Grupo Nestlé investe cada vez mais na área de saúde

Leia em 3min 20s

O gigante suíço Nestlé, maior fabricante de alimentos do mundo, sinaliza que vai continuar investindo fortemente na sua evolução de grupo alimentar para a de "líder indiscutível" em nutrição, saúde e bem-estar, também para reagir a regulamentações crescentes de governos.

Peter Brabeck-Letmathe, presidente do conselho de administração da Nestlé, avisou aos acionistas, na assembleia geral realizada ontem em Lausanne (Suíça), que a indústria de alimentos no conjunto "é hoje questionada como nunca antes".

Segundo Brabeck, "a explosão de custos da saúde e a não viabilidade dos sistemas públicos de saúde vão aumentar mais a pressão sobre a indústria de alimentos".

A empresa diz estar melhorando o valor nutricional de seus produtos, reduzindo o teor de açúcar (de 15% na Suíça, por exemplo), de sal (10%) e de gorduras e ao mesmo tempo aumentando micronutrimentos nos cereais.

O objetivo agora é ir além das fronteiras da nutrição, e compreender melhor a interação entre alimentos, saúde, os genes e o estilo de vida, afirmou ontem Paul Bulcke, principal executivo da Nestlé.

Além de bilhões de dólares de investimentos anuais em pesquisa e desenvolvimento, a divisão Nestlé Health Science, criada em 2011, vem fazendo aquisições.

No ano passado comprou a empresa americana Accera, que fabrica produtos de nutrição clínica para tratar pacientes que sofrem de Alzheimer. Também formou uma associação com o grupo farmacêutico Chi-Med, controlado pelo bilionário Li Ki-shing, de Hong Kong, para desenvolver tratamento gastrointestinal baseado na medicina tradicional chinesa, à base de plantas.

Em novembro, a divisão de saúde da Nestlé comprou a Wyeth Nutrition, braço de nutrição infantil da Pfizer. Essa empresa realiza 85% de seu faturamento nos mercados emergentes. Um dos objetivos é crescer bem na China, a segunda maior economia do mundo.

A assembleia geral aprovou ontem a entrada da chinesa Eva Cheng no conselho de administração da Nestlé. A China tornou-se o segundo maior mercado da multinacional, e acionistas chineses têm agora 2,6% da companhia, na mesma faixa dos japoneses. Acionistas suíços têm 35%, e dos Estados Unidos, 26,5%.

O grupo faturou 92,2 bilhões de francos suíços no ano passado, com crescimento orgânico de 5,9%. O lucro líquido foi de 10,6 bilhões de francos (aumento de 11,8%) - 60% serão distribuídos em dividendos.

Bulcke comemorou o desempenho da empresa, diante dos acionistas, alertou que as dificuldades no contexto global ainda não acabaram e insistiu que a estratégia não muda.

Em fevereiro, analistas notaram desaceleração em mercados emergentes, que representam mais de 40% do faturamento do grupo suíço.

Ontem, a diretoria de Nestlé também recebeu sinal verde dos acionistas para seu pacote de remuneração referente a 2012. Mas deixou uma velada ameaça para a Suíça, que acaba de aprovar uma das mais duras regras para impedir "salários exorbitantes" de diretores de empresas e bancos no país.

Brabeck, presidente do conselho de administração, reclamou que na Suíça "o ambiente político e regulatório torna-se mais difícil para as empresas cotadas em bolsa".

O dirigente lamentou que a "simbiose frutuosa" da Suíça com as multinacionais instaladas no país tenha sofrido ultimamente "mais e mais pressões políticas, agravadas pela globalização irreversível da atividade econômica em geral".

Brabeck completou que a "Nestlé deseja continuar na Suíça", mas gostaria de se sentir bem acolhida "hoje, mas também no futuro".

Os acionistas aprovaram sem problemas o pacote total de Brabeck para 2012, de 6,97 milhões de francos. O CEO Bulcke recebeu 9,97 milhões, valor 1,6% maior.

Em meio à pressão sobre os grandes salários na Suíça, sobretudo no setor financeiro, acionistas do banco Julius Baer rejeitaram esta semana a remuneração de seus dirigentes.

No começo de março, 67,9% do eleitorado suíço aprovou uma iniciativa popular contra "remunerações abusivas" dos executivos, uma pequena revolução num país bastante liberal, alterando a relação de poder entre conselhos de administração e acionistas.

Durante a assembleia geral, uma representante de organização não governamental (ONG) acusou a empresa de não ter dado assistência a um ex-funcionário na Colômbia que acabou sendo assassinado. Brabeck desmentiu e perguntou: "Por que você quer jogar m... na empresa? Você é acionista ou o que?". Foi aplaudido.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Da roça ao consumidor na região, preço do tomate sobre três vezes

O tomate, ingrediente sempre presente nas mesas brasileiras, recentemente ganhou ares de artigo de luxo. O quilo do frut...

Veja mais
Hees vai do Burger King para a Heinz

A Heinz está contratando o diretor-presidente do Burger King, Bernardo Hees, para ser seu próximo CEO, num...

Veja mais
Empresa de Minas vai comercializar pudim com o Japão

Mistura em pó para o preparo do doce tem a marca Pratice Line.Há quatro anos Edmar Cerceau fez uma mudan&c...

Veja mais
Fraude afeta comércio de café no ES

O esquema de sonegação fiscal na comercialização de café que começou a ser des...

Veja mais
"Capital do tomate" vê produção cair pela metade

Depois de plantar tomate por mais de 15 anos em Goianápolis, cidade no interior de Goiás conhecida como a ...

Veja mais
Lácteos puxam alta global dos alimentos

Um forte encarecimento de produtos lácteos foi o principal responsável pelo aumento do índice de pr...

Veja mais
Desoneração depende de diálogo entre indústria e comércio

Publicada ontem, a portaria que regulamenta a desoneração dos smartphones fabricados no Brasil ainda depen...

Veja mais
Lojas de teles e varejistas em rota de colisão

O avanço das vendas de aparelhos celulares no varejo tem obrigado as operadoras de telefonia móvel a diver...

Veja mais
Política agrícola produziu escassez de alimentos

Os venezuelanos costumam reclamar que tudo o que põem no prato vem do exterior: bife, do Brasil; arroz, da &Aacut...

Veja mais