A Via Uno, que entrou em processo de recuperação judicial no último dia 4, decidiu rever a estratégia de mercado e vai começar a produzir calçados femininos de valor mais acessível. O reposicionamento da marca fará parte do programa de reestruturação dos negócios e de pagamento das dívidas que será apresentado aos credores até o início de novembro, disse ontem o administrador judicial da empresa, Laurence Bica Medeiros.
Segundo o advogado, a mudança de patamar não vai comprometer a qualidade dos produtos da calçadista, que detém também a marca Naturezza. O progressivo aumento dos preços ao longo dos últimos anos, para níveis superiores a R$ 200 o par, é visto no mercado como uma das razões para as dificuldades enfrentadas pela empresa, que se agravaram a partir de 2010 com a retração das vendas e a elevação dos custos de financiamento de capital de giro.
Outro motivo apontado para os problemas da Via Uno, a acelerada expansão da rede franqueada, já foi atacado, explicou o administrador judicial. O processo de franquias foi iniciado em 2004 e no fim do ano passado a empresa informava que tinha um total de 270 lojas, sendo 158 no Brasil e 112 em outros 25 países. Agora este número recuou para cerca de 100, sendo 30 próprias e 30 franqueadas no país e 40 franqueadas no exterior. "Foram excluídas lojas que não estavam dando o retorno esperado", disse Medeiros.
A dívida incluída na recuperação é de R$ 235,9 milhões, mas fora do processo ainda há operações de adiantamento de contratos de câmbio (ACC) e R$ 25 milhões a R$ 30 milhões em passivos fiscais. A maior parte dos credores é formada por bancos, incluindo Banrisul, Banco do Brasil, Banco Fibra e Banco ABC do Brasil. Depois vêm os débitos trabalhistas e com fornecedores. O edital com a relação dos credores está disponível na página do administrador na internet.
Conforme Medeiros, com o agravamento das dificuldades, o faturamento da Via Uno, que há dois anos chegava a R$ 30 milhões por mês, caiu para R$ 10 milhões mensais, a maior parte no mercado interno. Em setembro o valor ficou ainda mais baixo devido ao bloqueio de linhas de financiamento, mas após o deferimento da recuperação judicial o crédito começou a voltar. "O principal problema ainda é o capital de giro, mas a empresa está produzindo e os pedidos estão chegando", afirmou.
O fundador e presidente da calçadista, César Minetto, continua no cargo e a meta é retomar a receita mensal de R$ 30 milhões ao longo do período de recuperação judicial, que é de dois anos, afirmou Medeiros. A Via Uno tem fábricas em Serrinha, Valente e Conceição do Coité, todas na Bahia, mas a matriz e o centro de desenvolvimento de produtos ficam em Novo Hamburgo (RS). Por enquanto não há previsão de fechamento ou venda de unidades nem de redução do quadro de 1,8 mil funcionários.
Veículo: Valor Econômico