diz que o laço de confiança formado entre a entidade e as indústrias no início das negociações foi rompido quando as empresas tentaram negociar junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) um acordo para o fim das investigações da acusação de prática de cartel.
"A estratégia é legalmente correta, mas consideramos que faltou transparência das indústrias por terem feito isso paralelamente a uma negociação que havia se iniciado", afirma Queiroz.
Para ele, a criação do Consecitrus resolve um problema das indústrias e não dos produtores. Segundo ele, a criação de um modelo de remuneração para a laranja poderia levar as empresas a fazer um acordo com o Cade para encerrar a investigação, sem indenizar os produtores. "Depois da atitude das empresas, a pauta de negociação precisa mudar", disse, mostrando pessimismo em relação à reunião.
A Associtrus estaria resistindo a apoiar o Consecitrus, segundo fontes do mercado, por temer que o acordo seja usado pelas indústrias como pressão para encerrar as discussões no Cade. Publicamente, a associação não admite ser contra, uma vez que defende há anos um acordo sobre a remuneração.
Pessoas envolvidas no processo dizem que a criação do Consecitrus não coloca fim ao processo de investigação do Cade, que ainda precisa ser julgado. A Associtrus espera pelo julgamento por acreditar que o órgão de defesa econômica identificará a prática de cartel, abrindo espaço para indenizações a produtores. (AI)
Veículo: Valor Econômico