Ainda que a maior parte das consultorias esteja prevendo um superávit mundial de açúcar na safra 2012/13 maior ou semelhante ao registrado no atual ciclo, que se encerra em setembro, começam a surgir projeções de que a próxima temporada pode ser de queda desse volume. Problemas climáticos na Índia, menor excedente exportável na União Europeia e maior demanda de importação da Rússia ajudam a justificar o cenário. O fato é que o mercado parece atirar no escuro. A diferença entre os números de superávit de açúcar divulgados até agora variam de 3 milhões a 9 milhões de toneladas.
A consultoria brasileira Datagro é a que traz, até agora, o menor número de superávit global. A empresa divulgou ontem que esse volume recuará 50,7% em 2012/13, para 3,06 milhões de toneladas. Depois da Datagro, a menor projeção de superávit, segundo fontes tradicionais do setor, é da Organização Internacional do Açúcar, que estimou em agosto uma sobra global 13% maior, de 5,86 milhões de toneladas no ciclo vindouro.
Além das conjunturas de outros países produtores, o presidente da Datagro, Plínio Nastari, acredita que a provável volta da mistura de 25% do anidro na gasolina no Brasil em 2013 trará uma pressão menor sobre o açúcar no país. "Se o retorno se confirmar, a demanda pelo biocombustível crescerá 2 bilhões de litros e pressionará menos a commodity", acredita Nastari.
Ele pontua, ainda, a perspectiva de um mercado externo mais robusto para o etanol de cana brasileiro - os EUA devem demandar 6,6 bilhões de litros do biocombustível em 2013. "Esse é o mandato americano para o etanol avançado no ano que vem. Obviamente, não haverá produto brasileiro suficiente para atendê-lo, mas certamente a oferta aqui disponível receberá prêmios atraentes sobre o preço", diz Nastari.
A consultoria não tem estimativa para a safra nacional do ano que vem, a 2013/14. "Mas, certamente será maior, dada a renovação e expansão de canavial feitas". Para este ciclo no Centro-Sul, iniciado em maio, no entanto, a Datagro revisou para cima a moagem de cana - de 508,7 milhões para 512,13 milhões de toneladas, reduziu em 1,36 milhão de toneladas a produção de açúcar, para 31,34 milhões, e elevou em 200 milhões de litros, para 20,51 bilhões de litros, a expectativa de produção de etanol.
Apesar do peso da conjuntura no Brasil - maior produtor mundial da commodity com um excedente exportável de 23,5 milhões de toneladas até abril de 2013, segundo a Datagro -, a aposta da consultoria na queda do superávit global tem por trás uma avaliação da condição dos outros países-chave do mercado mundial de açúcar, de acordo com Nastari.
Por isso, pela primeira vez a empresa enviou equipe própria de agrônomos para vistoriar in loco os canaviais indianos, o segundo maior produtor de açúcar do mundo. Por causa da seca prolongada no país, o diagnóstico neste momento, afirma ele, é de recuo de expressivos 2,35 milhões de toneladas, para 23,8 milhões de toneladas. "Por isso, a Índia deve ficar de fora do mercado de exportação".
Na União Europeia, a produção deve cair de 19,4 milhões para 18,3 milhões de toneladas, reduzindo também o excedente exportável em 2 bilhões de toneladas, devido aos menores estoques do bloco, na avaliação da Datagro. Na Rússia, o maior cliente do açúcar brasileiro, a produção passará de 5,1 milhões para 4,7 milhões de toneladas.
Na contramão está a China, cuja produção vai saltar de 11,52 milhões de toneladas para 13,75 milhões de toneladas, o que fará com que o país importe em 2012/13 apenas 2 milhões, em vez das 3 milhões de toneladas realizadas em 2011/12. A Tailândia, segundo a Datagro, seguirá como grande concorrente do Brasil com exportação de 8 milhões de toneladas, ante as 7,4 milhões de 2011/12.
Veículo: Valor Econômico