A divulgação da produção mineira é uma das principais estratégias para garantir o crescimento das confecções do Estado nos próximos anos, afirma o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário no Estado de Minas Gerais (Sindivest-MG), Michel Aburachid. Minas é um dos principais polos de moda do país e reúne 6 mil confecções.
Em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, o presidente da entidade destaca que o setor no Estado registrou resultados acima da média nacional em 2011. Apesar disso, o temor dos consumidores em relação aos efeitos da crise europeia na economia brasileira derrubou os negócios neste final de ano e as projeções são de repetir o faturamento de 2010.
Já para o próximo exercício as estimativas são de retomar o crescimento, apesar da cautela em relação ao cenário econômico internacional. As projeções apontam para incremento de 5% no volume de negócios na comparação com 2011.
Para continuar a crescer, a entidade trabalha em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) na formulação de uma nova feira para o setor. A Feira da Pronta Entrega deverá ocorrer simultaneamente com o já renomado Minas Trend Preview a partir de 2012.
Michel Aburachid é formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). O empresário está à frente de um dos mais tradicionais negócios do segmento, a Marcel Philippe, fundada em 1968.
Qual é o perfil da indústria do vestuário em Minas Gerais?
Na nossa base de atuação, que corresponde a cerca de 70% do Estado, são algo em torno de 6 mil empresas em operação, que atuam nos segmentos de moda casual, fashion, masculina, infantil, vestuário profissional e roupas íntimas, entre outros. Somente no ano passado o setor faturou R$ 1,5 bilhão.
Qual é o segmento mais forte?
Em Minas Gerais, a moda causal é a mais forte. Cerca de 60% das empresas instaladas no Estado atuam neste segmento. São as roupas do dia a dia, então o consumo é maior.
A cadeia têxtil é um dos principais empregadores no Estado. A indústria do vestuário acompanha este perfil?
As confecções possuem uma mão de obra muito extensa. As empresas são responsáveis por aproximadamente 180 mil postos de trabalho em Minas. Esta capacidade é resultado da característica do setor, que tem grande poder de gerar empregos com baixo investimento. Uma máquina em operação gera três empregos na indústria.
O Brasil, apesar do cenário adverso na economia internacional, ainda mantém uma mercado interno relativamente forte. Isto tem beneficiado as confecções em 2011?
Este perfil tem beneficiado toda a indústria. O setor do vestuário em Minas Gerais, em desacordo com o resto do Brasil, até setembro estava crescendo 5% no volume de negócios no acumulado do ano em relação ao mesmo intervalo de 2010. Já em outubro houve uma queda acentuada, mas mesmo assim ainda registramos incremento de 1% em relação ao ano passado, enquanto a média nacional é de retração de 8%.
A queda no volume de negócios neste final de ano foi provocada por quais fatores?
Eu acredito que talvez seja um receio do consumidor em virtude da crise que está ocorrendo na Europa. Existe o temor que esta crise venha para o Brasil, algo que ainda, em minha opinião, não está acontecendo.
Por que a crise ainda não se instalou no Brasil?
O país registra índices históricos de emprego. As empresas têm até dificuldade em encontrar funcionário. Para suprir a demanda, alguns setores estão buscando aposentados para trabalhar. Como um país com este cenário pode estar em crise? algo difícil. Além disso, as medidas do governo, que baixou os juros e anunciou a desoneração de alguns produtos, não deverão deixar que a crise alcance o país com violência.
Com a retração verificada no final deste ano, ainda haverá crescimento em 2011?
As nossas estimativas são de fechar este ano com os mesmos resultados verificados no ano passado.
Como Minas mantém esta disparidade com os resultados nacionais?
Desde 2003, o governo estadual e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) passaram a dar uma atenção especial para a indústria do vestuário. Apesar de empregar muito, o faturamento do setor é baixo. A gente não recolhe muito imposto, então éramos vistos de forma diferente, tanto pelo governo quanto pela Fiemg. Mas conseguimos mostrar a importância do setor na formação de mão de obra, divulgação da cultura, além da movimentação gerada em outros setores. Qualquer evento de moda que ocorre na cidade movimenta os restaurantes e hotéis, por exemplo. Então o governo começou a entender que, apesar de não recolher tributos diretamente, a indústria de moda ajuda bastante a economia.
A indústria do vestuário recebe benefícios em Minas?
O governo estadual tem apoiado da seguinte maneira: quando tem um Estado no país que incentiva o setor, nós vamos ao governo e mostramos estes benefícios, que imediatamente prepara um regime especial para o setor de forma que não percamos a competitividade.
Quais são os benefícios?
Recentemente, por exemplo, o governador Antonio Anastasia determinou a redução da alíquota do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), já em regime especial, para o setor. O imposto poderá alcançar no máximo 5%. A decisão foi tomada logo após São Paulo conceder este benefício para as empresas.
Qual o principal entrave enfrentado atualmente pela indústria do vestuário?
O que mais atrapalha atualmente é o câmbio, que é o problema de muitos setores no país. No caso do vestuário, houve uma redução significativa das exportações em virtude da desvalorização do dólar frente ao real. No momento em que o nosso cotação alcançar o patamar entre R$ 2,30 e R$ 2,40, vamos conseguir bons resultados. Se o governo pudesse monitorar, um pouco, o câmbio, realizando mudanças políticas que não permitissem um real tão valorizado, estaríamos em uma situação boa. Mas não sei se isto funcionaria na economia de um modo geral.
Apesar de o câmbio ser considerado um entrave, parte do empresariado brasileiro aproveitou a desvalorização do dólar para modernizar as linhas de produção, importando máquinas e equipamentos que não são fabricadas no país...
As empresas estão aproveitando para investir em novos equipamentos. Apesar disso, atualmente no Brasil temos uma grande produção de máquinas e equipamentos utilizados pela indústria do vestuário.
O setor encontra dificuldade de acesso ao crédito, tanto para investir quanto para capital de giro?
Conseguir o crédito mais barato é um pouco mais difícil pois a indústria do vestuário é considerada como setor de risco. Os bancos exigem muitas garantias para empréstimos maiores, acima de R$ 200 mil, e com maior prazo.
A concorrência chinesa é apontada como um dos principais entraves para a cadeia têxtil. O problema também é verificado no segmento do vestuário?
Enquanto na China o salário médio é entre US$ 30 e US$ 40, aqui no país pagamos para uma costureira cerca de US$ 400 e o custo total com esta mão de obra pode ultrapassar US$ 500. O governo tenta ajudar, mas esbarra no problema internacional em virtude de tratados que o país já assinou. O governo Lula, por exemplo, chegou ao máximo da alíquota do Imposto de Importação, que é de 35%. Mas os concorrentes internacionais, principalmente da China, ainda têm outros tipos de vantagens que não conseguimos acompanhar.
Como enfrentar este problema?
Em conversa com o embaixador da China, ele me explicou que no país asiático é necessário criar 10 milhões de empregos anualmente. Dessa forma, nós precisamos conviver com isso e encontrar formas de competir. Uma delas é fazer mais lançamentos durante o ano, com isso, pela distância, eles não conseguem nos acompanhar.
Quais são as perspectivas para 2012?
O nosso setor não é diferente dos demais. A situação atual é de expectativa, até mesmo o consumidor demonstra temor em relação a crise europeia. Todos questionam qual será o impacto deste cenário no país e se as medidas governamentais darão certo. O governo está reduzindo os tributos na tentativa de fortalecer o mercado interno e impulsionar a economia. Acredito que não é o momento de tirar o pé do acelerador, mas é um momento de atenção.
O setor deverá registrar crescimento no próximo ano?
Não deveremos verificar um incremento significativo no volume de negócios, mas poderemos alcançar um índice de 5% de crescimento na comparação com 2011. Para tal finalidade estamos desenvolvendo um planejamento para o setor.
Qual é o planejamento para manter o crescimento nos próximos anos?
Estamos estruturando o setor, que é muito pulverizado, colaborando com as empresas na indicação de gestores, na formação de mão de obra e na divulgação da marca mineira. A Fiemg também está ajudando. A federação, por exemplo, contratou um dos maiores especialistas de moda no país, Gustavo Lins, que irá ministrar cursos para as empresas mineiras. Ele é o único brasileiro com assento no Comitê Internacional de Moda.
A entidade pretende ampliar a agenda de eventos para divulgar a moda mineira?
A partir de 2012, iremos promover a Feira da Pronta Entrega e não vamos mais ficar somente com o Minas Trend Preview, pois o número de empresas neste evento é limitado, apenas grifes e empresas com maior desenvolvimento tecnológico, não a grande massa, que estará presente na Feira da Pronta Entrega. O cliente do Minas Trend Preview está comprando vestuários para uma estação do ano que irá começar em cerca de seis meses, então a Feira da Pronta Entrega poderá complementar o Minas Trend.
Onde será realizada a nova feira do setor?
Ainda estamos discutindo com a Fiemg o local, mas provavelmente será no Expominas. Durante uma semana Belo Horizonte vai ser a capital da moda com tudo aquilo que o cliente quer e precisa.
Veículo: Diário do Comércio - MG