O aumento dos preços do leite, comum nesta época do ano em função da entressafra, vem ultrapassando a média de alta verificada nos últimos anos. O vilão, neste ano, foi a estiagem, que consumiu as pastagens e baixou ainda mais o potencial produtivo dos animais. A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) estima reajustes médios de 8% a cada semana ao longo das últimas seis semanas. "O preço não deve passar desse nível, pois acima desse patamar será mais viável trazer o produto de outros estados e acredito que a indústria não permitirá que chegue nesta situação", disse o presidente da entidade, Antônio Cesa Longo.
A estiagem fez com que o preço do produto ficasse mais de 20% acima do valor praticado no mesmo período do ano passado. A Agas informa que entre abril de 2008 e abril deste ano o incremento foi de 26,84%. O preço atual deve se manter até agosto, estima o dirigente.
A Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado (Fetag) reclama que o incremento não tem sido repassado nas mesmas proporções aos produtores. O setor produtivo, segundo a federação, amarga uma queda média de 32% da produção, índice que em épocas de entressafra, sem o agravante da seca, não ultrapassa os 20%. "A situação é grave e é preciso que parte desse reajuste seja repassada ao produtor", avaliou o presidente Elton Weber.
Na tarde de sexta-feira, durante reunião do Conseleite, ficou estabelecido o preço consolidado do mês de abril, que fechou em R$ 0,61 para o leite padrão, que representou um acréscimo de quatro centavos em relação a março. No projetado de maio, o preço ficou em R$ 0,64, também com possibilidade de acréscimo em relação ao mês anterior. A representante da Farsul no Conseleite e presidente do Sindicato Rural de Ipê, Marta Guazzelli, afirma que os produtores esperavam por um reajuste melhor. "Os custos de produção estão muito elevados e ainda tivemos o problema climático. Esperamos que pelo menos se confirmem os valores de maio."
O presidente da Associação Gaúcha dos Laticinistas (AGL), Ernesto Krug, acredita que a tendência é de que nos próximos meses os aumentos sejam repassados gradativamente aos produtores, podendo chegar a uma média de R$ 0,67 em junho. "Essa medida é necessária, pois os produtores vêm desestimulados desde o ano passado, o que se agravou com a estiagem", avalia. Krug destacou a urgência da melhora dos preços, uma vez que a falta de pasto, mesmo que as chuvas se estabilizem e os produtores possam semear as forragens de inverno, pode ter reflexos até o período de entressafra de 2010. O efeito da indisponibilidade de alimentos na lactação das vacas e no nível de parição é muito grande, o que significa dizer que a reação em termos produtivos venha a ocorrer em um prazo de até um ano e meio. "Em 2008, crescemos 8,11% em termos de produção no Estado. Se os preços não reagirem de forma efetiva, esse índice pode cair a 2% ou mesmo chegar a zero", destacou Krug.
Veículo: Jornal do Comércio - RS