A Heinz está contratando o diretor-presidente do Burger King, Bernardo Hees, para ser seu próximo CEO, num sinal do que pode ser a primeira de muitas mudanças na fabricante de ketchup por seus novos controladores.
A companhia sediada em Pittsburgh, que também produz feijão cozido em molho de tomate, vinagre e o molho para macarrão, anunciou em fevereiro sua aquisição pela Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, e pela 3G Capital, firma de investimentos dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Os compradores observaram na ocasião que a Berkshire atuaria como sócia financiadora, enquanto a 3G administraria a Heinz. A nomeação é mais uma evidência de que a 3G terá uma atuação ativa na Heinz, em contraste com a abordagem tradicionalmente mais passiva de Buffett.
Hees, um brasileiro de 43 anos que também é sócio da 3G, foi nomeado diretor-presidente do Burger King depois que a empresa brasileira comprou a deficitária rede de lanchonetes de fast-food em 2010. Dali em diante, ele cortou custos, remodelou o cardápio da rede e lançou uma grande campanha de marketing para transformá-la em uma concorrente mais ameaçadora ao McDonald's, um rival de longa data.
As iniciativas prepararam o terreno para o retorno do Burger King ao mercado de ações no segundo trimestre do ano passado, numa operação que permitiu à 3G recuperar um valor maior que o investido e ainda se manter como controlador majoritário.
A estratégia de cortes de custos agressivos e reorganização de companhias, adotada pela 3G, levou a especulações de que a Heinz passaria por uma grande reorganização. Para tranquilizar os funcionários, a Heinz e a 3G observaram, quando o negócio foi anunciado, que com a fabricante de ketchup a situação seria diferente porque ela é uma empresa relativamente saudável. Mas as mudanças radicais que Hees supervisionou no Burger King durante sua curta passagem pela empresa podem ser, mesmo assim, uma pista para o que espera a companhia de alimentos fundada há 144 anos.
Na sede do Burger King em Miami, por exemplo, as salas dos executivos foram eliminadas em favor de espaços abertos. Hees senta-se em uma mesa próxima dos elevadores no sétimo andar, o que faz com que ele se pareça mais com um recepcionista ladeado por seus assistentes.
Um grande quadro à frente de sua mesa é atualizado com informações diárias sobre vendas e o trânsito de clientes, global e regional. Os executivos, incluindo Hees, possuem quadros codificados por cores ao lado de suas mesas, exibindo suas metas anuais. A ideia é que todos na companhia possam ver os objetivos de cada um.
Por enquanto, Hees continuará como diretor-presidente do Burger King e Bill Johnson continuará como diretor-presidente da Heinz, até a conclusão da aquisição. Johnson, que tem 64 anos e é o executivo-chefe da companhia há 15 anos, disse, quando o negócio foi anunciado, que não havia discutido seu futuro na companhia com os novos controladores.
Mas ele poderá ir embora com um total de US$ 212,7 milhões se for demitido. O número inclui US$ 40 milhões se ele decidir sair a qualquer momento e um adicional de US$ 16 milhões se for demitido. Johnson também teria direito a um pagamento de US$ 99,7 milhões em ações, além de US$ 57 milhões em benefícios de compensação diferidos que ele acumulou ao longo de seus 30 anos na Heinz.
A Berkshire e a 3G disseram que vão discutir com Johnson a sua permanência na companhia.
Os acionistas da Heinz deverão votar a operação em uma assembleia marcada para 30 de abril. O negócio deverá ser concluído no segundo ou terceiro trimestre e ainda aguarda a aprovação reguladora em alguns países e na União Europeia. As autoridades americanas já deram seu sinal verde.
No Burger King Worldwide, o diretor financeiro, Daniel Schwartz, passará a atuar como diretor operacional e depois como diretor-presidente em 1º de julho. Ele também é sócio da 3G.
Ontem, o Burger King informou que deverá divulgar uma queda de 1,5% nas receitas do primeiro trimestre dos restaurantes abertos há pelo menos um ano. O número é considerado muito importante porque exclui os efeitos das unidades abertas ou fechadas durante o ano.
Apesar das mudanças feitas por Hees, a segunda maior rede de hambúrgueres do mundo disse que precisa reforçar seu valor de uma maneira mais agressiva para competir com os concorrentes.
Veículo: Valor Econômico