A cadeia exportadora de frutas tem poucos motivos para comemorar. Fortemente dependente da combalida economia europeia e exposta a fatores como o câmbio apreciado e adversidades climáticas em culturas importantes como a maçã, o segmento viu os embarques de frutas frescas ao exterior no ano passado caírem ao menor nível desde 2002.
"O setor [exportador] de frutas não vive um bom momento", reconhece Maurício de Sá Ferraz, gerente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf). Em 2011, as exportações chegaram a 681,2 mil toneladas, queda de 10,2% sobre o ano anterior, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ibraf. As vendas não atingiam patamares tão baixos desde 2002, ano em que o país exportou 668,9 mil toneladas.
Apesar da redução dos embarques, as receitas com as frutas exportadas renderam US$ 633,6 milhões em 2011, 3,9% mais que os US$ 609,6 milhões do ano anterior, reflexo do "custo Brasil e do melhor preço alcançado por algumas frutas, como o limão tahiti", segundo Ferraz.
Da pauta de brasileira de frutas, maçã, banana e melão foram as que mais influenciaram a queda dos embarques ao exterior. Juntos, os três produtos deixaram de contribuir com cerca de 80 mil toneladas, se considerado o nível alcançado pelas três frutas em 2010.
No caso da maçã, cujos embarques recuaram 46,4% em apenas um ano, passando de 90,8 mil toneladas para 48,6 mil toneladas, o grande vilão foi o granizo, que prejudicou a safra de importantes regiões produtoras da fruta no Estado de Santa Catarina, fenômeno que deve se repetir neste ano, conforme mostrou o Valor.
As exportações de banana, por sua vez, passam por uma mudança mais estrutural, com a saída das multinacionais americanas do país. No fim de 2010, a americana Del Monte deixou de exportar bananas originadas no Brasil, onde enfrentou problemas trabalhistas, fundiários e ambientais. Com isso, os embarques da fruta caíram 21,1%, para 110 mil toneladas.
Já os exportadores de melão tiveram como principais obstáculos o câmbio desfavorável, que reduz a competitividade da fruta brasileira e a crise dos países da União Europeia, - a região responde por 98% das compras do melão produzido no Brasil. Além disso, fortes chuvas do início de 2011 no Rio Grande do Norte praticamente inviabilizaram os embarques entre janeiro e fevereiro. Ao todo, as exportações de melão no ano passado somaram 169,5 mil toneladas, queda de 4,6% em relação a 2010.
Fruta mais exportada pelo Brasil - em volume -, o melão poderia ter sofrido ainda mais, não fosse a quebra da produção espanhola, que estimulou as exportações da fruta do ano-safra 2011/12, que vai de agosto a maio. Ainda assim, "a dependência do melão no mercado europeu pode continuar trazendo problemas", diz o gerente do Ibraf.
Em meio aos resultados mais fracos, o destaque positivo ficou para o limão. No ano passado, as exportações cresceram 5,3%, para 66,4 mil toneladas. "A retomada do limão foi uma grande surpresa", afirma. Segundo Ferraz, a chegada tardia da safra brasileira resultou num maior volume disponível, estimulando as exportações típicas de fim de ano.
Já para 2012, as perspectivas para as exportações não são otimistas, e o fraco desempenho deve se repetir. "Não é um ano animador", diz Ferraz, ao explicar a dependência de 95% das exportações para o bloco europeu. "Com uma crise como essa, nossas exportações vão por terra. Além disso, já temos problemas de chuva fora de época na Zona da Mata, estiagem no Sul e chuvas no Nordeste".
Para o engenheiro agrônomo José Guilherme Nogueira, cujo mestrado discute as exportações de frutas frescas, a crise europeia revela a necessidade de as empresas brasileiras investirem em verticalização, com representações no exterior, e em estratégias de marketing, "para conhecer o perfil de seu consumidor no exterior". Além disso, diz ele, avançar nas exportações de frutas para mercados emergentes "como Oriente Médio, China, Índia e até a Rússia" é uma alternativa importante.
Ferraz diz que as exportações de frutas só não recuarão ainda mais por conta das "janelas" de mercado e pela influência do câmbio um pouco mais favorável.
E nem mesmo a robustez do mercado interno, que vêm absorvendo parte da produção nacional não exportada, anima. "Não adianta achar que vai desviar tudo para o mercado interno. Se eu despencar uma safra inteira aqui, vou ter problemas de preço", pondera Maurício Ferraz.
A força do mercado interno, inclusive, elevou as importações de frutas (22,8%). Em 2011, o Brasil importou 459,3 mil toneladas, gastando US$ 494,9 milhões. Com isso, e aliada à queda das exportações (ver gráfico ao lado), que se agrava desde a crise de 2008 - pico histórico das exportações de frutas -, o setor fechou 2011 com superávit de apenas US$ 139 milhões, ante US$ 242 milhões do ano anterior.
Veículo: Valor Econômico