Inadimplência nas vendas a prazo registrou aumento pelo nono mês consecutivo, segundo dados da Confederação de Lojistas
Mesmo com o arrefecimento da expansão das vendas no comércio varejista, o consumidor brasileiro continua comprando acima da sua capacidade de pagamento, o que tem elevado a taxa de calote. Em outubro, a inadimplência nas vendas a prazo aumentou pelo nono mês consecutivo na comparação com 2010, de acordo com dados divulgados ontem pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL).
"O processo inflacionário vem corroendo a renda do trabalhador, principalmente a inflação dos serviços. Com isso, sobram menos recursos para o consumo de bens", afirmou o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro. A inadimplência nas vendas a prazo no comércio varejista subiu 5,9% em outubro, em relação a setembro. A evolução é dada pelo número de registros no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Para a CNDL, mais empresários registraram os débitos no SPC com a expectativa de que os consumidores quitem suas dívidas para voltar a consumir no Natal. Na prática, seria uma espécie de pressão para que os consumidores inadimplentes honrem seus compromissos e voltem a estar aptos para comprar no fim do ano.
Já na comparação com o mesmo mês de 2010, a inadimplência em outubro aumentou 4,78%, menos do que vinha crescendo até então. No acumulado do ano os calotes registram aumento de 5,21% ante 2010. Segundo a CNDL, a elevação é reflexo das medidas de aperto monetário tomadas pelo governo na primeira metade do ano.
Impulso. Para Pellizzaro, o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro salário em novembro deve impulsionar a chamada recuperação de crédito, medida pela quantidade de consumidores que conseguem limpar o nome no SPC. Mesmo assim, as vendas no Natal não devem ser tão boas quanto às do ano passado.
"Esperamos um Natal bom, com aumento de 6% a 7% nas vendas, mas aquém da expansão de 11% registrada em 2010, estimou o executivo. Segundo ele, as vendas de eletroeletrônicos devem ser as mais afetadas no período, mas o aumento do salário mínimo previsto para o começo do próximo ano deve assegurar parte das vendas a prazo.
As vendas parceladas cresceram apenas 1,86% em outubro ante setembro. O dado contabiliza o número de consultas ao SPC Brasil. De acordo com a entidade, a expansão se deveu à comemoração do Dia das Crianças, que "foi suficiente para manter a dinâmica comercial".
Setor está otimista, apesar da acomodação
Apesar da acomodação do mercado de trabalho e do rendimento da população, a confiança do empresário do comércio subiu 0,5% em outubro ante setembro, amparada nas perspectivas de juros mais baixos em 2012, que animaram os empresários.
A projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) é de um Natal positivo, mas com crescimento inferior ao de 2010. As vendas no fim do ano devem subir 5,6%, ante cerca de 10% registrado no Natal passado. O economista João Felipe Araújo, da CNC, afirma que o setor de duráveis, como eletrodomésticos e eletroeletrônicos, deve puxar as vendas, uma vez que manteve preços praticamente estáveis em 2011.
"Vai ser um Natal de duráveis - eletrodomésticos, televisores, computadores", disse Araújo, acrescentando que os semiduráveis, como roupas e tecidos, registraram aumento significativo de preços este ano.
No corte regional, o Norte e o Nordeste continuam sendo as regiões em que os empresários estão com o níveis de satisfação mais elevados, com 136,4 e 136,6 pontos, respectivamente. Sul (128,7 pontos) e Sudeste (126 pontos) são as regiões com a menor confiança. Segundo a CNC, todas as regiões apresentaram elevação na intenção de contratar.
Apesar da animação dos empresários, pairam dúvidas sobre o desempenho do comércio em 2012. Uma piora da crise na Europa pode afetar as vendas do varejo no Brasil, afirma Araújo: "O fator externo pode pesar muito. Se a situação lá fora se agravar, o dólar pode voltar a subir. Se isso acontecer, o cenário se complica bastante, porque o varejo depende da taxa de câmbio apreciada."
Na avaliação do economista, juros menores no ano que vem podem contrabalançar os efeitos da crise. "Para o ano que vem, o empresário ficou um pouco mais otimista porque está vendo uma taxa de juros real mais baixa ", diz.
Veículo: O Estado de S.Paulo