Importador segura mercadoria no porto para fugir da alta do dólar

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Muitas importadoras comemoram a antecipação das compras de fim de ano, muitas delas (ou a totalidade) feita com o dólar ainda abaixo de R$ 1,70. Aqueles que mantêm fluxos mais constantes de mercadorias, tiram mercadorias dos portos a conta-gotas ou buscam alternativas. A Perini, rede baiana especializada em importados, por exemplo, concluiu que era mais barato deixar para fechar o câmbio depois e pagar juros ao seus fornecedores.

 

A indústria de eletrodomésticos Suggar é uma das empresas que estão administrando os estoques no porto. De olho no câmbio, a empresa mineira está desembaraçando os contêineres na medida da necessidade. A preocupação é com o cálculo dos impostos, feito no momento em que a empresa interna a mercadoria. Quanto mais alto estiver o dólar, maior o valor em tributos. "Se eu posso desembaraçar um contêiner só de um determinado produto, por que vou desembaraçar dez?", pergunta o presidente da Suggar, Lúcio Costa. 

 

A maior parte dos 75 produtos vendidos pela Suggar é importada da China. A empresa recebe entre 50 e 60 contêineres por mês. Embora esteja impossível prever o comportamento do câmbio, Costa prefere apostar no recuo da cotação no momento de desembaraçar maiores volumes para atender a demanda do Natal. Segundo Costa, o momento é de gerenciar com cuidado muitas variáveis. A cotação do dólar é apenas uma delas. "Os produtos estão custando mais caro, mas as negociações com os chineses estão mais fáceis", exemplifica. 

 

Com o câmbio favorável, em 2006, a Suggar chegou a fechar linhas de produção na fábrica instalada em Belo Horizonte para colocar no seu portfólio itens importados da China. Alguns produtos chegavam à fábrica com custo até 40% menor do que se fossem produzidos no Brasil. Depois da decisão do governo de sobretaxar a importação de ferros elétricos, a Suggar resolveu investir na produção própria do ferro. "Foi uma decisão acertada que vai nos ajudar agora", analisa o presidente. 

 

A importadora de vinhos Expand antecipou a compra do estoque de fim de ano, que normalmente é feita em outubro, para setembro por conta da alta de 30% do IPI esperada para o dia ºde outubro, e acabou escapando da alta do dólar. Por conta disso, a empresa contribuiu para a queda das importações do mês de outubro, mas sem reduzir suas compras do ano. Segundo Otavio Piva de Albuquerque Filho, diretor de operações da empresa, a Expand conta com um estoque de 5 milhões de garrafas para suprir as vendas até dezembro. "Por enquanto a alta do dólar não impactou nossas importações, e a antecipação da compra permite que os preços não sejam reajustados este ano", diz o executivo. 

 

A próxima remessa de vinhos virá em janeiro e a empresa está esperando a estabilização do dólar para fechar os contratos. O executivo diz que a Expand tem condições de diminuir suas compras no começo do ano que vem caso perceba retração nas vendas. "A decisão vai ser tomada de acordo com o mercado, mas estou otimista que o dólar vai se estabilizar num patamar que permita o aumento do consumo de vinho." 

 

O setor de alimentos tem pouca margem de manobra para administrar seus estoques nos portos, mas a importadora La Pastina tem conseguido reduzir suas perdas em cerca de 10% adiando em até dois dias os desembaraços de importados. "Temos uma flexibilidade, se num dia o dólar está muito alto, é possível esperar um ou dois dias, mas não mais que isso", diz Celso La Pastina, diretor comercial do grupo La Pastina. A empresa é importadora de vinhos e produtos de mercearia. 

 

La Pastina explica que a grande demanda por alimentos no Natal não permite à empresa reduzir as importações e que ao menos para este ano será possível manter os preços. "Até agora decidimos assumir a diferença de preço causada pelo aumento do dólar, mas no ano que deve haver reajustes de 10% a 15%", diz. 

 

O executivo conta que está negociando com os fornecedores prazos maiores para pagar as importações. Dessa forma, muitas compras feitas hoje devem ser pagas em janeiro, quando é esperado um dólar próximo a R$ 2,10. O aumento das vendas da La Pastina em 2008 deve ser de 15%, expectativa mantida mesmo com a crise. Para 2009, porém, a empresa já revisou sua projeção de crescimento, que já foi de 10%, para 2% a 3%. 

 

A baiana Perini chegou a ter 14 contêineres parados no porto de Salvador. Cansado de esperar pela queda na cotação do dólar e do euro e também preocupado com o prazo de validade de alguns artigos, Pepe Faro, dono da empresa, decidiu retirar suas compras do porto, mas ainda não pagou os fornecedores. "Vou esperar mais tempo e ver se essa cotação fica mais favorável", diz Faro. A decisão, porém, terá um custo. "Vamos pagar juros ao fornecedores", explica ele. As taxas cobradas pelos europeus, no entanto, compensam. Segundo o empresário, elas costumam variar de 4% a 5% ao ano. 

 

O empresário Pedro Joanir Zonta, presidente da rede de supermercados Condor, do Paraná, conta que os contratos que possuía em dólar foram cumpridos e a empresa suspendeu compras externas, à espera da queda do dólar. No entanto, segundo ele, as importações para o Natal foram fechadas antes da alta da moeda. "No pico da cotação, já estávamos com as mercadorias desembaraçadas". 

 

Zonta acrescenta que apenas chocolates e outros itens perecíveis ainda vão chegar. "Mas se houver repasse de preços, pelo que temos em casa e pelo que ainda vai chegar, será de cerca de 5%", afirmou. O Condor faz importações diretamente dos fornecedores e o pagamento normalmente é feito no embarque das mercadorias, na origem. Compras de mercadorias de bazar produzidas na China, por exemplo, são feitas com seis meses de antecedência e foram fechadas com dólar de R$ 1,55 a R$ 1,70. Das mercadorias disponíveis nas gôndolas do Condor, 12% são importadas. A importação cresceu 38% em 2008 na comparação com 2007. 

 

Veículo: Valor Econômico


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