Para recuperar valor de mercado, gigante varejista francesa estuda separar a marca principal, o negócio de patrimônio imobiliário e a bandeira popular Dia nas bolsas de valores; papéis da companhia acumulam uma queda 36% em quatro anos
A rede de supermercados francesa Carrefour anunciou ontem planos de iniciar a transação de novos ativos no mercado financeiro, em data ainda a ser definida. Segundo informações extraoficiais reveladas pelo jornal "Le Figaro", a estratégia envolveria a cisão do conglomerado em três e a entrada nas bolsas de valores de duas novas empresas independentes: a rede popular Dia e a gestora de patrimônio imobiliário Carrefour Property.
O objetivo da estratégia seria elevar o valor do Grupo Carrefour nas bolsas de valores. Em comunicado distribuído à imprensa na manhã de ontem, em Paris, a empresa confirmou em parte as informações do diário francês e afirmou estar desenvolvendo estudos que levem à "otimização de sua performance e a valorização de seus ativos".
A iniciativa seguiria sugestão do banco BNP Paribas e as pressões dos investidores Colony Capital e Groupe Arnault, proprietários de 14% do capital e de 20% do direito a voto da holding. A expectativa é de que, dividido em três, o conglomerado supermercadista recupere valor. Desde março de 2007, quando Colony e Arnault ingressaram no capital do número 2 do setor supermercadista mundial, as ações do grupo caíram de 53 para 34 (redução de quase 36%).
Alternativas. Nesse período, os dois investidores teriam insistido em diferentes iniciativas para recuperar seu capital, entre elas a venda da Carrefour Property - frustrada pela crise do setor imobiliário desde 2007 - e até a venda das redes de supermercados Carrefour em países emergentes, como China e Brasil. Em novembro de 2010, a imprensa francesa também publicou informações de bastidores sobre a possível venda de outra marca do grupo, o supermercado de descontos ED, assim como negociações para repasse dos ativos do grupo na Malásia e em Cingapura ao concorrente direto Casino. Entretanto, nenhum dos negócios se concretizou.
Agora, a estratégia seria manter 51% das ações da subsidiária Dia e, eventualmente, ceder a maioria dos papéis da Carrefour Property nos mercados financeiros, mantendo o controle das operações. Pela manhã, no momento da publicação do comunicado da empresa confirmando a existência do estudo, os papéis do Grupo Carrefour na Bolsa de Valores de Paris tiveram alta imediata. No fim do pregão, pouco antes das 18h (15h de Brasília), a valorização era de 5,45%.
Entre analistas financeiros ouvidos pelas agências Reuters e Associated Press, entretanto, as opiniões sobre o estudo são contraditórias. Ao vender ações da filial gestora de seus bens imobiliários, o Grupo Carrefour teria de arcar com aluguéis mais caros em caso de valorização da Carrefour Property nos mercados financeiros.
Caso realmente o conglomerado seja cindido, as duas novas empresas também serão gigantes em seus setores. A rede Dia, com 6,6 mil supermercados espalhados pelo mundo, registrou 9,5 bilhões em volume de negócios em 2009. A empresa é avaliada por especialistas europeus em 4 bilhões. Já a Carrefour Property administra 938 prédios dos supermercados Carrefour na França, Itália, Espanha, Polônia e Romênia, totalizando 4,3 milhões de metros quadrados. A companhia era avaliada em 11 bilhões em dezembro de 2009.
A decisão sobre a cisão ou não do Grupo Carrefour será tomada em reunião do Conselho de Administração, provavelmente em 2 de março, e terá de passar pelo crivo da Assembleia Geral de Acionistas. Para aceitar a transação, os acionistas seriam remunerados com ações das duas novas empresas.
Situação do grupo preocupa analistas
A situação do Grupo Carrefour começa a preocupar especialistas do setor supermercadista na França. Isso porque, além dos constantes estudos para a venda de ativos e dos prejuízos da subsidiária do Brasil, um projeto chave da empresa, o Carrefour Planet - que prevê a reforma de hipermercados e a criação de circuitos a serem percorridos pelos consumidores -, não estaria alcançando os resultados esperados. Pelo programa original, 120 lojas deveriam ser reformadas na França em médio prazo. Mas, com os atuais resultados, a tendência é de que o projeto seja reduzido a algo entre 50 e 70 hipermercados.
Veículo: O Estado de S.Paulo