Associativismo aproxima pequeno varejo da indústria

Leia em 3min 40s

Os dois check outs do minimercado Granja, localizado na zona sul de São Paulo, contabilizaram alta de 10% no lucro mensal, desde que a proprietária Cristiane Takagui resolveu, em julho, reformar o estabelecimento e associá-lo à rede Supervizinho, que congrega outras onze lojas de bairro.

"Sou a mais nova associada", contou Cristiane, "entrei porque minha empresa é pequena, com catorze funcionários, e eu tinha dificuldades de conseguir certos produtos, principalmente junto aos grandes fornecedores". Os lançamentos e mercadorias presentes na mídia eram os mais difíceis de se obter, segundo ela.

Contudo, hoje, o Granja tem acesso a esses produtos e ainda participa de campanhas institucionais, promovidas por fabricantes, além de ter direito a duas remessas de folhetos promocionais (tablóides) por mês, tudo pago pela indústria que antes não se relacionava com a loja.

"Agora tenho acesso às novidades, o cliente me vê de forma profissional - não mais como uma quitanda -, tenho tablóides e preços agressivos", afirmou Cristiane. E ela garante: não aumentou nem um por cento de seu custo operacional, exceto pelo pagamento da contribuição associativa, no valor de R$ 2.000.

Formada por estabelecimentos como o Granja, a rede Supervizinho reúne doze associados, 65 check outs e 350 funcionários. A associação faz parte de um modelo de negócios cujo mecanismo é fácil de entender: pequenas empresas se juntam, compõem pedidos volumosos e assim obtêm poder de barganha perante aos grandes fornecedores .

"Individualmente, a loja não tem cacife para conversar com a indústria e conseguir benefícios", afirmou o presidente da Supervizinho, Jorge Nagamine. "Em grupo, ela ganha uma atratividade que se aproxima do grande varejo". No caso da rede em questão, a soma das partes resulta numa renda mensal de R$ 85 milhões.

A Supervizinho faz parte de uma lista de 18 associações paulistas integradas por 296 lojas, que somam 1.746 check outs. A relação pertence ao Comitê de Centrais de Negócios da Associação Paulista de Supermercados (Apas), do qual a presidente, Lúcia Morita, também é uma pequena varejista que usufrui dos resultados do trabalho conjunto.

"Esse é um movimento que tende a crescer. A indústria, em vez de distribuir direto para o varejo, está optando por terceirizar cada vez mais distribuidores intermediários", analisou Lúcia, cuja loja Portal, na zona norte de São Paulo, teve aumento de 15% no faturamento anual. "Teve gente que cresceu de 15% a 20%", disse a empreendedora.

A média de crescimento no balanço para aqueles estabelecimentos que se associaram a alguma das redes paulistas é de 10%, de acordo com a líder do Comitê de Centrais de Negócios da Apas. "Cada rede trabalha independentemente, mas nós promovemos reuniões e fomentamos as negociações", explicou Lúcia.

O azeite Gallo, da Cargill, e o café Pilão, da distribuidora Sara Lee, são exemplos de mercadorias com os quais a loja passou a trabalhar, tendo recebido cerca de 10% de desconto, após ter entrado há oito anos para a rede Supervizinho. "Quando esses produtos vão para o tablóide, ficam ainda mais baratos", afirmou Lúcia.

Sobrevivêcia

Para especialistas em varejo consultados pelo DCI, o associativismo é uma das armas de que dispõem os pequenos lojistas contra a concentração do setor supermercadista no Brasil - atualmente em 49%, segundo cálculos oficiais, mas que tende a se intensificar, vide recorrentes ameaças de fusões e aquisições de grandes redes em âmbito nacional.

"Para os pequenos comerciantes se manterem vivos, eles precisam fazer compras e negociações em grupo, pois isso reduz preços logísticos, dando a eles chances de competir com os grandes", enfatizou o presidente da Cooperativa de Consumo (Coop), Antônio José Monte.

Segundo a professora Flávia Guisi, do Programa de Administração do Varejo (Provar), "na negociação com fornecedores, dificilmente as redes pequenas conseguem chegar num patamar de preços como o do Carrefour, mas os descontos obtidos mantêm as lojas firmes no mercado".

Flávia, que já defendeu uma tese sobre o tema, disse que na Europa as associações têm um perfil diferente. "É difícil encontrar o modelo brasileiro no mercado exterior, que tende à franquia. No Brasil, ainda há muito cara que está quase quebrando e só daí vai atrás do associativismo. Isso não é solução para problema de gestão!", destacou a especialista.

Ainda assim, o modelo se espalha pelo Brasil, de acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga), Álvaro Furtado. "Isso está acontecendo em todas as regiões do Brasil: supermercados se unindo em associações (formais ou informais) para negociar em escala com os fornecedores".


Veículo: DCI


Veja também

Gestora de recursos Polo entra no capital da rede varejista Casa & Vídeo

Depois de ser cobiçada pela Lojas Americanas e pelo banco BTG Pactual, a rede varejista Casa & Vídeo a...

Veja mais
Avessa à ideia de venda, rede BH prevê faturar R$ 1,8 bi

A expectativa de concentração do setor de supermercados em Minas Gerais, após a venda da rede Breta...

Veja mais
Serviço no estabelecimento eleva receita em 10%

Os supermercadistas estão subindo a receita com vendas aos consumidores, principalmente na prestaçã...

Veja mais
Indústria citrícola acende sinal vermelho no País

A industria citrícola brasileira, que está em um período de estagnação, precisa se re...

Veja mais
Lácteos levam ministro à Argentina

O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, vai pessoalmente à Argentina ajudar nas negociações das ...

Veja mais
Classes D e E aumentam gastos com chuteiras

As vendas de chuteiras de futebol caíram 30,2% no Brasil no primeiro semestre em relação ao mesmo p...

Veja mais
Preços de medicamentos variam 8,7%

Os preços dos dez medicamentos mais vendidos nas drogarias da região têm variação de 8...

Veja mais
Couro em recuperação

Exportações do produto crescem 29% em agosto frente a julho Não são apenas as vendas de carn...

Veja mais
Detalhes fazem a diferença

Garantir lucro com produção de leite requer observação constante das condições...

Veja mais