No começo do ano, quando apresentou a nova linha Bravia de televisores, a japonesa Sony anunciou também a decisão de dobrar a produção de aparelhos de LCD no Brasil até 2009. Só este ano, na fábrica de Manaus, a empresa dobrou o número de funcionários, atingindo cerca de 2,2 mil. Mas o plano durou pouco. Com o agravamento da crise financeira internacional, a partir de outubro, a fábrica da multinacional instalada no pólo da capital do Amazonas iniciou demissões e corte de produção.
Segundo João Brandão, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do estado, foram 300 demissões no começo de outubro, 450 no final do mesmo mês e outras 350 no mês passado. Até agora, em relação ao começo do ano, a empresa trabalha com 50 funcionários a menos e a produção está cerca de 30% menor.
A multinacional emitiu um comunicado ontem afirmando que "em função da situação econômica mundial, é necessário fazer uma redução no quadro da fábrica de Manaus a fim de adequar os volumes produzidos e em estoque à demanda do mercado atual".
Segundo o comunicado, a empresa "buscou tomar outras medidas a fim de minimizar a redução de quadro, como a ampliação das férias coletivas de final de ano para todo o mês de dezembro, mas mesmo assim alguns cortes foram inevitáveis".
A Sony não confirmou os números do sindicato até o fechamento desta edição.
Crise global
Mundialmente, a empresa anunciou ontem que vai eliminar 8 mil empregados até 2010, restringirá investimentos e deixará negócios para economizar US$ 1,1 bilhão por ano.
"Essas iniciativas são em resposta as repentinas e rápidas mudanças no cenário econômico global", disse a empresa, em comunicado. No mundo todo, a Sony emprega aproximadamente 160 mil pessoas.
A multinacional japonesa indicou a necessidade de reestruturação em outubro, quando cortou em mais da metade sua perspectiva anual de lucro, culpando a desaceleração da demanda pelos televisores com tela de cristal líquido da linha Bravia e por câmeras digitais Cyber-shot. A empresa também citou um iene mais fortalecido como razão.
"Os números parecem grandes, mas essa redução de funcionários não será suficiente. A Sony não tem nenhum negócio de núcleo que gera lucros estáveis", disse Katsuhiko Mori, gerente de fundos do Daiwa SB Investments.
Também no comunicado, a Sony afirmou que irá aumentar os preços de alguns produtos eletrônicos na Europa em resposta a um euro mais fraco.
Fechamento de fábricas
A empresa também informou que vai fechar 10% de suas 57 fábricas até o fim do ano próximo ano fiscal, em 31 de março de 2010. Até o final deste ano fiscal, em 31 de março de 2009, a Sony pretende fechar duas fábricas fora do Japão, incluindo uma unidade de produção na França.
Os problemas econômicos não afetam apenas a Sony. A rival japonesa Panasonic diminuiu suas perspectivas de lucro no último mês, enquanto a sul-coreana Samsung informou na última segunda-feira que cortará os investimentos em capital e alertou sobre os tempos difíceis.No começo do ano, os planos para a operação brasileira da Sony eram ambiciosos. Koji Ishikawa, vice-presidente da empresa para América Latina, chegou a afirmar durante o evento de lançamento da linha Bravia que a meta era colocar o Brasil entre os dez principais mercado globais para a empresa até 2009. "O mercado está aquecido, precisamos garantir a demanda", explicou Marcus Trugilho, gerente de comunicação e propaganda da Sony Brasil, na ocasião. Em 2006, a Sony registrou faturamento de US$ 437 milhões no Brasil.
Mercado brasileiro
A Sony fechou 2007 com 15% de participação no mercado de LCD no Brasil, segundo dados fornecidos pela própria empresa. No ano passado, a produção de televisores de LCD totalizou 803,5 mil unidades, de acordo com dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Com 15%, a Sony foi responsável por aproximadamente 120 mil unidades do total.
Até o mês de setembro deste ano, a produção de LCD na Zona Franca de Manaus foi de 1,7 milhão de unidades. No final de 2007, a empresa abandonou a produção de televisores com tubo (CRT).
Veículo: Gazeta Mercantil