A inflação afeta o consumo das famílias mais pobres

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Em abril, as vendas do comércio varejista restrito cresceram apenas 0,5% em relação a março, e 6,4% em relação a abril de 2012, segundo o IBGE. Mas um indicador que merece maior atenção e análise foi o das vendas de hiper e supermercados que sofreram queda de 0,5% na comparação com as de março e de 5,5% em relação a abril de 2012. O enfraquecimento do comércio nesse setor revela a perda de poder aquisitivo das famílias de menor renda, que empregam a maior parcela dos seus salários na compra de gêneros alimentícios de primeira necessidade e de outros bens essenciais.

No longo prazo, as vendas ainda exibem um bom comportamento (+6,4%) quando se comparam os últimos 12 meses, até abril, com os 12 meses anteriores. Mas entre os primeiros quadrimestres de 2012 e 2013, a evolução positiva foi de apenas 3%. A tendência decrescente, neste ano, tem como maior responsável a inflação. Se os preços dos alimentos sobem acima dos preços médios, mas os salários são corrigidos pela média, as faixas de renda mais baixa são as mais afetadas. Há pouco a fazer contra a alta das commodities, cujas cotações dependem do mercado internacional.

A pesquisa sobre o comércio sugere que as faixas de renda mais altas são menos afetadas, pois, com a exceção do item hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, todos os demais mostraram comportamento positivo na comparação com abril do ano passado. Já na comparação entre abril e março últimos, também caíram os itens tecidos, vestuário e calçados (-0,5%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-1,1%).

A sustentação do desempenho positivo do varejo coube a artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e perfumaria e, em especial, aos veículos e motos, partes e peças - em geral, inacessíveis às faixas de baixíssima renda -, além de material de construção. São itens do comércio ampliado, com crescimento maior que o do comércio restrito.

Os incentivos creditícios à compra de eletrodomésticos anunciados pelo governo poderão, de fato, estimular as vendas, beneficiando mutuários do programa de habitação Minha Casa, Minha Vida. Mas os recursos virão do Tesouro, com o risco de maior desequilíbrio fiscal e de criação de novo foco inflacionário. Há profunda contradição entre decisões como essa e a reafirmação do compromisso com o "controle e combate da inflação".


Veículo: O Estado de S.Paulo


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