A Nestlé, maior companhia de alimentação do mundo, decidiu entrar firme no nicho da nutrição esportiva, vendo bons negócios na oferta de "alternativa inteligente e honesta" ao doping. Richard Laube, CEO da Nestlé Nutrição, disse que "não existe poção mágica", mas que a empresa pode dar um "empurrão" para os atletas se superarem de "maneira limpa".
"Uma boa alimentação pode melhorar a performance física de forma muito mais importante do que se reconhecia até agora e essa é uma área de crescimento de negócios", afirmou.
O mercado de nutrição industrial é estimada globalmente em 130 bilhões de francos suíços por ano. Desse total, a Nestlé espera faturar este ano 10 bilhões de francos em quatro áreas: 74% vem da nutrição infantil; 17% da área voltada a produtos e serviços para idosos, operados, diabete, oncologia, obesidade; 7% da gestão do peso corporal (programas personalizados; e 2% nutrição esportiva.
Globalmente, a nutrição de performance ou esportiva é estimada em 12 bilhões de francos suíços, cresce 6% ao ano e a margem de lucro fica próxima dos 15%. Nestlé tem uma fatia de apenas 200 milhões de francos suíços nesse nicho, com a marca PowerBar (barra de cereais, gel para substituir a água durante uma corrida e mais uma barra para reenergizar o corpo após uma competição.
Os planos são ambiciosos. De um lado, a companhia contratou o nadador americano Michael Phelps, com oito medalhas de ouro, como porta-voz da marca. E de outro, lançou ontem um novo programa de pesquisa sobre necessidades nutricionais específicas de atletas de diferentes disciplinas.
Em entrevista ao Valor, Laube lamentou que a companhia não possa fazer um acordo com a seleção brasileira de futebol. "Mesmo se é para ajudar no desempenho com uma nutrição correta, o pessoal do futebol quer muito dinheiro como patrocínio. Não dá".
Em contrapartida, observou que as seleções de rúgbgi da Austrália e da Nova Zelândia estão tirando proveito de conhecimento científico na nutrição, para balancear peso, velocidade, respiração e outros fatores que ajudam no desempenho. O objetivo da Nestlé Nutrição como um todo é alcançar crescimento de 10% ao ano e lucratividade de 20% em futuro próximo. Mas Laube alertou que não haverá aquisições. O objetivo é expansão orgânica a partir das marcas já existentes, e depois com o resultado de pesquisas.
Dois esportistas de elite participaram ontem de debate sobre alimentação e esporte, no centro de pesquisa da Nestlé, perto de Lausanne. A norueguesa Gunn-Rita Dahle, oito vezes campeã mundial de "mountain bike" (bicicleta de trilha), atribui 10% a 20% do sucesso esportivo a uma alimentação saudável. O alemão Faris Al-Sultan, campeão mundial de Ironman (competição de triatlo), pregou a importância da comida também após a competição. Para o britânico David Hemery, que foi campeão olímpico no México em 1968, na corrida de obstáculos de 400 metros, Nestlé está oferecendo "uma alternativa moral para atletas não enganarem com doping, mas a escolha final é sempre deles".
Pesquisas recentes mostram que uma combinação maior de glicose e frutose aumenta o desempenho físico em 8%, por exemplo. Mas Bruce German, professor da Universidade da Califórnia e consultor científico da Nestlé, alertou para os limites dos produtos para esportistas amadores.
"Pode-se encontrar a dieta ideal para cada um, mas a capacidade da nutrição para prevenir o estrago da inatividade é limitada. A alimentação correta não pode substituir os exercícios". Já a marcha para a vitória em esporte de elite é muito pequena, e uma diferença na alimentação pode ajudar. Ele alertou também para o limite dos próprios recordes esportivos. Segundo German, o máximo que pode ser melhorado no recorde da maratona (de 42,2 quilômetros) é reduzi-lo em quatro minutos. "O ser humano não é capaz de superar esse limite", avisou.
Veículo: Valor Econômico