Com crise na Europa e nos EUA, varejo brasileiro está mais gringo

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Das 5 maiores redes de supermercados no país, 4 já são de capital estrangeiro

 
Na briga de gigantes varejistas, os brasileiros perderam a força. Tem gringo — muito gringo — nos supermercados do país. Se ainda duvidar, olhe ao redor. Se, no seu bairro, houver uma das cinco maiores grandes redes em atuação no país, há mais chances (80%, aliás) de ter bandeira estrangeira do que carregar o orgulho verde-amarelo. E não duvide se aquele mercado menor, típico de bairro, passar para as mãos de gente de fora. Para crescer, os estrangeiros estão cada vez mais de olho nessas redes menores, nos grupos regionais, que já têm ponto, estrutura e clientes batendo à porta. E, em tempos de crise nas economias desenvolvidas, as atenções se voltam para mercados emergentes, como o brasileiro.

Essa invasão de grupos globais é um processo irreversível no mundo e no Brasil. Vem com o pacote da globalização, dizem analistas. Em consequência, trazem inovação e profissionalismo a um setor fortemente marcado por empresas familiares, ao mesmo tempo, porém, em que engolem redes regionais.

— Os investidores veem no Brasil um mercado auspicioso, especialmente em tempos de crise. E o capital estrangeiro não faz mal algum. Já a concentração regional é muito danosa. O que muda se o Carrefour é dos franceses? Nada. Mas haveria fortes reflexos se o Carrefour se juntasse ao Grupo Pão de Açúcar — comentou Cláudio Felisoni, presidente do conselho do Provar (Programa de Administração de Varejo)/Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo).

Com crise, novas redes podem entrar no Brasil

Ao deixar pela última vez o grupo Pão de Açúcar, há algumas semanas, Abilio Diniz fez a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD) não ser mais uma companhia brasileira, caindo, de vez, no controle dos franceses do Casino. E, então, sobe de quatro para cinco o número de redes em atuação no país com gestão nas mãos de estrangeiros. Juntos, CBD, Carrefour, Walmart e Cencosud (dona do Prezunic) faturaram R$ 111,1 bilhões no ano passado, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Cifras que representam pouco mais da metade (50,8%) dos ganhos do setor em 2011.

A saída de Diniz fez a CBD mudar de lado no balcão, mas também fez da pouco conhecida gaúcha Zaffari — com lojas apenas em Rio Grande do Sul e São Paulo — subir para o topo no ranking das redes com capital 100% brasileiro. Com faturamento em 2011 de R$ 2,9 bilhões, a companhia é um retrato do abismo existente agora entre as redes brasileiras e as estrangeiras. Sem contar o faturamento do Prezunic, comprado em fins de 2011, a rede chilena Cencosud fatura quase o dobro da gaúcha Zaffari. E CBD, Carrefour e Walmart têm receita, juntos, de mais de R$ 100 bilhões.

— São modelos econômicos diferentes. Mas a gaúcha não é fraca, não. Com 29 lojas, fatura seus R$ 2,9 bilhões. Numa conta simples, se tivesse 290 lojas, faturaria R$ 29 bilhões. Já o Walmart, com 500 filiais, fatura R$ 23,5 bilhões. Quem é a mais competitiva? — ponderou um analista.

O Zona Sul, segunda maior rede do Rio (Mundial e Guanabara não informam números para a Abras e, por isso, não entram no ranking), é o 19 nacional e sempre consta da lista das possíveis aquisições, lembra Claudio Goldberg, da FGV.

Para entrar no mercado brasileiro, as marcas internacionais, em geral, optam por comprar redes menores e locais. Uma ação que, para alguns analistas, pode ser nociva aos mercados locais.

— Como um mercado sobrevive tendo o Walmart como vizinho? — questiona um analista.

Mas, ainda assim, cada vez mais redes têm se rendido às investidas de grupos internacionais. Caso do Prezunic, rede fluminense que sempre negou qualquer intenção de ser vendida, mas não resistiu à proposta dos gigantes chilenos — o negócio foi fechado por R$ 875 milhões.

Com a rede, que tem cerca de 30 lojas, a Cencosud faz sua estreia no varejo carioca. Mas não no país. A Cencosud chegou ao Brasil em 2007, com a compra da sergipana G.Barbosa. O que foi uma surpresa, pois muitos analistas jogavam suas fichas na compra da rede por Pão de Açúcar ou Carrefour. Erraram.

Em 2010, foi às compras mais uma vez, levando as redes SuperFamília, do Ceará, e Bretas, de Minas Gerais, além da Perini (delicatessen e docerias) na Bahia.

Especialistas lembram que outro candidato a compras seria o britânico Tesco.


Veículo: O Globo - RJ


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