Os custos com transporte estão comprometendo a rentabilidade da cadeia leiteira de Minas Gerais. De acordo com o Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg-MG), os gastos com a movimentação das mercadorias produzidas pelo segmento chega a representar cerca de 12% do valor do produto final. O principal gargalo é a má condição das rodovias, o que reduz a vida útil dos caminhões e onera ainda mais o setor.
De acordo com o diretor executivo da entidade, Celso Costa Moreira, a cadeia leiteira de Minas Gerais enfrenta um cenário complicado tanto na captação dos produtos como na distribuição do mesmo pelas indústrias.
Além disso, também foi registrado encarecimento nos itens que compõem os gastos do transporte como combustíveis, frete e manutenção dos veículos. Segundo o Índice de Custo de Produção de Leite (ICP Leite), elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Unidade Gado de Leite, nos últimos 12 meses foi registrado aumento de 1,1% nos combustíveis que subiu 1,18%.
"A falta de conservação das rodovias e das vias de acesso às unidades produtoras encarece os produtos, pois as manutenções nos veículos se tornam mais freqüentes. A situação fica ainda mais crítica nos períodos de chuvas, onde além de aumentar os problemas na pavimentação das vias, o acesso às unidades produtoras fica comprometido. Em algumas regiões do Estado a produção tem que ser descartada por falta de recolhimento e tanto os produtores e como as indústrias arcam com os prejuízos da perda e do custo do frete", disse Moreira.
Competitividade - O elevado custo com transporte também interfere na competitividade dos produtos mineiros no exterior. Segundo Moreira, um dos principais desafios do segmento para ganhar competitividade no mercado internacional é reduzir os gastos com transporte, já que os concorrentes internacionais não possuem gastos elevados com este tipo de serviço. O que seria viabilizado pela reforma e ampliação dos acessos aos municípios mineiros.
"O problema de transporte no Brasil se tornou crônico. Já fizemos várias visitas aos Estados Unidos e Canadá, onde os veículos das cooperativas de leite destinados ao recolhimento e distribuição dos produtos lácteos possuem expectativa de utilização de pelo menos o dobro da registrada no Brasil. Isto devido à preocupação dos governos em facilitar o acesso às unidades produtoras", disse Moreira.
Outro empecilho que vem afetando drasticamente as indústrias de leite em Minas é a valorização do real frente à moeda norte-americana. Com o dólar cotado abaixo dos R$ 2 os embarques se tornaram inviáveis, uma vez que o custo de produção no Brasil é mais elevado que nas demais regiões produtoras do mundo.
De acordo com os dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o faturamento das exportações mineiras de lácteos, entre janeiro e setembro, apresentou queda de 53,8%, se comprado com igual período do ano anterior.
A receita gerada no período ficou em US$ 23,732 milhões contra US$ 51,342 milhões obtidos no mesmo período de 2009. O volume exportado ficou em 9,66 mil toneladas, com retração de 55,1% frente o volume embarcado anteriormente. A tonelada está avaliada a US$ 2,455 mil, valor 2,89% superior ao registrado em igual período de 2009.
"Os embarques existentes acontecem apenas para suprir contratos realizados antes da crise financeira mundial. No atual cenário econômico não temos nenhuma expectativa de retomar aos patamares registrados no período antes da recessão econômica, já que as exportações se tornaram totalmente inviáveis", disse Moreira.
As expectativas para a cadeia leiteira ao longo dos próximos anos são pessimistas. De acordo com Moreira, caso não sejam tomadas medidas para reduzir os custos de produção brasileira e para conter a desvalorização do dólar, ocorrerá a sucatização do setor.
Exportações - "Além de enfrentarmos problemas internos como os custos elevados, com o dólar abaixo dos R$ 2, houve aumento significativo das exportações de leite e derivados, principalmente provenientes do Uruguai. Com isso o rendimento das indústrias mineiras vem sendo prejudicado, e parte do prejuízo é repassado aos produtores que são obrigados a reduzir a produção e em muitos casos a abandonam. Caso o cenário se mantenham nos próximos anos, o país pode voltar a depender das importações de leite e derivados", disse Moreira.
O reflexo da desvalorização do leite mineiro já interfere na expectativa de produção para 2010. O Estado, que é a maior bacia leiteira do país, reduziu a estimativa de crescimento para 3%, antes a expectativa era produzir 5% a mais que os 7,5 bilhões de litros do leite gerados em 2009. Atualmente o litro de leite nas indústrias é comercializado por R$ 1,45, sendo o preço ideal de R$ 1,80.
"Por estarmos entrando no período chuvoso a estimativa é que o volume produtivo aumente, o que impede a valorização do litro de leite. A tendência para os próximos meses são de novas desvalorizações e maior comprometimento da receita dos produtores e das indústrias", avaliou Moreira.
Veículo: Diário do Comércio - MG