Fabricantes de papel e celulose perdem R$ 2,7 bilhões no trimestre

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Empresas enfrentam momento de queda da demanda e dos preços, além do crescimento da dívida em dólar

 

Há um mês, o cenário não poderia ser mais animador para o setor de papel e celulose no Brasil. Multinacionais européias e asiáticas estudavam fechar fábricas em outros países para investir aqui, aproveitando a boa oferta de matéria-prima - o eucalipto - para produção de celulose. As empresas brasileiras também haviam anunciado investimentos em novas fábricas nos próximos anos. E a VCP fechou um acordo para unir suas operações à da Aracruz, criando uma gigante mundial do setor. A expectativa era que o Brasil passasse, em pouco tempo, da 6ª para a 3ª posição entre os maiores produtores do mundo.

 

Hoje, o panorama é completamente diferente. Os resultados do terceiro trimestre anunciados pelas quatro maiores empresas de papel e celulose brasileiras mostram um prejuízo, somado, de R$ 2,7 bilhões - sendo R$ 1,6 bilhão da Aracruz, R$ 586 milhões da Votorantim Celulose e Papel (VCP), R$ 253 milhões da Klabin e R$ 293 milhões da Suzano Papel e Celulose, anunciado ontem. A súbita e elevada valorização do dólar frente ao real, segundo as empresas, foi o principal motivo dos prejuízos, ao elevar o endividamento em moeda estrangeira. No caso da Aracruz, essa perda foi multiplicada pelas operações com derivativos de alto risco, que acabaram sendo ainda motivo para a suspensão do acordo de união com a VCP.

 

O setor foi um dos que sentiram mais rapidamente as mudanças nos rumos da economia. Antes mesmo dos prejuízos serem anunciados, as empresas já diziam que iriam rever seu planejamento. A VCP adiou os planos de construção de uma fábrica no Rio Grande do Sul, que deveria começar a operar em 2011. A Aracruz adiou o projeto de ampliação da fábrica de Guaíba, também no Rio Grande do Sul. A Suzano anunciou a parada, por uma semana, da produção da fábrica de Mucuri, na Bahia, como forma de ajustar a produção à demanda. E a Klabin informou que vai investir menos que o previsto, tanto este ano quanto em 2009.

 

"O cenário para o setor de celulose vai ser catastrófico nos próximos meses", avalia Peter Ping Ho, analista da Planner Corretora de Valores. "O setor está vivendo o pior dos mundos, que é uma forte retração da demanda, especialmente na China, com a queda do preço da celulose no mercado internacional." O motivo dessa queda, diz, é o excesso de oferta do produto. Os estoques das empresas estão elevados - a média de duração dos estoques, que era de 30 dias, passou a 45 e, em alguns casos, a até 60 dias. Daí ações como a parada de produção da Suzano.

 

Nesse cenário, o dólar valorizado seria o único ponto a favor das empresas do setor, que exportam a maior parte da produção. "No entanto, o câmbio valorizado também traz um reflexo negativo para as companhias, como o aumento da dívida em dólar. Isso já ajudou a derrubar os lucros no terceiro trimestre", diz Elton Bicudo, analista da Tendências Consultoria.

 

Segundo Bicudo, 2009 ainda será um ano nebuloso para os fabricantes de celulose, com preços em queda e retração da demanda mundial, motivada pelos efeitos da crise financeira na economia real. "Um cenário provável é de os preços continuarem em queda e atingirem US$ 600, US$ 550 a tonelada (hoje, estão em US$ 760 na Ásia). Com isso, o setor vai crescer abaixo da expectativa", diz.

 

Apesar do momento ruim, analistas apostam que, no longo prazo, as perspectivas para o setor ainda são positivas. "O Brasil continua sendo o futuro da celulose. Os investimentos previstos não vão deixar de ser feitos, apenas postergados em razão da crise", diz Felipe Ruppenthal, analista do banco Geração Futuro. Segundo ele, o País ainda conta com as vantagens que há apenas um mês atraíam a atenção de grupos estrangeiros - maior rendimento por hectare de florestas plantadas, árvores de ciclo mais curto e áreas disponíveis para plantio.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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