Três lançamentos prometem agitar o mercado brasileiro. O sucesso vai depender do impulso das editoras para liberá-los em formato digital
Há pelo menos quatro anos os brasileiros ouvem falar nos leitores de e-books, aparelhos eletrônicos que podem guardar milhares de livros digitais. O primeiro foi lançado no Japão pela Sony, em 2005. Em novembro de 2007, quando a empresa de comércio eletrônico Amazon lançou o Kindle no mercado americano, o assunto tornou-se onipresente. Aquele aparelhinho branco, com a tela cinza e um pequeno teclado, aparecia em todo lugar, ostentando nas reportagens o poder quase sobrenatural de guardar todos os livros que você gostaria de ler.
Ao que parece, a espera acabou. Finalmente o modelo de negócios milionário atraiu a atenção dos fabricantes nacionais, e, até o começo do ano que vem, teremos ao menos três aparelhos como o Kindle no mercado brasileiro. A empresa Braview lançará as primeiras 1.000 peças de seu leitor de livros digitais, modelo BR-100-TX (espera-se um nome mais cativante até o lançamento). Vem quase todo de Taiwan e é apenas montado no Brasil. A capacidade interna é de 1 Gb, podendo ser expandida para até 4 Gb com cartão de memória. Significa que ele pode armazenar cerca de 500 livros. Se a leitura cansar, também toca música em formato MP3.
O primeiro genuinamente brasileiro chama-se Leitor-D e será posto à venda em 2010 pela empresa pernambucana Mix Tecnologia, com o triplo de capacidade do leitor básico da Braview. É também mais bonito. Botões podem parecer inúteis em um livro, mas são fundamentais para consultar o dicionário e acessar a internet. Assim como o Kindle, terá conexão sem fio à internet, o que vai permitir que se baixem livros sem a necessidade de ligar o aparelho no computador com um cabo.
O primeiro leitor de livros digitais no Brasil, o EbookReader, está à venda pela internet desde 2005, mas a tecnologia é ultrapassada. Não usa, por exemplo, a tecnologia E Ink (uma espécie de tinta eletrônica, que “imprime” cada página na tela e evita o desperdício de energia). É o que acontece nas telas do Kindle e de dois novos aparelhos brasileiros. Outro problema do EbookCult é a memória, que carrega até 30 livros por vez.
Vai dar certo por aqui? O modelo de negócios só pegou nos Estados Unidos por causa da “mãe” do Kindle: a Amazon. A empresa é a maior pontocom americana e começou na internet em 1995 vendendo livros. A vocação no mercado foi fundamental. Uma parceria foi firmada com as principais editoras e quase todos os lançamentos americanos têm livros em versão digital. Segundo especialistas, trata-se de um negócio que vai gerar US$ 1,4 bilhão em 2010.
ÉPOCA ouviu as principais editoras de livros no Brasil, e, até agora, não há nenhum projeto em andamento para o lançamento de edições digitais dos últimos sucessos. Ou seja, até que uma parceria como essa seja feita, nada de versões em português dos livros de Dan Brown, como O código Da Vinci, best-sellers da literatura vampiresca, como Crepúsculo, ou a franquia infanto-juvenil Harry Potter. Se achar esses lançamentos por aí – e uma rápida pesquisa no Google mostra quanto isso é fácil –, é pirataria. E pirataria é crime.
Com os leitores finalmente disponíveis no mercado brasileiro, a cifra americana de US$ 1,4 bilhão tem tudo para inflamar a imaginação das editoras e das varejistas on-line brasileiras com vocação para vender livros, como Saraiva e Submarino/Americanas. Enquanto isso não acontece, pode-se ler o que já está disponível. Todas as obras publicadas até o ano de 1922 estão em domínio público, ou seja, podem ser lidas, baixadas e trocadas livremente. É o caso dos grandes autores do Brasil e do mundo. Tudo entre William Shakespeare e Machado de Assis. Esse acervo está amplamente disponível na internet no formato PDF, tanto os nacionais como as traduções em português dos clássicos da literatura mundial. O principal acervo é do governo brasileiro, disponível no portal Domínio Público (dominiopublico.gov.br.)
A Fundação Biblioteca Nacional, sediada no Rio de Janeiro, colocou na internet boa parte de seu acervo de obras raras. Um dos exemplos é a primeira edição de Os Lusíadas, de Luís de Camões. Todas as páginas foram copiadas e reunidas em um arquivo PDF, para download gratuito. A obra não é encontrada nem no melhor dos sebos. Se o papo cabeça for muito cansativo, há ainda a opção de ler Paulo Coelho. O autor brasileiro de maior sucesso no mundo permite – e até estimula – a circulação livre pela internet de todas as suas obras. Dá para baixar sem peso na consciência.
Veículo: Revista Época