Brasil tem deficit comercial com o país vizinho pela 1ª vez em mais de 3 anos
Barreiras são entrave para indústria, que tem baixa competitividade externa e depende mais do mercado local
As barreiras comerciais impostas pelo governo Cristina Kirchner inverteram as posições do Brasil e da Argentina no comércio exterior.
No mês passado, os argentinos registraram superavit comercial com o Brasil pela primeira vez desde junho de 2009, quando os vizinhos também impuseram barreiras às importações para proteger a indústria local.
Segundo dados oficiais, o Brasil teve deficit de US$ 42 milhões no comércio com a Argentina em outubro, com forte queda das exportações.
Desde fevereiro, a Argentina adota um sistema de licenças não automáticas para as suas importações. Cada compra deve ser submetida governo local, que tem o poder de vetar as operações.
A medida protecionista fez as exportações brasileiras para a Argentina caírem 20% de janeiro a outubro, enquanto as importações de produtos argentinos recuaram 5%.
O saldo brasileiro no ano ainda é positivo, mas, de quase US$ 6 bilhões em 2011, está agora em US$ 1,8 bilhão.
Os setores mais afetados pelo protecionismo argentino são a indústria automobilística, a de máquinas agrícolas e a de partes e peças para veículos automotores.
Para José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), as barreiras argentinas são -ao lado da forte queda nos preços do minério de ferro- as principais responsáveis pela piora na balança comercial deste ano.
Até outubro, o superavit comercial é de US$ 17,4 bilhões, queda de 32% ante o mesmo período de 2011.
Com uma participação de 7% no total, a Argentina é o terceiro maior cliente do país (atrás da China e dos EUA), lidera a compra de produtos industrializados e é o principal cliente de São Paulo, o maior Estado exportador.
O mais preocupante é que há poucos países que podem substituir a Argentina no destino das exportações brasileiras. "Não tem outro mercado para os bens industrializados brasileiros", diz Castro.
"A indústria nacional vai ter de contar fundamentalmente com o mercado doméstico", diz o economista Fábio Silveira, da RC Consultores.
"É impossível entrar no mercado asiático e competir com eles nos EUA e na Europa", acrescenta.
LEITE DE PEDRA
O governo brasileiro tem buscado liberar produtos das licenças não automáticas de importação, mas ainda não obteve sucesso.
O assunto deve voltar a ser discutido nesta semana na Argentina em evento da indústria local que terá a presença das presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner.
A expectativa dos empresários para o afrouxamento do protecionismo, no entanto, é baixa. "Não adianta tirar leite de pedra. Eles vão criar limitações porque o superavit brasileiro os incomoda", diz Paulo Skaf, da Fiesp.
Veículo: Folha de S.Paulo