A quebra na produção de trigo russo e o anúncio, no último fim de semana, de que a Rússia suspenderia as exportações do produto por pelo menos seis meses terão efeitos de curto prazo no bolso do consumidor brasileiro, que pagará cerca de 20% a mais pelos derivados de trigo, como pão francês, macarrão, pizza, farinha de trigo e massas em geral. Em alguns estados, como no Rio e no Espírito Santo, a expectativa é que esses produtos estejam mais caros nos supermercados esta semana. Já em São Paulo e no Sul do país, os moinhos só têm estoque até a primeira semana de setembro.
Segundo Antenor Barros Leal, presidente dos sindicatos da Indústria do Trigo do Rio e do Espírito Santo, desde o dia 15 de julho, a tonelada de trigo já subiu em torno de US$ 100. O Brasil é um dos três maiores importadores do produto: produz cinco milhões de toneladas e consome 11 milhões, destacou Leal.
- O preço aumenta de qualquer maneira, mesmo para quem não importa. Os moinhos já aumentaram seus preços de 20% a 25% - disse ele.
Mas o presidente do Moinho Pacífico e conselheiro da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Lawrence Pi, afirmou que o setor ainda conta com estoque suficiente para durar até a primeira semana de setembro. Ou seja, pelo menos em São Paulo e no Sul ainda não teriam ocorrido reajustes.
- Após isso, um reajuste é inexorável, mesmo com a safra brasileira a caminho. Se não tivéssemos estoque, haveria aumentos de 15% a 20% - afirmou Pi.
Conab rechaça previsões: moinhos estão abastecidos
Essas previsões, porém, são rechaçadas pelo governo. Para o analista de mercado de trigo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Paulo Magno Rabelo, a suspensão das exportações de trigo e outros cereais pela Rússia - medida que tende a ser seguida pela Ucrânia e já provoca altas significativas na cotação do produto no mercado externo - não deve ser usada como desculpa para aumentar o preço do pãozinho e outros derivados no Brasil.
Rabelo argumentou que, somente no Mercosul, haverá uma oferta de três milhões de toneladas a mais do que o consumo na região. Ou seja, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai produzirão juntos, este ano, 20 milhões de toneladas, para uma demanda de 17 milhões de toneladas:
- O preço do trigo vem caindo há 27 meses, por causa de uma superoferta de 69 milhões de toneladas no mundo, nos dois últimos anos. Ainda assim, o preço do pãozinho não caiu.
Rabelo lembrou que, enquanto em maio de 2008 a tonelada do trigo no mercado externo estava em US$ 500, ao longo do período a cotação caiu, chegando a US$ 191 em junho deste ano. Com a fraca produção, o preço voltou a subir e hoje está em torno de US$ 280.
- Estamos com o trigo nacional há 27 meses em queda. No Paraná, em maio de 2008, a saca de 60 quilos custava R$ 41 e hoje está a R$ 23. Os moinhos estão abastecidos - disse o técnico.
Rabelo disse que, de janeiro a julho deste ano, o Brasil importou 3,929 milhões de toneladas de trigo e 352 mil toneladas de farinha. A grande maioria vem da Argentina, cujo produto é isento de vários tributos, incluindo a tarifa de importação, hoje em 10% para países que não fazem parte do Mercosul.
Para o economista Fábio Silveira, da RC Consultores, já houve alta nos preços, devido à redução da produção russa. A seu ver, haverá aumentos adicionais por causa da suspensão das exportações:
- Mas ainda assim os preços do trigo não estão muito mais altos do que a média do ano passado. Além disso, não haverá escassez de pão. Os preços vão subir, porém menos do que no mercado internacional.
veículo: O Globo