Uma das maiores indústrias têxteis do País, a Canatiba, tem visto as suas vendas no mercado internacional caírem gradativamente. Segundo a empresa, as exportações, que há três anos compunham 15% do faturamento da companhia, hoje representam apenas 8%. "Isso com muito custo. Estamos batalhando para continuar as operações externas" afirma o diretor de Marketing da fabricante de tecidos, Fábio Covolan.
Segundo ele, o câmbio é o principal entrave para os negócios externos da empresa. "A valorização do real prejudica muito nossas exportações. Não conseguimos competir, por exemplo, com os produtos asiáticos no mercado externo. É entrar para ter prejuízo" diz Covolan. "Temos ainda os custos altíssimos dos impostos cobrados pelos países clientes para receber os produtos brasileiros", afirma ele.
A empresa, que produz mais de oito milhões metros lineares de tecido por mês, aposta nos produtos de maior valor agregado para ganhar rentabilidade em meio à falta de competitividade do setor. "Deixamos de brigar por commodity e focamos em alta qualidade e valor", explica o executivo.
As exportações da Canatiba Têxtil têm como principal destino a Argentina. "Apesar das dificuldades, das cotas, licenças de exportação, a Argentina ainda é nosso principal parceiro comercial, isso também por ser o único país a não ter a taxa de importação" salienta Covolan.
Sem projeção de crescimento das operações externas, a empresa segue com investimento para atender a demanda interna, onde a expectativa é aumentar o faturamento deste ano em 20%. Para isso, a Canatiba está ampliando sua produção em 50%, em relação à sua capacidade atual. "Estamos em fase de execução das ampliações de capacidade produtiva. É um processo já iniciado", disse o diretor de marketing da empresa.
Conjuntura
A indústria têxtil local, com o apoio da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), concentra esforços para alavancar em 5% as exportações deste ano. Com o mercado interno aquecido, a briga no setor é para ganhar fôlego nas exportações e conter o déficit da balança comercial, que já somou US$ 2,5 bilhões até o mês passado, ante US$ 1,6 bilhão de todo o ano de 2009 no volume de importações no País. Segundo o diretor do Programa Estratégico da Cadeia Têxtil Brasileira (Texbrasil), Rafael Cervone, a indústria têxtil nacional representa 1% das operações mundiais, que movimentam US$ 650 bilhões. Mas, ainda de acordo com ele, as estimativas são de um cenário positivo. "O Brasil é um dos poucos países no mundo a deter toda o know-how da cadeia produtiva têxtil" afirma ele.
A meta da Abit é fechar 2010 com uma receita de US$ 2 bilhões resultante de negociações da indústria têxtil brasileira no mercado externo, volume do qual 35% seriam representados de ações do Texbrasil, que envolve 550 pequenas e médias empresas brasileiras. Na lista dos países que são importadores do Brasil, de janeiro a setembro deste ano, estão a Argentina em primeiro lugar, com cerca de US$ 300 milhões, seguida por Estados Unidos, com US$ 192 milhões. A Indonésia, mesmo estando localizada na Ásia, onde está a China, o principal concorrente brasileiro, ocupa a terceira posição no ranking de exportação, com US$ 116,4 milhões.
No topo dos produtos mais exportados, sem incluir algodão, está a manufaturas de tecidos especiais e técnicos, com US$ 41,6 milhões, seguido de vestuário, com US$ 32 milhões, e tecidos, com US$ 24 milhões.
O programa Texbrasil foi criado em 2000, com a meta de preparar as empresas brasileiras para competir no mercado internacional. Nos últimos oito anos, as empresas participantes do projeto ampliaram suas exportações em 27%. Juntas, elas são responsáveis por 35% de toda exportação do setor. No ano passado, as exportações de produtos têxteis brasileiros geraram receita de quase US$ 1,7 bilhão. Os maiores mercados compradores destes produtos foram Argentina, Estados Unidos, Paraguai, México e Venezuela.
Segundo a Abit, o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking globalda produção têxtil, faturando US$ 50 bilhões - 17,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria de transformação do País.
Até agosto, o déficit da balança comercial da indústria têxtil e de confecção, sem contar fibra de algodão, ficou em US$ 2,18 bilhões, crescimento negativo de cerca de 17% em relação a 2009.
Veículo: DCI