Eletrodomésticos: Samsung, LG e Panasonic iniciam fabricação local, que deve ser reforçada por Whirlpool
A redução da cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os principais itens de linha branca mostrou que o país tem uma demanda mais do que reprimida em eletrodomésticos.
Concedido entre abril de 2009 e janeiro de 2010, o benefício elevou em cerca de 30% as vendas do segmento no ano passado. O sucesso foi tanto que gerou problemas: houve gargalo na produção na segunda metade de 2009 e chegou a faltar produto nas lojas. Foi o suficiente para que a indústria reavaliasse o potencial do mercado nacional em tempos de desemprego na casa dos 6% e de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 7%, como o previsto para 2010, o que aumenta a confiança do consumidor. Para as multinacionais que disputam o segmento, não há dúvidas: está na hora de abrir espaço no chão de fábrica.
Segundo apurou o Valor, Samsung e LG estão prospectando terrenos para a instalação de fábricas de eletroeletrodomésticos no interior paulista, onde já atuam as concorrentes Mabe (Campinas), Whirlpool (Rio Claro), Electrolux e Latina (essas últimas em São Carlos). Até o momento, as múltis coreanas, que lideram o mercado de eletroeletrônicos no país, disputavam a linha branca com produtos de altíssimo valor agregado, como os refrigeradores duplex ("side by side") e as lavadoras que também secam roupas ("lava e seca").
A Samsung, que já tinha testado esse mercado em 2005, com preços fora da realidade nacional, voltou este ano com eletrodomésticos importados top de linha, porém mais acessíveis. Ao mesmo tempo, começou a fabricar ar condicionado na Zona Franca de Manaus. Procurada, a empresa informou em nota que "sempre pesquisa locais para instalação de novas unidades de produção, porém não há nada confirmado com relação a uma nova planta no Estado".
Já a LG confirmou o projeto de produzir linha branca no Brasil, que pode ocorrer em uma nova fábrica ou em uma planta já existente, mas não informou detalhes. "A LG sabe que pode ganhar mais participação nesse mercado, que hoje é mínima, se tiver produtos acessíveis", afirma um fonte desse segmento. A empresa voltou a importar fornos de micro-ondas no ano passado e, este ano, deu início à produção do item em Taubaté (SP), onde também passou a montar a "lava e seca". O plano, agora, é partir para uma investida mais agressiva nos principais itens da linha branca - fogões, refrigeradores e lavadoras.
Em maio, em entrevista ao Valor, o presidente mundial da Electrolux, Hans Straberg, afirmou que a empresa trabalhava próxima da sua capacidade total e que estudava novas fábricas no país. A mega concorrente Whirlpool, por sua vez, retoma a produção de lavadoras de louça em Rio Claro, produto que vinha importando nos últimos anos. Já a Panasonic, que atua em eletroeletrônicos e fabrica apenas micro-ondas em linha branca no país, tem um projeto pronto para ampliar os itens de cozinha.
Para Alcides Leite, professor de economia da Escola Trevisan de Negócios, a investida faz todo o sentido, mesmo em tempos de dólar a R$ 1,69, o que favorece a importação de produtos acabados. "São projetos a longo prazo e não são determinados pela variação pontual do câmbio", diz. O mercado oferece o ânimo necessário. De acordo com a consultoria GfK, nos primeiros seis meses do ano, a venda de linha branca cresceu 14% em valor, mesmo sem o IPI.
"É nítida a busca do consumidor por produtos que proporcionam maior conforto", diz Cláudia Sender, diretora de marketing da Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul. De acordo com a múlti americana, a venda de lavadoras em 2009 fez a presença desse produto saltar de 35% para 42% nos lares brasileiros. Agora, ao que tudo indica, a vez é dos refrigeradores. "Está havendo uma migração para os modelos 'frost free' [degelo automático]", diz. A multinacional, que tem cerca de 40% do mercado de linha branca, espera crescer entre 5% e 10% este ano.
As novas linhas da Whirlpool para a produção de lava-louças em Manaus serão instaladas na unidade de micro-ondas e ar-condicionado. Segundo informações da companhia à Suframa, o investimento atinge R$ 5 milhões e serão contratados 78 funcionários. A princípio, toda a fabricação deve abastecer apenas o Brasil, mas o projeto é atender não só a demanda interna, mas os mercados vizinhos na América do Sul.
"Acreditamos que esta produção, a partir de Manaus, é uma oportunidade para aumentar a penetração desse produto no Brasil, que hoje está presente em menos de 2% dos lares", informa, em nota, Armando Ennes do Valle Júnior, vice-presidente de relações institucionais e sustentabilidade da Whirlpool América Latina.
Para o professor da Trevisan, essa movimentação de investimentos de peso no mercado, mostra que há espaço para o país se tornar um polo produtor de eletrodomésticos na América Latina. "Os ganhos de renda e ampliação no crédito já criaram um terreno mais seguro para as empresas, mesmo as mais cautelosas, como as asiáticas".
Há cerca de três anos, a Panasonic estuda abrir uma unidade de produtos de linha branca no Brasil. "Foram feitos os primeiros testes no mercado com a importação de mercadorias mais caras, com um design diferenciado, para ver se a venda acontecia e a demanda foi boa", conta um executivo próximo à empresa. Inicialmente, a ideia era construir a unidade nos Estados de Minas Gerais ou São Paulo e, há cerca de dois meses, a matriz bateu o martelo e escolheu São Paulo como sede. Procurada, a empresa afirmou não haver obtido uma posição oficial da matriz até o fechamento desta edição.
Veículo: Valor Econômico