Estiagem prolongada e alta dos custos reduziram a margem das processadoras e dos produtores rurais
Desde meados de julho, os pastos das regiões leiteiras em São Paulo, no Centro-Oeste e Minas Gerais andam secos. O reflexo pode ser percebido na indústria, como é o caso da BRF. No primeiro semestre,o setor de lácteos da companhia registrou variação de margem negativa, em 0,7 pontos percentuais, graças à queda de 5,6% na margem da divisão seca — leite UHT, em comparação com o primeiro semestre do ano anterior.
O início da estiagem naquele período, somado à alta dos preços do milho e soja—usados na alimentação das vacas leiteiras, frangos e demais bovinos — gerou aumento dos custos para a companhia. “O impacto foi tão grande que precisamos reajustar nossos preços no varejo”, declarou Fay durante divulgação dos resultados da companhia.
Segundo Laércio Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Leite Longa Vida, os estoques da indústria estão nos níveis mais baixos dos últimos 12 meses. O executivo também é presidente da Laticínios Jussara, oitava maior processadora no Brasil, com 292 milhões de litros produzidos em 2011. Ele explica que a estiagem acontece todos os anos, durante o inverno, mas neste ano a situação se complicou um pouco, já que o início da entressafra — quando a produção de leite é menor — no Sudeste e Centro- Oeste atrasou e deve terminar em meados de outubro. “Neste ano, além da nossa estiagem, sofremos com os efeitos da seca nos Estados Unidos também.”
Odorico Alexandre Barbosa, diretor superintendente da Jussara, explica que a média diária de captação da companhia caiu 30% neste ano, acima dos patamares normais, entre 15% e 20%. Segundo ele, as primeiras chuvas já caíram recentemente, “mas ainda são insuficientes”. A companhia, que geralmente trabalha com estoque para 20 dias, atualmente tem reserva de leite para uma semana.
O mercado do longa vida cresce, mas a taxas menores do que em 2011, quando subiu 7%. A expectativa da ABLV é encerrar o ano com alta de 5%. Por ano são produzidos cerca de 5,3 bilhões de litros e o faturamento em 2011 bateu os R$ 10 bilhões.
Apesar disso, o aumento dos custos para os produtores rurais aumentou e a margem de lucro diminuiu . “Tem produtores trabalhando com retorno abaixo do custo, não fecha a conta”, diz Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil. Odorico explica que a Jussara reajustou em R$ 0,02 o valor do litro pago ao produtor, “mas a soja e o milho aumentaram 80% no mesmo período”. Laércio, da ABLV, afirma que o setor vem batalhando para reajustar novamente os preços aos varejistas e pagar mais ao produtor, mas é uma negociação difícil, já que o varejo teme a queda no consumo.
Na Itambé, a produção segue normalizada, diz Ricardo Cota, diretor de relações institucionais. “Por aqui, corre tudo dentro do previsto, já esperávamos a escassez de leite”, diz. O executivo também afirma que o reajuste de preços é um desafio. “Apesar do mercado estar aquecido, não estamos conseguindo aumentar os preços.”
Veículo: Brasil Econômico