A proeza de levantar uma picape de cinco toneladas usando a cola Super Bonder, entrando para o Guinness Book, ou participar da prova mais complexa do Big Brother Brasil, pendurando os competidores de cabeça para baixo colados a uma tirolesa, são os indicadores mais recente da mudança que a alemã Henkel começou a operar internamente. O primeiro passo foi deixar de ser discreta e começar a reforçar a marca Loctite em todo o mundo, guarda-chuva para muitos produtos adesivos fabricados pela companhia, em um investimento milionário em marketing não revelado. O segundo passo - iniciado em outubro do ano passado, auge da crise financeira - foi a implantação de uma nova estratégia global, que visa reforçar os recursos humanos, ampliar a integração com clientes e, principalmente, elevar o potencial do negócio, criando novos mercados.
Segundo o presidente da Henkel para a América Latina, Julio Muñoz Kampff, a estratégia começou a ser elaborada bem antes da crise, mas começou a ser implantada no momento mais crítico. O ponto forte do triângulo montado pela companhia, ampliar mercados, coloca a América Latina no centro das atenções, uma vez que a região já elevou sua participação de 5% para 6% dentro do Grupo Henkel, que fatura € 14,13 bilhões. No primeiro trimestre, foi o único local onde o grupo registrou crescimento - alta de 5%, atingindo um faturamento de € 188 milhões - , superando até mesmo a Ásia. Em 2008, a receita somou € 780 milhões na América Latina, dos quais cerca de € 300 milhões vindos do Brasil.
"A região, e especialmente o Brasil, tem uma situação privilegiada em função do potencial do mercado. Modestamente somos bons", brinca o executivo argentino. Por isso, a empresa intensificou suas ações principalmente de treinamento para profissionais que usam os produtos da divisão de adesivos, responsável por cerca de 50% das receitas. O programa inclui até mesmo um caminhão que viaja o País inteiro ensinando marceneiros e pedreiros a utilizar produtos como Cascola e Cascorex, entre outros. Na outra ponta, aposta na Casa Cor para chegar a todos o níveis de profissionais cujo trabalho esteja ligado à construção civil.
"Queremos abrir novos mercados, apresentando a todos as novas tecnologias disponíveis no mundo e que também estão disponíveis aqui", diz Kampff.
A segunda parte do tripé prevê a integração dos grupos de trabalho globalmente. Assim, profissionais brasileiros podem trabalhar junto com talentos da companhia espalhados por todo o mundo. O terceiro ponto está na maior interação com os clientes, para "ouvir melhor suas necessidades" e desenvolver produtos compatíveis.
Com experiência de 133 anos de mercado, a companhia, que inventou o detergente líquido, não quer concentrar "todos os ovos na mesma cesta". Para isso, continua diversificando sua atividade de forma que atenda desde o consumidor final até as indústrias. Isso em todas as áreas de atuação, seja em adesivos e abrasivos (que são usados pela indústria automotiva e construção civil), linha cosmética profissional (com a marca Schwarzkopf) e, claro, detergentes (cujo nome principal é Persil). Kampff, porém, prefere não adiantar os planos da companhia, especialmente no que diz respeito a voltar ao segmento de detergentes no Brasil. Só afirma que a área de cosmética profissional continua reforçada, inclusive com treinamentos para profissionais de cabeleireiros em todo o País. "Nosso projeto é de longo prazo e avaliamos todas as possibilidades", diz o executivo, citando o caso da nova fábrica inaugurada em Manaus para a produção de pasta de solda voltada para o segmento de eletroeletrônicos.
Todas as mudanças, segundo o presidente da empresa, visam garantir a prosperidade dos negócios da Henkel em todo o mundo, especialmente nos mercados emergentes como o Brasil. País, aliás, que recebeu a primeira filial da Henkel no mundo nos anos 50, inicio da industrialização, com a vinda das primeiras fábricas de automóveis. "A América Latina é uma grande oportunidade e agora deve ganhar mais reforço", afirma.
Veículo: Gazeta Mercantil