Os produtores gaúchos de trigo já comprometeram um terço da safra atual, em fase de colheita, com vendas ao mercado externo. Moinhos demonstram preocupação quanto a disponibilidade e preço do cereal, que apresenta cenário similar ao do milho, com quebras de safra internacionais, oferta ameaçada e supervalorização.
"As cotações do trigo estão tão atraentes que parte da produção - algo entre 800 mil e um milhão de toneladas - do Rio Grande do Sul, que deve produzir três milhões de toneladas, já foi vendida a outros países, num movimento inédito", diz o presidente do Moinho Pacífico (SP), Lawrence Pih.
Também no mercado interno, o preço favorece o triticultor, mas gera perspectivas negativas para a agroindústria. "Em 2013, o trigo ficará mais caro e mais escasso", prevê Pih, ao analisar os contextos nacional e global.
No Paraná, que já colheu 40% de uma safra estimada em 2,1 milhões de toneladas de trigo, mas não deve exportar este ano, os produtores adiavam a venda do cereal no início da colheita, à espera de mais valorização no mercado brasileiro (a tonelada bateu média de R$ 700 no estado), segundo a Organização das Cooperativas local (Ocepar), que abrange 62% da produção paranaense.
Até que leilões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) provocaram o seu efeito regulador. Com cerca de 500 mil toneladas de trigo em estoque, o órgão federal fixou preço médio de R$ 520 para a tonelada do cereal. O próximo leilão é no próximo dia 26, com 51,6 mil toneladas à venda, no Rio Grande do Sul.
"Até agosto e setembro, o produtor paranaense estava esperando por preços melhores. Mas, neste momento, ele está vendendo o trigo. Acontece que os leilões do governo pararam o mercado", diz Flávio Turra, o gerente-técnico de Economia da Ocepar, que reúne 35 cooperativas de trigo.
Atualmente, o preço do cereal é menor no Rio Grande do Sul, onde se concentram os leilões, do que no Paraná. O produto gaúcho está cotado a R$ 567 por tonelada, e o paranaense custa, em média, R$ 626, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
"A indústria está começando a se balizar pelo preço dos leilões", afirma Turra. "O produtor, no Paraná, continua pedindo R$ 650 por tonelada, mas ninguém compra", acrescenta. A área plantada do estado decresceu 22% entre a safra passada e a atual, ficando em 760 mil hectares.
A Ocepar defende que os estoques públicos sejam preservados para o período de entressafra (entre janeiro e agosto, com pico em maio), a fim de preencher o consumo mensal de 850 mil toneladas de trigo no Brasil, evitando a inflação e uma maior dependência por importações.
Mercado internacional
O Brasil importará, neste ano, sete milhões de toneladas de trigo, segundo Pih, do Moinho Pacífico. Destas, seis milhões virão de países do Mercosul, principalmente a Argentina, mas ainda deverá ser definido de onde virá o restante - Estados Unidos e Canadá são as fontes mais prováveis.
Com quebras de safra na Rússia, Ucrânia e Austrália, além da "contaminação" de preço das outras commodities (milho e soja), o preço do trigo atingiu patamares comparáveis aos de 2008, ano crítico. Hoje, o cereal está cotado acima de US$ 367 (mais de R$ 730) por tonelada no mercado global.
"O panorama é dificílimo para os moinhos brasileiros", lamenta Pih, considerando também o direcionamento da produção gaúcha para outros mercados.
O trigo argentino, por questões internas daquele país, encareceu: chega a Santos (SP) a US$ 370.
Veículo: DCI