A fabricante de calçados Alpargatas sofreu mais um trimestre com a pressão de custos da sua principal matéria-prima: a borracha. O resultado disso foi uma queda de 10,4% no lucro líquido, para R$ 78,2 milhões, apesar de um crescimento robusto em receita na comparação com um ano antes.
A receita líquida da empresa cresceu 17%, para R$ 648,9 milhões. "A base de comparação [primeiro trimestre de 2011] é bastante elevada. Por isso, consideramos o nosso desempenho forte", afirmou o presidente da companhia Márcio Utsch, em entrevista ao Valor.
A margem bruta da companhia recuou 2,4 pontos percentuais, para 44,3%. Houve impacto do aumento dos custos com mão de obra, mas o grande vilão foi, de novo, a borracha, commodity que vive um ciclo de alta desde meados da segunda metade do ano passado. "A alta volatilidade ainda continua neste trimestre [o segundo]", disse.
Diante disso, a companhia tem se empenhado em minimizar os efeitos dos altos preços da borracha em suas margens. "Desenvolvemos técnicas para fabricar o mesmo produto consumindo menos matéria-prima", diz Utsch. A empresa está investindo em novos equipamentos e focada no controle das suas despesas.
Segundo o executivo, alguns impactos dessas iniciativas já podem ser observados na evolução das margens bruta e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) da companhia em relação ao quarto trimestre de 2011, quando o patamar de preços do algodão esteve tão alto quanto nos primeiros meses do ano. Nessa comparação, a margem bruta cresceu 2,3 pontos percentuais, para 44,3%, e a Ebitda avançou 4 pontos percentuais, para 16,4%.
Para Utsch, esses números sinalizam que a Alpargatas tem sob controle a sua eficiência operacional, mesmo em condições mais adversas provocadas pela instabilidade de preços da borracha. E o aprendizado ficará para quando o ciclo de alta se reverter, salienta o executivo. "É como na época do apagão. Até hoje tem gente que aprendeu a trabalhar com luzes apagadas", compara.
Considerando apenas a operação da Alpargatas no mercado nacional, a receita alcançou R$ 462,6 milhões, em alta de 22,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Foram comercializados, no Brasil, 52,25 milhões de unidades de calçados, ou 10% a mais do que um ano antes.
Já no mercado internacional, onde a empresa tem se esforçado para ampliar sua operação, a receita cresceu 5%, para R$ 184 milhões, com a venda de 9,63 milhões de pares.
"Estamos nos preparando para a entrada em novos mercados", disse Utsch, preferindo não especificar os países. As exportações da companhia cresceram 24% no trimestre. No período, a empresa começou a venda da marca Dupé para Arábia Saudita, Ucrânia e Marrocos. Atualmente, a Alpargatas tem operação própria na Argentina, Estados Unidos e Europa.
Com redução do seu endividamento e aumento do caixa, a companhia encerrou março com posição financeira líquida em R$ 439,2 milhões, superior aos R$ 373,8 milhões de um ano antes. O saldo de caixa ao fim do trimestre era de R$ 680,7 milhões.
Veículo: Valor Econômico