A necessidade de usar óculos especiais tem afastado o consumidor do 3D, apesar dos esforços de companhias como a SonyFabricantes e emissoras de TV estão aumentando os esforços para corrigir a escassez de conteúdo disponível para os aparelhos em 3D, um fator que tem atrapalhado a disseminação do produto. O esforço mais recente é o da Sony e de dois canais de TV japoneses, que anunciaram ontem o lançamento do primeiro seriado em 3D no país, que as empresas alegam também poder ser o primeiro do mundo.

 

O drama, chamado "Tokyo Control", retrata a vida de homens e mulheres que trabalham no Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Tóquio ajudando aeronaves a navegar com segurança os céus do Japão. A série, com dez episódios, será exibida duas vezes por semana no canal a cabo especializado em 3D da SkyPerfectTV, a partir de 19 de janeiro.

 

O programa foi produzido e dirigido pela equipe do canal local Fuji Television Network, enquanto a Sony deu suporte técnico para a filmagem em 3D.

 

Quando o formato 3D surgiu, no início de 2010, os fabricantes de TV esperavam que o novo recurso tecnológico pudesse atrair o interesse das pessoas e estimular a demanda. Mas a empresa de pesquisa de mercado DisplaySearch calcula que esses aparelhos responderam por apenas 1,2% do total de 247 milhões de aparelhos com tela fina vendidos mundialmente ano passado.

 

"A era do 3D começou ano passado e este ano é o da fase de desenvolvimento", disse Akira Shimazu, diretor da Sony que cuida dos projetos 3D, em uma entrevista coletiva na qual as empresas exibiram trechos do primeiro episódio da série.

 

Shimazu disse que a expansão da tecnologia 3D para eletrônicos mais pessoais como celulares, notebooks e câmeras digitais deve ajudar a deixar as pessoas familiarizadas com o recurso este ano. A gigante dos videogames Nintendo, por exemplo, vai lançar seu portátil 3D no mês que vem no Japão.

 

Anunciado ontem, o seriado japonês "Tokyo Control" pode ser o primeiro do mundo em terceira dimensão

 

Embora a programação em 3D do ano passado tenha se limitado a eventos esportivos como a Copa do Mundo e shows musicais, o conteúdo provavelmente vai ser diversificado este ano, com mais produtores interessados em usar o 3D para criar programas mais inovadores, disse ele.

 

No ano fiscal que vai se encerrar em março de 2011, o plano original da Sony era vender 25 milhões de TVs, com os modelos com 3D ou equipados para 3D respondendo por cerca de 10% disso. Embora as metas permaneçam as mesmas, a empresa está numa posição menos favorável para alcançá-las, depois da desaceleração do mercado americano no segundo semestre do ano passado e a morna repercussão geral das televisões 3D.

 

Como a Sony, a Panasonic está cooperando com canais de TV para criar mais programas em 3D. A Panasonic, que fabrica a marca de TVs Viera, já produziu um programa musical periódico em 3D para o canal de TV via satélite BS Asahi. O programa de dez minutos, que estreou em novembro, exibe uma ou duas apresentações musicais ao vivo em dias úteis.

 

Desde o enorme sucesso do filme "Avatar", em 2009, o 3D se tornou um fator atrativo nas bilheterias dos cinemas. Muitas pessoas não se incomodam de usar óculos especiais quando vão ao cinema se a experiência visual é propiciada por uma tela gigantesca. Mas analistas dizem que as TVs em 3D enfrentam um desafio maior.

 

"A qualidade do conteúdo teria que mais que compensar o desconforto de ficar de óculos", disse o analista Nobuo Kurahashi, da corretora Mizuho Investment Securities.

 

Os produtores e atores de "Tokyo Control" estão confiantes que o seriado aproveita totalmente as possibilidades dos efeitos 3D e não conta apenas com objetos pulando no espectador, usando a profundidade única das imagens em 3D para criar a sensação de espaço e atmosfera.

 

O seriado, por exemplo, começa com uma cena no corredor de um avião: os telespectadores podem enxergar as filas de assentos até o fundo da aeronave enquanto uma comissária de bordo caminha pelo corredor. Em outra cena, a protagonista está trabalhando em sua mesa no escritório do centro de controle e, subitamente, dezenas de aviões imaginários surgem diante dela, que os toca para garantir que estão nos lugares certos - algo que retrata a imagem criada pela mente dela.

 

Antes de filmar "Tokyo Control", o diretor, o produtor e a equipe de câmera viajaram a Hollywood para aprender com parte da equipe de "Avatar", disse uma porta-voz da Fuji Television. ("Avatar" foi lançado pela Twentieth Century Fox, que, como o Wall Street Journal, é parte do conglomerado News Corp.)

 

Embora um programa bem feito de TV em 3D tenha boas chances de ser o ponto de partida para convencer mais pessoas a comprar um aparelho, ainda pode demorar anos até que os programas em 3D encontrem um público habitual nas salas de estar.

 

Kurahashi admite que o custo adicional de comprar ou alugar novos equipamentos para filmagem em 3D e adquirir o conhecimento necessário podem dificultar que os canais se envolvam totalmente em 3D no curto prazo, especialmente diante do número reduzido de pessoas que realmente têm TVs em 3D. "Seria uma aposta arriscada para as redes de TV", disse ele.

 

Atualmente não há muita gente que possa assistir "Tokyo Control" em 3D. O canal a cabo que exibe o seriado só está disponível para cerca de 391 mil assinantes do serviço em alta definição da SkyPerfectTV, e só os assinantes que já têm televisões em 3D podem assistir sob o formato, o que diminui ainda mais o potencial de audiência.

 

Uma porta-voz da Fuji Television disse que a empresa não tem planos no momento para realizar outros seriados em 3D, mas os produtores estão ansiosos para produzir mais conteúdo.

 

"Vamos ver até onde as televisões em 3D se popularizam este ano", disse ela.

 

Veículo: Valor Econômico