Venda à vista é opção do varejo contra a crise

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Para manter o ritmo de vendas elevado em um momento em que o consumidor já indica receio frente à crise internacional, o varejo decidiu incentivar as vendas à vista e reduzir o número de parcelas para os itens mais baratos. Esta foi a alternativa encontrada por Manoel Amorim, presidente do Ponto Frio, a segunda maior rede de eletroeletrônicos e móveis do País. "Temos de ser mais parcimoniosos em relação ao crédito e gerir o negócio com mais responsabilidade", apontou Amorim, em entrevista ao DCI. A afirmação traduz o comportamento dos empresários ligados ao varejo diante do cenário de incerteza que ronda o País.

 

Como a oferta de crédito está limitada em todas as esferas, desde o início do mês a palavra de ordem no Ponto Frio, principal concorrente de redes como Casas Bahia e Magazine Luiza, é vender à vista. Segundo o presidente da empresa, "no início de outubro esta modalidade de venda cresceu 5% e já representa 42% do total comercializado na rede". Outra medida foi reduzir o número de produtos vendidos a prazo, assim como o número de parcelas e o crédito ao cliente.

 

"Esta é uma saída para fugirmos da inadimplência, pois a população se endividou muito nos últimos anos. Até o momento, a estratégia de oferecer preço competitivo para compras de pagamento imediato tem dado certo", avaliou Amorim. Para ele, o importante é demonstrar pânico diante do cenário internacional, pois no exterior a situação chegou a um nível irracional.

 

Mesmo com as condições de financiamento mais apertadas e os juros mais altos, o presidente do Ponto Frio disse que "ainda não sentiu nenhum arrefecimento nas vendas" e que continua a financiar as compras dos clientes em até 18 vezes. "É responsabilidade do governo e do empresariado agir com prudência por um lado e com serenidade pelo outro", disparou Amorim.

 

A respeito das negociações com os fornecedores, o executivo disse ter passado a pedir prazo maior para pagar, de 60 para 90 dias. "Trabalhamos com o dólar a R$ 2,00, por isso, o aumento de preço não deve passar de 10%, exceto aqueles que dependam muito de componentes importados", analisou o presidente da rede Ponto Frio.

 

Estoque

 

A paulista Lojas Cem disse que já está abastecida com produtos em estoque até janeiro e que comprou tudo o que precisava este mês. Valdemir Colleone, diretor da rede, relata que a queda-de-braço com a indústria está mais acentuada nos últimos meses. "Os fornecedores de fornos de microondas e videogames querem repassar toda a oscilação do câmbio, em torno de 30%. Se o consumidor não tem reposição salarial neste patamar, ele não terá como comprar a este preço", pontuou. A varejista está com estoque menor desses produtos, mas nada que prejudique as vendas, garante Colleone.

 

O diretor conta que as compras são feitas quase que mensalmente e o estoque dura cerca de 50 dias. "A margem com que trabalhamos para vencer a batalha com os fornecedores independente da alta do dólar: sempre fazem modificações na tabela." Segundo ele, os preços foram os mesmos praticados nas compras dos dois últimos meses.

 

Para o Natal, a meta de crescimento nas vendas da Lojas Cem foi revista. No início do ano, a empresa acreditava em uma elevação de 15%, mas diante do cenário de cautela, espera volume 10% maior em comparação com o ano passado. A rede prevê fechar o ano com 175 lojas e para 2009 mantém o plano de abrir mais dez. A expectativa é faturar R$ 1,4 bilhão em 2008, valor 12% maior que o registrado ano passado.

 

A concorrente do setor, a mineira Ricardo Eletro, também revelou que está com seu estoque cheio para as vendas de fim de ano, tanto que na semana passada, fez promoções de itens de informática. A empresa garante que não vai aumentar o preço de nenhum produto desta linha e que até o momento mantém todos os investimentos para o ano.

 

Alimentação

 

No setor de alimentação e em doçarias, o impacto da restrição de crédito é menor do que no de eletrodomésticos, mas o período também é de mais cautela. É o caso da Kopenhagen, rede com cerca de 220 franquias e 34 lojas próprias no País. De acordo com Renata Vichi, vice-presidente da empresa, o momento é de espera. "Ainda não houve revisão de metas de crescimento e as negociações com fornecedores também não sofreram alterações", disse.

 

O otimismo é mantido para a época natalina, e a executiva não viu sinais de redução de pedidos por parte dos franqueados, tanto que espera alta de 12% nas vendas em relação ao ano passado. "Redes já consolidadas como a Kopenhagen devem sofrer menos com o período de turbulências porque têm dinheiro em caixa", analisa Renata. O plano de expansão da empresa para 2009 está mantido, com uma loja nova a cada 15 dias, sem depender de financiamentos.

 

"Acredito que se tiver um impacto ele virá depois, mas ter caixa ajuda, talvez tenha algumas empresas menores e outras que se precipitaram com a crise e tenham mais problemas", diz. Ao contrário de outras varejistas, a rede não intensificou a negociação por prazos com os fornecedores. No ano passado, seu faturamento foi de R$ 144 milhões e espera alcançar em 2008 R$ 156 milhões. E este valor será maior ainda no próximo ano, já que mais de duas mil pessoas têm interesse em ser um franqueado da Kopenhagen.

 

Na opinião do consultor Marcelo Cherto, sócio diretor do Grupo Cherto, "investir em franquia também é uma forma de imobilizar dinheiro e é mais seguro, por fazer parte de uma rede", explica. Para ele, o Natal poderá sofrer um pequeno impacto nas vendas, mas acredita que não sobrará estoque no comércio varejista e que as grandes redes estão mantendo seus planos. Ele também lembra que toda crise tem "efeito purificador", só permanecendo no mercado os mais fortes, o que ainda pode levar, no futuro, a um período de aquisições.

 

A Ofner, rede de doçarias com 17 lojas na Grande São Paulo, espera um Natal melhor do que o do ano passado e já aumentou a produção em torno de 10%.

 

Segundo o diretor comercial da marca, Laury Roman, a rede tem recursos para continuar a abertura de lojas próprias. Recentemente, por exemplo, inaugurou uma loja em Pinheiros com investimento de R$ 1 milhão. Mas o diretor é realista e acredita que inevitavelmente ocorre um impacto no consumo, afirmando que a preocupação pode ser o repasse de preços como o da farinha, o que faz com que suas margens sejam cada vez mais apertadas. Destaca, porém, que sempre há um limite para negociação com fornecedores.

 

Em momento de receio frente à crise internacional, o varejo decidiu incentivar as vendas à vista e reduzir o número de parcelas para os itens mais baratos.

 

Segundo Manoel Amorim, presidente do Ponto Frio, a segunda maior rede de eletroeletrônicos e móveis do País, esta foi a alternativa encontrada pelos varejistas para proteger o seu caixa."Temos de ser mais parcimoniosos em relação ao crédito", apontou ele, que viu as vendas à vista, em outubro, crescerem 5% e já representarem 42% do total comercializado na rede. "Esta é uma saída para fugirmos da inadimplência, pois a população se endividou muito nos últimos anos", avaliou Amorim.

 

Na rede de Lojas Cem, Valdemir Colleone, diretor, relata que a queda-de-braço com a indústria está acentuada, e os fornecedores de microondas e videogames, por exemplo, querem repassar a oscilação do câmbio, em torno de 30%. "Se o consumidor não tiver reposição salarial neste patamar, não terá como comprar ", diz. Ainda assim, a rede vai fechar o ano com 175 lojas e abrir mais 10 em 2009. A expectativa é faturar R$ 1,4 bilhão em 2008, 12% mais que 2007.

 

No varejo alimentício, a Kopenhagen, com cerca de 220 franquias e 34 lojas próprias, mantém o otimismo para 2008. "Redes consolidadas devem sofrer menos as turbulências, pois têm dinheiro em caixa", analisa Renata Vichi, vice-presidente. A empresa projeta alcançar R$ 156 milhões este ano.

 

Veículo: DCI


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