A verdadeira crise econômica, pelo menos para o Pastifício Selmi, aconteceu no ano passado e já acabou. "A alta do trigo deixou a gente louco", diz Ricardo Selmi, presidente da empresa que é dona de duas das marcas de macarrão mais vendidas do país: Galo e Renata. "Agora, com os preços em patamares mais normais, estamos bem", afirma ele que projeta vendas 20% maiores em 2009 para a empresa de 122 anos que ganhará no ano que vem sua terceira fábrica, em Suape, no Pernambuco.
Selmi, que pertence à quarta geração da família fundadora do pastifício, diz que enquanto muita gente se descabelava com a queda das bolsas e a quebra dos bancos no último semestre de 2008, a companhia com sede em Campinas respirava aliviada. Com uma alta de 78% em 2007, o preço do trigo - a matéria prima das massas - continuou em disparada em 2008 até chegar, em março daquele ano, a U$ 1,32 o bushel (medida do setor que equivale a 27 quilos). Depois desse pico, o valor do grão foi baixando lentamente. Só chegou a níveis aceitáveis, entretanto, no fim do ano. Hoje, a cotação está em US$ 0,67.
"A crise internacional de agora é tradicionalmente boa para o setor de massas no mundo todo", explica Selmi. Com medo da situação econômica piorar, as pessoas cortam gastos como o de alimentação fora do lar e passam a fazer mais refeições em casa. Como as massas são uma das opções mais baratas (já que dispensa acompanhamentos), o consumo sobe.
Na Selmi, que fechou 2008 com vendas somando R$ 490 milhões, essa teoria já se refletiu nos primeiros números do ano. De janeiro até meados de maio, a empresa já vendeu 24% mais em volume que no mesmo período de 2008. Em faturamento, a alta fica em 20%.
Daqui até dezembro, a meta é manter o ritmo ou até melhorá-lo, uma vez que a empresa está lançando produtos novos, em segmentos nos quais ainda não atuava: a linha de biscoitos e de café. "Depois de mais de um século, estamos deixando de ser um pastifício para nos tornarmos uma empresa de alimentos", diz Selmi.
Na verdade, segundo ele, essa é uma tendência do setor. "Qualquer supermercado hoje tem um mix de produtos que vai de 10 mil a 15 mil itens. E esse número tende a aumentar", afirma. Por isso, é natural que os maiores fornecedores concentrem cada vez mais um maior número de produtos. "Se não for assim, como o varejista negociaria preço se cada um dos 10 mil itens tivesse um único fornecedor?", diz o empresário.
Além de diversificar a produção, a Selmi também quer se tornar, ao mesmo tempo, mais nacional e mais internacional. "Nossa distribuição é muito focada no Sul, Sudeste e Centro Oeste. Estamos no Nordeste há apenas dois anos."
Os estados nordestinos são uma região estratégica para quem produz massas. Segundo a Nielsen, é a região que mais consome massas no país - o equivalente a 27% da produção nacional. O estado de São Paulo vem em segundo lugar, com 24% e o Sul com 17%.
Esse perfil de consumo justifica o investimento inicial de R$ 20 milhões que a empresa está fazendo na nova fábrica de Suape, que terá obras iniciadas assim que as chuvas cessarem. A nova unidade produzirá 4,3 mil toneladas ao mês de massas secas longas (espaguete, por exemplo), cortadas (gravatinha) e também de macarrão instantâneo. As fábricas de Sumaré (SP) e de Londrina (PR) produzem atualmente 8 mil e 3,2 mil toneladas mensais respectivamente.
Além de abastecer o mercado regional, a unidade de Suape também terá parte de sua produção voltada para exportação. "O frete, a partir do porto de Suape, por razões geográficas, é bem mais barato quando as remessas são para Angola e para países do norte do continente, como a Venezuela", explica o presidente.
Veículo: Valor Econômico