Da roça ao consumidor na região, preço do tomate sobre três vezes

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O tomate, ingrediente sempre presente nas mesas brasileiras, recentemente ganhou ares de artigo de luxo. O quilo do fruto chegou a custar R$ 15 nos sacolões do Grande ABC, mas esse mesmo produto saiu da roça por R$ 5, ou seja, três vezes mais barato. "No preço triplicado há um claro componente de especulação", afirma o presidente do Instituto de Pesquisas Fractal, Celso Grisi. "O normal para esse tipo de produto é dobrar de valor entre a fazenda e o ponto de venda, talvez ir um pouco além do dobro em caso de grave escassez, mas triplicar tem a ver com movimento especulativo", completa o professor.

Vários foram os fatores que fizeram o tomate virar raridade. A equipe do Diário foi a Sumaré, cidade que tem grande produção do fruto no Estado, para descobrir onde está o gargalo. "Este ano foi atípico. A quantidade de chuva prejudicou o crescimento dos pés e favoreceu o aparecimento de fungos. A cada 1.000 pés de tomates, colhe-se 350 caixas. Neste ano, o volume caiu para 250, devido às perdas. Por isso, o preço subiu", justifica Jurandir Viel Junior, 34 anos, que há 16 planta o fruto.

"Antes da Páscoa, o preço chegou ao máximo de R$ 5 por quilo. No ano passado, nesta mesma época, vendíamos a R$ 0,75", compara o agricultor. "Mesmo assim, o valor que o consumidor pagou pelo item não se justifica", destaca o plantador. Ele argumenta que clima interfere na colheita e no preço do produto, afinal, quanto mais tomate, menor o preço. "É errado atribuir essa alta gigantesca ao produtor. O aumento do insumo ocorre durante a cadeia de logística."

Também com plantação na região de Sumaré, o agricultor Renildo de Jesus Noveleto, 45, defende que faça chuva ou faça sol, o preço do quilo do tomate dificilmente ultrapassa os R$ 4 na roça. "O lucro é muito baixo. Às vezes, só cobre as despesas."

ESCALADA - O alimento in natura começa a encarecer após a compra pelos comerciantes instalados na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), na Capital. Lá, eles têm o custo de lavar e separar a mercadoria por tamanho e qualidade, além das despesas fixas (impostos, funcionários, aluguel, etc) e o preço já sobe para R$ 6,30 o quilo.

Nesta fase a venda é feita em caixas e o produto é comprado por sacolões, mercados, restaurantes etc. "Os tomates vendidos na Ceagesp têm duas procedências possíveis: vêm direto do produtor ou são comprados dentro da Ceagesp por agentes que captam o produto junto aos fazendeiros e revendem para os boxes", explica o administrador do boxe Elo Fruit, David Ribeiro, 27 anos.

"Como os preços estavam altos nas últimas semanas, tive de revender sem colocar R$ 1 sequer de margem no preço, só para atender os clientes e mantê-los fiéis ao meu boxe", diz o comerciante.

O grande salto do preço do tomate ocorre entre os atacadistas, como o Ceasa (Central de Abastecimento) da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), e os vendedores finais. O consumidor do Grande ABC, por exemplo, chegou a desembolsar R$ 15 em sacolões da região e R$ 10 entre as redes supermercadistas pelo quilo do produto.

"O valor alto demais afugenta os fregueses", diz a comerciante Sandra Regina Perilo. "Os preços estão caindo, mas ainda estão longe do patamar do ano passado. Na Semana Santa, teve dia que fiquei sem comprar", afirma.
Além de vendas em caixas, alguns boxes do Ceasa comercializam o tomate por quilo, para varejistas que precisam de volume pequeno para se abastecer. Hilda Barros, dona de mercadinho em São Bernardo, comprou na quinta-feira o produto (tipo italiano) a R$ 5 o quilo e deve revendê-lo por R$ 7. Na semana anterior, desembolsou o dobro e teve de oferecer a R$ 12 aos clientes. "(Com a alta) os fregueses reclamam muito e compram só para enfeitar a salada", diz.

Preço cai nas últimas semanas, mas tende a subir com o inverno

O preço do tomate começou a cair em meados da semana passada no atacado e no varejo. Em boxe de venda do fruto, o atacadista Wilson Benedito Miranda diz que a situação melhorou. Ele se abastece diretamente com produtores em Apiaí (no interior de São Paulo) e na quinta-feira, comercializava o tipo Carmem por R$ 70 a caixa de 20 quilos. "Paguei R$ 60. No caso do tipo italiano de melhor qualidade o preço de compra era R$ 80 a caixa e R$ 90 na revenda." Nas roças de Sumaré a caixa saía por R$ 35 na quinta-feira.

Outro atacadista do Ceasa, Nelson Sakamoto, que compra na Ceagesp, estava comercializando o tipo italiano por até R$ 90 a caixa, tendo pago R$ 80. "Duas semanas atrás, chegou a R$ 150".

Mesmo com preços menores, vendedores do Ceasa e produtores de Sumaré dizem que os valores podem voltar a subir nos próximos dias por causa de frente fria que está chegando ao Estado. "No inverno o tempo fica seco e o gasto com irrigação é maior. Por isso, pode haver pequeno aumento da nossa parte", afirma o plantador Jurandir Viel Junior. O jeito é esperar para ver quanto os comerciantes vão reajustar o produto.

Trabalho duro que passa de pai para filho

Para chegar à mesa, o tomate passa por uma série de etapas que envolvem investimentos e muito trabalho duro. Para plantar 50 mil pés de tomate é necessário desembolsar cerca de R$ 100 mil. Depois de plantados, há gastos com mão de obra, adubo, defensivos agrícolas (produtos utilizados para controlar pragas), irrigação e manejo.


O agricultor Jurandir Viel Junior, por exemplo, tem plantação de 80 mil pés. A cada 1.000 plantas, colhe-se 350 caixas. "No meu caso, tenho 14 funcionários. Todos são assalariados, recebem cerca de R$ 900 e, em tempo de colheita, até R$ 1.400. Além disso, recebem parte do lucro, quando há."

Mas a vida no campo não é nada fácil. A experiência do agricultor foi passada pelo pai e pelo avô. "As plantações são heranças de pais para filhos." O tomate, assim como todos os produtos agrícolas, obedece aos períodos de safra. Junior conta que ele vende tomates cinco meses por ano. Nos outros sete meses, o agricultor utiliza o dinheiro que guardou nas épocas de colheita. "É preciso ter um grande planejamento financeiro", sem revelar quanto fatura no período de safra.

O fruto demora 90 dias entre o cultivo da semente e a colheita. Após retirar os alimentos dos pés, é necessário aguardar até quatro anos para plantar novamente o mesmo produto na terra. "Esse é o período que a terra demora para se fortalecer novamente. O tomate é muito sensível e delicado no cultivo. Geralmente, acabamos plantando no prazo de um ano e meio", conta o agricultor. Nesse período a opção é sair da própria terra e arrendar (locar) outros espaços para fazer o cultivo.

NA LIDA ­- A lavradora Milene Sueli Cardoso, 37, planta tomates desde os 10 anos. "Esse é meu sustento, é o que sei fazer. E gosto do que faço." Com filhos, Milene ajuda o marido, que trabalha em uma empresa, a complementar o orçamento familiar. "Hoje não dá mais para um só botar dinheiro dentro de casa. Preciso ajudar", explica ela, que trabalha no campo das 7h às 16h.



Veículo: Diário do Grande ABC


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