Como o próprio nome deixa claro, a rede varejista nordestina Ponto de Promoção, especializada em eletroeletrônicos, faz de tudo para o cliente não sair de mãos vazias do estabelecimento. Embora as táticas variem, a principal delas está estampada logo na entrada da loja digital da varejista: "Compre em até 12X sem juros no cartão e aproveite o frete grátis". A estratégia, pelo visto, funciona. "Mais de 80% das nossas vendas são parceladas no cartão", diz Francisco Florêncio, diretor-financeiro da rede.
Apesar do fomento às vendas, a prática traz efeitos perversos. "Isso engessa nosso fluxo de caixa e nos obriga a recorrer a adiantamento de recebíveis", diz Florêncio. "O custo desse adiantamento e o custo da captura da transação parcelada [maior que o da transação em parcela única] são embutidos no preço do produto para o consumidor", reconhece Florêncio.
Histórias como a do Ponto de Promoção explicam o número crescente de varejistas que vem batendo o pé para diminuir a venda sem juros. Além de varejistas regionais, duas grandes redes, o Magazine Luiza e a Fast Shop, montaram estratégias para fugir do parcelamento sem juros.
No caso do Magazine Luiza, a decisão, comunicada em agosto, foi de limitar as vendas sem juros no Cartão Luiza ao patamar de 15% das vendas totais. Na época, Marcelo Silva, diretor-superintendente da rede, afirmou que a limitação seria feita loja a loja.
"Vamos ter que atingir um patamar razoável. Vender em 10, 12, 18 vezes sem juros é bom para o consumidor, ele quer, mas não é sustentável para o varejo", explicou o executivo, em teleconferência com investidores. Procurada, a rede varejista preferiu não se manifestar sobre a decisão.
No caso da Fast Shop, a loja criou uma espécie de sistema próprio de parcelamento, alternativo ao parcelado sem juros. Basicamente, quanto menor o número de parcelas que o cliente faz, menor é o valor total que a varejista cobra pelo produto, em uma espécie de repasse para o consumidor da economia de custos com o parcelado sem juros e que estão embutidos no preço final da venda. Procurada, a Fast Shop também não disponibilizou um porta-voz.
Não é coincidência que as três lojas operem com eletroeletrônicos. É nesse segmento, e nos demais tipos de bens duráveis e semi-duráveis, que o parcelado sem juros mais alongou seus prazos, avalia Boanerges Ramos Freire, sócio da consultoria Boanerges & Cia. No caso do varejo de roupas, por exemplo, a venda é feita em até seis parcelas.
No Sul, com 190 lojas, a rede Berlanda também enfrenta o parcelado sem juros com a ressurreição do "carnezinho", que permite à loja cobrar juros. "Nossa sorte é que a procura por pagamento com cartões nas nossas lojas não é tão grande", afirma Nilso Berlanda, dono da rede. No parcelado sem juros do cartão, a loja só faz em três vezes. "O duro é fazer isso e ver a concorrência fazer em 11 vezes. Eu não posso, nem vou", diz.
Veículo: Valor Econômico