Nike investirá em outlets para vendas no Brasil

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A expectativa de ampliar as vendas nos mercados emergentes fez com que a gigante do setor de vestuário de linha esportiva Nike ampliasse os planos no mercado brasileiro. Através de outlets, modelos de loja com preços mais acessíveis, a marca norte-americana espera se firmar no Brasil. Hoje a marca conta com sete Nike Factory Outlet e a expectativa do grupo é abrir outras dez nos próximos doze meses.

 

Em entrevista ao DCI, Mark Parker, que é presidente mundial da marca Nike, diz que o Brasil tem um potencial grande de vendas diretas; entre os destaques, o presidente ressaltou o Rio de Janeiro como potencial de vendas. "Hoje o Rio está no mesmo nível que Londres, Nova York e Tóquio para vendas", afirmou.

 

O canal virtual da Nike, o site Nikestore, também já aderiu ao cliente brasileiro: hoje o site oferece a opção de entrega em São Paulo num prazo máximo de 30 dias. Além dos outlets e do e-commerce, a Nike também investirá em lojas dentro de shoppings dirigidos para a classe A e B. "Temos planos de abrir mais dez lojas Premium Malls, da Nike nos próximos doze meses", disse.

 

A aposta em outlets, para o professor de Economia da Fundação Santo André, Mario Peixoto, é uma tendência das grandes marcas. "Ainda não há números exatos quanto a outlets. Estudos indicam que o Brasil hoje já tem mais ou menos 300 dessas lojas de roupas e calçados", afirmou o acadêmico, que estima um crescimento de 25% ao ano, analisando o crescimento no faturamento das empresas que aderiram ao sistema de outlet. "Atualmente, todas as principais marcas do mundo da moda têm o seu espaço de comercialização do estoque de coleções passadas, entre elas Cori, Zoomp , Ellus, Levi's e Rosa Chá. Nem mesmo a butique exclusiva Daslu resistiu: há menos de um mês, inaugurou o seu outlet, no centro comercial de Alphaville", diz.

 

O acadêmico estima ainda que o faturamento anual do segmento deve ficar na casa dos R$ 360 milhões por ano, com clientes concentrados mais nas classes A e B. "O outlet, ou ponta de estoque, é a grande cartada da classe B, que continuará consumido produtos de qualidade, em mais quantidade, sem perder o gosto pela marca", disse ele.

 

Vislumbrando este mercado, o publicitário sorocabano Kadu Ramos resolveu apostar em outlets. O negócio deu tão certo que hoje Ramos já conta com cinco lojas espalhadas pelo estado, e a expectativa é de abrir mais uma até dezembro. "Em um ano já foi possível perceber o interesse da classe B em consumir produtos de outlet", disse.

 

"Isso prova o crescimento que os outlets tiveram nos últimos anos. Antes encarados como ponta de estoque, onde só vendiam peças com defeito, hoje as pessoas encontram roupas de grifes famosas em perfeito estado. Elas apenas são de uma coleção passada", declarou.

 

No outlet do empresário existem mais de 3 mil peças de mais de 40 marcas. Os descontos são de no mínimo 50%, e chegam a 80%. "As pessoas estão perdendo o preconceito com os outlets. Hoje as vendas aumentaram ainda mais porque elas percebem que não vale a pena ir até os EUA para comprar a mesma peça de roupa que hoje ela encontra neste tipo de loja aqui mesmo, no Brasil."

 

O mercado para iniciativas como a de Ramos, para o professor Peixoto, poderá encontrar dificuldades nos próximos anos. "Hoje as grandes fábricas de roupa já encontram na outlet uma forma muito eficaz de vendas. Esse conceito é norte americano e bem antigo, e agora a mentalidade já se instalou no Brasil, desta forma, vai ficar cada vez mais difícil para quem quiser negociar peças para ponta de estoques independentes, visto que as grifes abrirão as suas próprias", afirmou.

 

Ramos já sentiu a diferença "Hoje está bem mais complicado de negociar com os fornecedores do que antes", disse.

 

Histórico

 

"O sistema de ponta de estoque surgiu no Brasil no final dos anos 70, para que o varejo pudesse vender roupas de coleções anteriores que ficavam encalhadas", conta João Carlos Lara Siqueira, coordenador do Programa de Administração do Varejo (Provar), da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

 

No início, acrescenta Siqueira, as vendas eram feitas em galpões situados em pontos distantes da cidade. Como os preços praticados eram bem inferiores aos das lojas tradicionais, esses pontos-de-venda logo fizeram grande sucesso. Segundo ele, este modelo foi adotado dos Estados Unidos, onde o comércio também se vale deste tipo de estratégia para "queimar" estoques.

 

De acordo com Antônio José Henriques, proprietário da ponta de estoque da Levi's, na Vila Leopoldina, em São Paulo, a empresa foi pioneira na abertura destes pontos-de-venda em São Paulo, nos anos 70. "A fórmula é simples: as lojas não têm condições de manter um alto nível de estoque, e a ponta de estoque é uma forma de conseguir que os consumidores se interessem pelas mercadorias, pois elas chegam a ficar até 80% mais barato."

 

Diz que, por ocasião da abertura da Levi's não havia estabelecimentos semelhantes em São Paulo, mas, a partir dos anos 80, este tipo de estabelecimento acabou virando moda e, aos poucos, todas as grandes marcas, ou abriram seus espaços em galpões, ou na própria fábrica, para vender direto ao consumidor.

 

Com o passar do tempo, e com a afluência maior da classe A, os estabelecimentos se mudaram para pontos mais próximos. Consta que, atualmente, atende a mais de cinco mil pessoas por semana, interessadas nas 10 mil peças com preços reduzidos.

 


Veículo: DCI


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