Em alta, tomate ganha companhia da vagem, da beterraba e da cebola, que sobem 55,7%, 49,7% e 26% em um mês no atacado
No ano em que a inflação impõe rigorosas dúvidas quanto aos rumos do índice, o dragão senta à mesa de almoço e desafia o governo federal a tirá-lo de lá. Incentivado por problemas climáticos, ele vê os custos de importantes produtos hortigranjeiros dispararem em ritmo acelerado. O vilão-mor é o tomate, cujo preço variou 17,2% na comparação entre fevereiro e março e 139,18% no acumulado de 12 meses, representando principal peso para a cesta básica do belo-horizontino, que, no mês passado, variou 3,35% no varejo, segundo informou ontem o Departamento Intersidical de Estudos e Estatísticas Socioeconomicas (Dieese). No atacado, o preço do tomate subiu 26,4% em um mês. Mas ele não está sozinho. Na lista de vilões do custo de vida entram vagem, beterraba e cebola, que, respectivamente, subiram 55,7%, 49,7% e 26% em apenas um mês no atacado, segundo números da Ceasa Minas.
Nos últimos meses, o entreposto de Contagem tem abastecido de forma contínua o varejo de outros estados (São Paulo, Distrito Federal e Bahia) para suprir as perdas com os danos causados pela chuva. Com isso, o volume ofertado pelos produtores mineiros têm sido insuficiente para abastecer as mesas do estado, o que força a elevação de preços. No mês passado, o tomate, por exemplo, teve queda de 15% da oferta na comparação com o mesmo mês do ano passado. Com isso, o produto ganhou “fama” até mesmo nas redes sociais, onde é comparado a itens de luxo e visto como moeda de troca para compra de carros e joias.
“O período é crítico para esse tipo de hortaliça. O clima tem contribuído bastante”, afirma o coordenador do Setor de Informação de Mercado da Ceasa Minas, Ricardo Martins. Devido ao movimento, o preço dos hortigranjeiros na unidade de Contagem está 40,8% acima do valor de comercialização em março de 2012. E o pior: “São produtos importantes e muito consumidos. O barulho feito é maior”, reitera Martins. A expectativa dele é de que a partir do mês que vem os preços iniciem trajetória de queda, com início da estiagem.
As fortes variações fazem com que consumidores se assustem ao ir às compras. No Mercado Central, produtos que compõem a saladinha de todo dia passam a valer o mesmo que carnes nobres, confirmando as altas registradas no atacado. O quilo do alho é achado por R$ 19,90, assim como o dos pimentões amarelo e vermelho. O quilo da vagem custa R$ 16,90, enquanto o do tomate caqui, R$ 14. A solução é “rebolar” para conseguir substituir. “Está um horror. Tem que tentar trocar. Com família grande, não dá para aguentar. O problema é de quem é vegetariano ou tem colesterol alto, como eu”, relata a aposentada Geralda Carvalho, cautelosa sobre quantos tomates levar.
Inflação O item teve a principal variação no mês passado entre os 13 produtos da cesta básica, o que contribuiu para que BH tivesse a quarta maior alta entre as 18 capitais pesquisadas, com aumento de 3,35% em março e de 24,16% em 12 meses. O crescimento desses itens vai pesar no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que deve ser divulgado amanhã.
No varejo, a consequência tem sido prejuízos e queda nas vendas. Com as chuvas, os produtos têm vindo com qualidade ruim e parte das caixas adquiridas no atacado são descartadas de imediato. “As vendas de alguns produtos diminuíram 40% nos últimos dois meses. As pessoas olham e deixam de levar”, afirma a supervisora da loja Legumes Adriano, do Mercado Central, Rosilane Martins. A estratégia encontrada por ela para atrair a freguesia é em vez de apresentar o preço do quilo se restringir ao valor de bandejas de 250 gramas, como no caso das bandejas de vagem.
Veículo: Estado de Minas